Agência France-Presse
postado em 04/09/2010 18:11
CABUL - O presidente afegão, Hamid Karzai, anunciou neste sábado a criação de um conselho que ficará responsável pelas negociações de paz com os talibãs."A formação deste Alto Conselho de Paz é um passo significativo para as conversações de paz", afirma um comunicado divulgado pelo gabinete de Karzai.
Esta iniciativa é uma das mais importantes anunciadas por Karzai para iniciar um diálogo com os talibãs.
O projeto de criação do conselho foi aprovado em junho por uma "jirga (assembleia tribal) para a paz" reunida em Cabul.
O Alto Conselho será um espaço de negociação e deve representar toda a sociedade afegã.
A lista de membros do conselho será anunciada ainda em setembro, segundo a presidência.
O Reino Unido recebeu "calorosamente" a decisão do presidente afegão Hamid Karzai de criar este conselho, declarou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.
"Não teremos um Afeganistão mais seguro só pelos meios militares", acrescentou.
O Afeganistão é cenário de um conflito armado desde o fim de 2001, quando uma coalizão militar internacional liderada pelos Estados Unidos invadiu o país e derrubou o regime talibã que governava a nação.
Mas um atentado na cidade de Kunduz, norte do país, que resultou na morte de quatro policiais afegãos e três civis, mostrou que o trabalho do conselho será árduo.
"A bomba, colocada em uma motocicleta, explodiu quando uma viatura policial passava pelo principal mercado da cidade", declarou o governador da província de mesmo nome, Muhammad Omar.
"Quatro policiais e três civis morreram e outros três civis ficaram feridos na explosão", completou.
O atentado tem a marca dos talibãs, segundo o governador.
As províncias afegãs do norte eram consideradas relativamente tranquilas até 2009, quando passaram a ser alvos dos talibãs.
Kunduz é um eixo de transporte crucial para as forças da coalizão que combatem os talibãs. Os Estados Unidos e a Otan têm 150.000 soldados no país para combater os rebeldes, que estão concentrados em grande parte no sul.
Além da violência, o Afeganistão também sofre com o temor de falência do principal banco privado do país. o Kabul Bank.
As agências do Kabul Bank estavam lotadas neste sábado, em consequência dos temores de falência da instituição após várias acusações de corrupção.
Segundo o jornal Washington Post, o Banco Central do Afeganistão decidiu assumir o controle do Kabul Bank para evitar a falência do estabelecimento, que paga os salários da polícia e do exército.
As informações provocaram os temores dos clientes e funcionários, apesar do BC afegão ter afirmado que o Kabul Bank é solvente e não há motivo para pânico.
Apesar da tentativa do governo de acalmar os correntistas, as agências do banco em Cabul, Mazar-i-Sharif (norte) e Kandahar (sul) estavam lotadas neste sábado.
A poucos dias da festa que marca o fim do mês de jejum do Ramadã, na qual é uma tradição a troca de presentes, funcionários do governo e clientes compareceram às agências para sacar os salários ou os valores depositados.
O porta-voz do ministério das Finanças, Aziz Shams, afirmou mais uma vez que não problemas com o banco.
O Washington Post destacou que uma crise de liquidez do Kabul Bank poderia desestabilizar o sistema financeiro do país e comprometer os esforços para reduzir a insurgência talibã.
Segundo o Post, o banco, do qual o irmão do presidente Hamid Karzai, Mahmud Karzai, tem 7%, foi abalado por um escândalo de corrupção que envolveria vários diretores da instituição.