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Colômbia: Santos reforçará combate à guerrilha após ataques sangrentos

Agência France-Presse
postado em 03/09/2010 16:20
Bogotá - O governo do presidente colombiano, Juan Manuel Santos, reforçará a política de combate frontal às guerrilhas diante dos sangrentos ataques que deixaram, esta semana, 14 policiais e três militares mortos, estimaram analistas, considerando longínqua a possibilidade de um diálogo.

O presidente e os altos comandos militares foram nesta sexta-feira (3/9) para o departamento de Caquetá, no sul do país, onde morreram os 14 policiais, para celebrar um conselho de segurança e avaliar a estratégia de segurança na região.

"Viajamos para Caquetá para, em primeira mão, estudar a situação e tomar as medidas necessárias", disse Santos.

Este ataque, o pior desde que Santos assumiu a presidência, em 7 de agosto, ocorreu em um campo minado em uma zona rural do departamento (estado) de Caquetá, no sul, onde é forte a influência das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, esquerdistas).

"Na lógica das Farc, com estes ataques tenta dar apoio à proposta de paz feita pelo comandante, Alfonso Cano" uma semana antes da posse de Santos, "mas o efeito que pode produzir é o contrário", opinou o cientista político Alfredo Rangel, da Fundação Segurança e Democracia.

"A resposta do governo será insistir em que a vontade de enfrentar a guerrilha não vai se dobrar com esse tipo de ação. O governo e a sociedade esperam que para que haja diálogo cessem os atos de violência e haja mais atos de paz, como a libertação dos sequestrados", assegurou.

"Esses últimos ataques demonstraram que a guerrilha não mudou a concepção da lógica de guerra e paz, e com isso só vai conseguir que se feche a porta", opinou Rangel.

Santos, um político de direita que foi ministro da Defesa do ex-presidente Alvaro Uribe, entre 2006 e 2009, chegou à Presidência da Colômbia com a promessa de manter a política de "segurança democrática", que privilegia o enfrentamento militar contra as guerrilhas e que valeu uma altíssima popularidade ao predecessor.

Durante a gestão de Santos no ministério da Defesa, as Farc sofreram os mais duros golpes dos últimos anos, entre eles a morte daquele que era o número dois, Raúl Reyes, em um bombardeio a um acampamento no Equador, e o resgate da política Ingrid Betancourt, três americanos e onze militares e policiais, reféns da guerrilha com a operação Xeque.

No entanto, desde que assumiu, Santos tem reiterado que a via do diálogo "não está fechada" sempre que a guerrilha libere os sequestrados que mantém cativos, alguns há mais de dez anos, e cesse o recrutamento de menores de idade, entre outros gestos.

"A posição de Santos é continuar a pressão militar contra a guerrilha. Esta é uma política clara. Ao mesmo tempo, quer deixar a porta aberta ao diálogo, mas com condições. Isto levará tempo e ele sabe disso", afirmou León Valencia, da ONG Nuevo Arcoiris, que estuda o conflito colombiano.

"Enquanto isso, permanece o confronto e as Farc buscarão atingir as forças militares para demonstrar que estão vivas e que são uma ameaça", opinou Valencia.

Segundo esse analista, um diálogo entre o governo e a guerrilha é impensável neste momento, pelo repúdio que produz na sociedade.

"Teria que se criar, primeiro, um ambiente na opinião pública e enviar a mensagem de que eventuais negociações não seriam como as de (San Vicente de) Caguán", disse.

A última negociação do Estado colombiano e da guerrilha ocorreu entre 2000 e 2002, na região de San Vicente del Caguán (sul), que o ex-presidente conservador Andrés Pastrana aceitou desocupar militarmente para um diálogo com as Farc que não teve sucesso.

A Colômbia sofre com um conflito armado há mais de 40 anos. Atualmente, restam dois grupos guerrilheiros: as Farc, com oito mil combatentes, e o Exército de Libertação Nacional (ELN), que contaria com 2,5 mil, segundo estimativas das forças militares.

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