postado em 02/09/2010 08:10
Quando o libanês naturalizado brasileiro Michel Maalouli desembarcou às 16h30 (10h30 em Brasília) de ontem em Basra, após 18 dias de viagem a São Paulo, nada encontrou de diferente. Apesar disso, a cidade, situada a 452km ao sul de Bagdá, já vivia o clima da chamada Operação Novo Amanhecer ; decretada pelo vice-presidente norte-americano, Joe Biden, e pelo secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, em visita surpresa à capital iraquiana. ;Nada mudou. Os últimos combatentes deixaram o país alguns dias atrás, mas ainda temos 50 mil soldados por aqui;, afirmou ao Correio, pela internet, o engenheiro eletrônico contratado por uma empresa norte-americana. ;Enquanto o radicalismo existir, veremos atentados. O ambiente é apto a isso.;Se Maalouli demonstrava pessimismo, Biden celebrava ontem o fim da opressão no país. ;A libertação do Iraque terminou, mas nosso compromisso continuará por meio da Operação Novo Amanhecer;, declarou o vice de Obama, durante cerimônia de transferência de poder no Palácio Al-Faw. O prédio, a 5km do Aeroporto Internacional de Bagdá, foi erguido pelo ditador Saddam Hussein para comemorar uma vitória na guerra contra o Irã.
;Essa mudança de missão jamais teria sido possível sem o sacrifício tremendo e a competência de nossos soldados ; que os nossos amigos iraquianos nos perdoem, trata-se da mais excelente força no mundo;, disse Biden, admitindo que os ;dias mais sombrios ficaram para trás;. Ele e Gates transferiram do general Raymond T. Odierno para o general Lloyd J. Austin III a tarefa de liderar os 50 mil militares dos EUA e apoiar as tropas do Iraque. Para o novo comandante, esse período na história do país será lembrado pelo ;sacrifício, pela resiliência e pela mudança;. ;Eu me lembro disso como uma época na qual a população se levantou contra a tirania, o terrorismo e o extremismo, e decidiu determinar seu próprio destino, como um povo e como um Estado democrático;, afirmou Odierno.
Piorou
Em Bagdá, o engenheiro Raid Rahmani, 48 anos, garante: ;As coisas estão piores do que antes;. Segundo ele, os moradores da capital sofrem com a falta de segurança e de eletricidade, e com a péssima qualidade de serviços, como saneamento, saúde, eletricidade e educação. ;Esse governo democrático é fraco, e a corrupção está por todos os lugares. A nova polícia e o Exército iraquiano não são profissionais, não existe lei nem ordem;, desabafou, em entrevista pela internet. Ele acusou a maioria dos ministros de portarem diplomas falsificados de universidades.
Ahmad (nome fictício), 35 anos, admite que seu povo não vê com bons olhos a entrega de poder dos EUA para ;os lobos;, como se refere ao governo do premiê Nuri Al-Maliki. ;Nosso governo não está preparado para isso, e nosso exército não está pronto para manter a segurança nas ruas;, comentou. Uma sondagem recente do Centro de Pesquisa Ashraq, sediado em Bagdá, atesta essa versão, ao apontar que 60% dos iraquianos consideram a desmobilização das tropas americanas inoportuna.