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Tony Blair defende guerras contra Brown e Saddam em livro de memórias

Agência France-Presse
postado em 01/09/2010 16:08
Londres ; Tony Blair defende a década no poder em uma autobiografia bombástica divulgada nesta quarta-feira (1/9) e dominada pelas duas guerras que precipitaram a queda em 2007 e ofuscaram a herança: uma contra "o desastroso" Gordon Brown e outra contra "o tirano" Saddam Hussein.

A leitura de "A Journey" (Uma jornada), um tijolo de 718 páginas, causa impacto pelo estilo direto, sem rodeios e rico em revelações. O autor confessa principalmente uma queda pelas bebidas, nascida principalmente do estresse causado pela rivalidade com Brown, que foi ministro das Finanças antes de sucedê-lo no número 10 de Downing street.

"Um uísque ou uma gim tônica de aperitivo e uma ou duas taças de vinho, ou até meia garrafa" no jantar. Não havia nada "de muito excessivo", mas isso se tornou "um amparo", confessa Blair.

O ex-primeiro-ministro não poupa palavras em relação a Brown, aliado que se tornou "inimigo íntimo". "Espírito brilhante", "melhor chanceler de xadrez que poderia haver para o país" e, na época, intocável, era também "um tipo estranho", "exasperante" e "muito, muito difícil".

Blair, que foi empurrado para fora pelos "amigos políticos", classifica de "desastre" os três anos do "herdeiro" na liderança do governo. Até o torna responsável pelo fracasso eleitoral de maio de 2010, que pôs fim a 13 anos de poder trabalhista e levou à eleição do conservador David Cameron.

Brown teria dado as costas aos princípios fundadores que fizeram do "New Labour" - renovado por Blair - uma máquina que ganhou três eleições consecutivas.

O programa econômico do candidato Cameron era "melhor", explicou nesta quarta-feira Blair, em uma entrevista à BBC numa advertência aos cinco candidatos à liderança do Trabalhismo, que estariam tentados por "uma guinada à esquerda". O vencedor será designado em 25 de setembro, ao término de um processo eleitoral iniciado nesta quarta-feira.

Advogado de formação, Blair apresenta com orgulho as façanhas: a modernização do Trabalhismo, a "lua de mel" com o país, a paz na Irlanda do Norte; e professa uma forte admiração pela princesa Diana, morta em 1997.

Mas ele se atém particularmente ao Iraque: "uma guerra impopular, levada adiante com um presidente republicano americano muito impopular", George Bush, de quem "gostava e que admirava pela integridade".

Ele lamenta as vítimas do conflito, vivido como "um pesadelo" de repercussões políticas duradouras no país e fora dele, considerando que custou a ele a Presidência da União Europeia em 2009. E preocupado em recuperar a imagem, cedeu os direitos das memórias - a começar por um adiantamento avaliado em 5,6 milhões de euros - para um centro de reabilitação de soldados britânicos feridos em combate.

Mas Blair permanece categórico: "com base no que sabíamos, eu permaneço convencido de que deixar Saddam no poder era um risco maior para nossa segurança do que derrubá-lo", escreveu.

O ex-primeiro-ministro reconhece apenas um erro: a abolição da caça de animais, que levou mais de um milhão de manifestantes às ruas.

Vários setores da imprensa e diversas lideranças sindicais criticaram imediatamente "o exercício de autossatisfação", enquanto os militantes antiguerra convocaram uma manifestações contra "o criminoso de guerra Blair" nas seções de autógrafos.

Gordon Brown se absteve de qualquer comentário imediato. David Blunkett, um ex-ministro trabalhista, afirmou que não lerá o livro, mas que será, provavelmente, informado das passagens "das quais não gostará". Em seguida, "ele (Brown) divulgará provavelmente por escrito a própria versão".

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