postado em 04/09/2010 07:00
As primeiras reações experimentadas pelo empresário Habib Ullah, 21 anos, foram de medo e de confusão. Antes do caos, o dia começou com uma oração, como sempre ocorre às sextas-feiras, sagradas para os muçulmanos. Habib e o amigo Ramzan Ali permaneceram não mais que meia hora dentro da mesquita Imã Barah-e-Kalan, a maior de Quetta ; cidade situada no oeste do Paquistão, próximo à fronteira com o Afeganistão. Quando deixaram o local, uniram-se a uma marcha xiita promovida pela organização estudantil Imamia, em solidariedade aos palestinos e contra a soberania israelense sobre Jerusalém. ;Caminhamos cerca de 10 minutos entre a multidão, quando ouvi o barulho da bomba e, 10 segundos depois, o som de disparos de arma de fogo;, relatou Habib Ullah ao Correio, pela internet. ;Primeiro, fiquei com medo e só então vi pessoas feridas. Não havia ambulância e muitos tiveram que transportá-las por conta própria aos hospitais;, acrescentou. Assim que escutou a explosão, em uma área conhecida como Meezan Chock, ele teve o instinto de jogar-se no chão. A emissora britânica BBC divulgou que os disparos teriam sido feitos pelos próprios xiitas.
O atentado suicida, ocorrido por volta das 14h (6h em Brasília), deixou 59 mortos e pelo menos 200 feridos. Por e-mail, o estrategista paquistanês Hasan-Askari Rizvi ; professor da Universidade do Punjab (em Lagore) ; afirmou que a marcha da Iamia foi escolhida pelos extremistas apenas pelo fato de manifestações do tipo serem vulneráveis a ataques. ;O Tehrik-i-Taliban Pakistan (TTP) e outras organizações de militares são contrárias aos xiitas. No entanto, uma organização sectária deobandi (defensora fervorosa da sharia, a lei islâmica) teria reivindicado a autoria do ataque;, declarou. A rede de TV CNN destacou que o TTP considerou o atentado um ;ato de vingança aos assassinatos de líderes religiosos sunitas, supostamente cometidos por xiitas;.
Frequência
De acordo com Rizvi, os atentados têm sido mais frequentes por causa da proximidade do aniversário de morte de Hazrat Ali, um dos santos do islã. ;Tivemos dois incidentes na quarta-feira passada, em Lahore e em Karachi. Hoje (ontem), foram registrados três atentados: além da explosão em Quetta, dois menores, em Peshawar e em Mardan;, lembra. Na noite do dia 1;, um triplo ataque suicida matou 35 em uma procissão xiita em Lahore.
O especialista admite que os grupos extremistas se beneficiam do fato de as autoridades e o Exército estarem ocupadas demais com a ajuda humanitária às chuvas que devastaram o país. ;Como a atenção foi desviada do contraterrorismo, as facções decidiram atacar;, explica Rizvi. Ele acredita que os grupos tentam levar a guerra ao terror para dentro das cidades paquistaneses, a fim de reduzir a pressão dos militares sobre áreas tribais. ;Eles buscam atingir seitas islâmicas menores, na esperança de que grupos diferentes comecem uma batalha;, diz. Ontem, o TTP ameaçou atacar os Estados Unidos e a Europa, depois que o Departamento de Estado norte-americano os acrescentou à lista negra de organizações terroristas estrangeiras.
Sobrevivente acusa o governo
;Eu vi as pessoas gritando e chorando. Estavam cobertas de sangue, na estrada. Fomos alvo porque desejamos nosso Paquistão em paz. Por isso estão nos matando. Eu apontaria o governo como o responsável por isso. Nosso governo mantém relações corruptas com os extremistas suicidas;
Habib Ullah, empresário e morador de Quetta que participava da marcha