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Espanhóis desmontam rede que aliciava vítimas para prostituição no Brasil

Desta vez, eram rapazes na faixa dos 20 anos, a maior parte recrutada no Maranhão

postado em 01/09/2010 07:00

Alguns acreditaram na velha promessa de ser ;modelo e dançarino; na Espanha. Outros sabiam que se prostituiriam ilegalmente, mas não imaginavam que se tornariam literalmente escravos. A polícia espanhola desarticulou ontem a primeira rede de exploração sexual de homens ; brasileiros ; em várias cidades do país. Cerca de 80 rapazes, na faixa dos 20 anos de idade, eram obrigados por uma quadrilha, também de brasileiros, a se prostituírem 24 horas por dia. Para isso, eles recebiam doses de viagra, além de cocaína e popper (estimulante sexual).

Segundo a polícia espanhola informou ao Correio, por telefone, 14 chefes da rede de tráfico de homens foram presos em Palma de Mallorca, Madri, Barcelona, Alicante e León. A maioria dos traficantes era de brasileiros, mas havia também três espanhóis e um venezuelano no comando da atividade ilegal. Os criminosos eram investigados desde fevereiro e ;houve cooperação com a Polícia Federal brasileira;, disse à reportagem um porta-voz da polícia espanhola.

Um dos quartos utilizados na Espanha pela rede de prostituição masculina: maioria dos aliciadores era de brasileirosOs rapazes eram aliciados no Brasil, grande parte deles no Maranhão. Costumavam entrar na Europa por aeroportos de outros países, principalmente França e Itália, e depois eram levados à Espanha. A rede ilegal prometia alojamento e oferecia a passagem aérea, comprada com cartões de crédito clonados. A princípio, os chefes do tráfico sexual pediam apenas a devolução do valor da passagem aérea e 50% dos lucros obtidos com programa. O preço médio para cada ;saída; de meia hora era de 60 euros (R$ 134). Na prática, porém, a dívida dos jovens brasileiros ultrapassava o valor de 4 mil euros (R$ 8.930), e eles viviam amontoados em cubículos com duas ou três camas beliche.

Para atrair a clientela ; na maioria, homens entre 20 e 65 anos ;, os traficantes publicavam anúncios em jornais e páginas web com fotografias das vítimas. O líder da rede mantinha domicílio em Palma de Mallorca e distribuía os garotos de programa pelas diferentes ;casas de encontros; mantidas pelo grupo. Era também o ;capataz; quem colocava à disposição dos prostituídos as drogas, para eles conseguissem suportar a jornada de ;trabalho;.

Primeiro, os rapazes eram obrigados a fazer programas em Palma de Mallorca e Barcelona. Depois, quando se tornavam muito conhecidos, eram enviados para outras cidades. Em León, trabalhavam também em um clube chamado Brindis, onde dividiam o espaço com mulheres e transexuais.

De acordo com os investigadores da polícia espanhola, se algum dos brasileiros se negasse a participar do esquema de exploração sexual, os responsáveis pela rede faziam ameaças, inclusive de morte. Os acusados responderão agora por delitos contra os direitos de cidadãos estrangeiros, contra os direitos trabalhistas e por formação de quadrilha. Eles serão acusados ainda por fornecer drogas e outras substâncias ilegais aos garotos de programa.

Atividade nova

No Brasil, a Polícia Rodoviária Federal informou que tem sido detectado um crescimento na ação de aliciadores no Norte e Nordeste, o que aparentemente se relaciona com o menor desenvolvimento das duas regiões. O tráfico de homens para exploração sexual é considerado pelos policiais uma atividade relativamente nova, quando comparada ao aliciamento de mulheres. Na campanha contra a prostituição internacional, as autoridades brasileiras têm distribuído material informativo nos aeroportos, alertando os cidadãos para que desconfiem de ofertas de trabalho ilegal, pois elas frequentemente servem de fachada para esquemas de aliciamento que reservam à vítima, quando chega ao destino, regimes de servidão e escravidão.

Nos últimos anos, têm sido recorrentes as operações policiais contra redes de prostituição feminina que aliciam e exploram brasileiras. As quadrilhas exibem como padrão conexões com o tráfico de drogas e a falsificação de documentos.


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