postado em 02/09/2010 09:38
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, prestigiou ontem o Brasil com sua primeira visita como chefe de Estado ao exterior, desde que assumiu o governo em 7 de agosto, mas mandou um alerta claro ao governo brasileiro e a todos os países da região. ;Nosso problema com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) é um problema interno colombiano e pedimos que se respeite isso;, afirmou, durante coletiva de imprensa no Palácio do Itamaraty, em Brasília. ;O Brasil e o resto dos países da região rechaçam o terrorismo e os métodos violentos para conseguir objetivos e, nisso, eu agradeço muito ao presidente Lula e ao Brasil por essa posição clara e contundente. Mas a nossa relação com as Farc e um possível diálogo com as Farc são um problema nosso;, destacou Santos.Em sua defesa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que ;o Brasil sempre teve um comportamento de não confundir os problemas internos da Colômbia com os problemas do Brasil;. ;Todas as vezes que eu conversei com o presidente (Álvaro) Uribe, eu disse: eu só digo qualquer coisa sobre as Farc com a concordância do governo da Colômbia. (...) É o governo da Colômbia que vai dizer (quem pode ajudar) e que vai pedir ajuda;, disse Lula.
Santos demonstrou-se disposto a melhorar as relações com a Venezuela, país que rompeu relações com a Colômbia na última semana do governo de Álvaro Uribe, acusado de proteger e abrigar as Farc em seu território. ;É interessante observar que as tensões que existiam no cenário regional estão cedendo, porque, quando os governantes estão brigando, são os povos que sofrem;, declarou Santos. Questionado sobre a possibilidade de o Brasil servir de território para um suposto diálogo entre os grupos guerrilheiros e a Colômbia, Santos se esquivou. ;Primeiro temos que ver uma vontade real das Farc, que não vimos até agora.;
Cooperação
O primeiro presidente estrangeiro a ser recebido no Palácio do Planalto, reaberto depois de um ano e meio em reforma, demonstrou interesse, porém, em outras formas de cooperação com o governo brasileiro, sobretudo nas áreas de defesa e bioenergia. O acordo de defesa prevê cooperação entre a Polícia Nacional da Colômbia e a Polícia Federal brasileira para combater o tráfico de drogas e de armas e a lavagem de dinheiro na fronteira, além do intercâmbio na indústria aeronáutica de ambos países.
Lula e Santos assinaram um acordo sobre residência, estudo e trabalho para os habitantes da fronteira. ;Colombianos e brasileiros de Letícia e Tabatinga (AM) poderão transitar livremente nas duas cidades, trabalhar onde quiserem e seus filhos serão aceitos em qualquer escola dos dois lados da fronteira;, prometeu Lula.
A economia na zona limítrofe foi outra preocupação dos dois presidentes. ;Um dos acordos que assinamos é para que a Corporação Andina de Fomento (CAF) financie um estudo muito completo para aproveitar e desenvolver essa grande fronteira que tem o Brasil e a Colômbia;, disse Santos. ;Eu lembrei ao presidente Santos que de todo o comércio da Colômbia com o mundo, o Brasil representa apenas 1,7%;, completou Lula.
DE OLHO NO CARGUEIRO
Santos e Lula assinaram acordo que prevê a participação de companhias colombianas na fabricação do KC-390, o cargueiro da Embraer destinado a substituir os aviões Hércules. ;Há um componente econômico que supõe a possibilidade de que a Colômbia participe do projeto de substituição dos Hércules. E que o Brasil participe no fortalecimento da (lancha) patrulheira amazônica que a (fabricante naval colombiana) Cotecmar vai produzir;, disse o ministro da Defesa da Colômbia, Rodrigo Rivera, ao Correio.