Agência France-Presse
postado em 02/09/2010 20:45
Cabul - O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, chegou nesta quinta-feira (2/9) ao Afeganistão, para uma visita surpresa em meio à tensão provocada pelo presidente afegão, Hamid Karzai, que acusa a Otan de matar civis.Gates, que estava no Iraque, onde participou em Bagdá das cerimônias pelo fim da missão de combate das tropas americanas naquela país, chega ao Afeganistão quando o número de baixas entre as forças dos EUA é o mais alto dos nove anos da guerra contra os talibãs.
Horas após a chegada de Gates a Kabul, o presidente Karzai "condenou firmemente" um bombardeio da Otan contra uma caravana de um candidato às eleições legislativas, no norte do país.
"Dez pessoas morreram e três ficaram feridas. Iniciamos uma investigação e vamos compartilhar estas informações com nossos aliados da Otan", declarou Karzai em entrevista coletiva ao lado de Gates.
Karzai, que chegou ao poder no fim de 2001, com o apoio dos Estados Unidos, mostrou-se pouco diplomático e disse que os "bombardeios aéreos aos povoados afegãos não ajudarão em nada a guerra contra o terrorismo...".
O chefe do Pentágono respondeu com a versão da Otan, que afirma ter atacado uma caravana que transportava um líder de um grupo rebelde islâmico aliado à Al-Qaeda.
"É a primeira vez que ouço falar em vítimas civis (neste ataque), mas vamos analisar isto".
Karzai aproveitou a visita de Gates para defender vigorosamente seu governo das acusações de corrupção, inclusive Mohammed Zia Salehi, alto funcionário do Conselho de Segurança do governo afegão, preso em julho passado e libertado por intervenção direta do presidente.
O general americano David Petraeus, comandante das forças internacionais no Afeganistão, disse à imprensa que se "houve atritos" envolvendo a prisão de Salehi, "isto já foi resolvido".
Karzai afirmou que duas unidades encarregadas de combater a corrupção no Afeganistão, que operam sob o controle americano, "não respeitam as leis afegãs", ao que Gates respondeu que "a luta contra a corrupção deve ser realizada pelos afegãos".
"Pedi a libertação de Salehi porque foi uma prisão ilegal", insistiu Karzai, que denunciou "graves violações dos direitos humanos" durante sua detenção.
Karzai reafirmou a intenção de proibir o trabalho de empresas privadas de segurança no território afegão, algo que os ocidentais consideram indispensável para a missão das forças militares, embaixadas e outros órgãos instalados no país.
Na terça-feira passada, 2010 se converteu, com 323 mortos em apenas oito meses, o ano mais sangrento para os soldados americanos no Afeganistão desde a invasão do país, no fim de 2001.