Agência France-Presse
postado em 02/09/2010 15:56
Caracas - A estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) tenta conciliar um ambicioso plano de investimentos e o impulso a projetos socialistas encarregados à empresa pelo presidente Hugo Chávez - dois objetivos difíceis de combinar, principalmente com os preços do cru estancados, segundo especialistas.Nos últimos seis anos, o presidente venezuelano aproveitou a bonança dos preços do petróleo e utilizou a PDVSA para atividades que nada têm a ver com a essência da entidade estatal: semear o campo, construir casas, financiar programas de saúde e educação e importar e distribuir alimentos.
"As funções das quais a PDVSA foi encarregada, nada têm a ver com a indústria do petróleo, para as quais não foi criada, representando uma grande distorsão, um elemento malvado", considerou o especialista Rafael Quiroz.
A partir de 2004, com os preços do óleo em constante crescimento, a PDVSA destinou diretamente ao governo cerca de US$ 63 bilhões, além dos royalties habitualmente pagos ao Estado, segundo o ministro da Energia e Petróleo, Rafael Ramírez.
Mas em 2009, quando os preços retrocederam a US$ 57, em média, os lucros da PDVSA caíram 52,2% em relação ao ano anterior e seu aporte ao Estado baixou para 42%, segundo cifras oficiais.
PDVSA "não é empresa deficitária, está cumprindo todos os planos, sendo um instrumento importante do Estado venezuelano para colocar a renda com o petróleo a serviço de todos os venezuelanos", disse Ramírez recentemente.
"Como fará a galinha dos ovos de ouro, que impulsiona o socialismo do século XXI, para se comportar como empresa de petróleo que não dá prejuízo, e até obtém algum lucro?", indagou o analista Elie Habalian. "A contradição é o problema deste governo e que os atuais preços do petróleo vão aprofundar", acrescentou à AFP.
Nesse cenário, a PDVSA mantém um plano de investimentos para os próximos cinco anos de mais de US$ 197 bilhões, esperando passar a produção dos atuais 3,1 milhões de barris diários a 4,4 milhões, em 2015.
A estatal de petróleo também foi encarregada do pagamento de algumas nacionalizações ordenadas por Chávez, como a da indústria do cimento, e de indenizações trabalhistas das empresas do setor de petróleo estatizadas ano passado.
Os analistas questionam o otimismo do governo quanto ao poder de conseguir financiamento externo.
Desde 2007, a exploração de petróleo na Venezuela por parte de empresas estrangeiras é realizada sempre com a estatal PDVSA, que tem pelo menos 60% da participação acionária.
O governo venezuelano recorre aos parceiros internacionais para explorar conjuntamente a riquíssima reserva da Faixa do Orinoco, onde a prospecção e produção de óleo pesado e extrapesado exigem investimentos caros e logística para a extração e refino.
Para prosseguir adiante com a expansão da produção de petróleo, o governo necessita que os preços da commodity "subam nos próximos cinco anos muito mais do que realmente poderiam" e "as expectativas são demasiado otimistas", afirmou Habelian.
"Com a atual estrutura de custos, e preços abaixo dos US$ 90 o barril, a receita com o petróleo não gera recursos adicionais suficientes para a expansão da indústria venezuelana do setor", disse Quiroz à AFP.
A Venezuela é o segundo país do mundo com maiores depósitos, com reservas provadas de petróleo de 211,173 bilhões de barris.