postado em 05/09/2010 09:12
O Correio fez a pergunta acima a palestinos e israelenses. Como resposta, recebeu relatos de sofrimento, lições de esperança, mas também um ceticismo calejado por tantos anos de violência. Shoshana Netzer tem 81 anos e vive em Ashkelon ; a cidade, no sul de Israel, é alvo frequente de foguetes palestinos Qassam e Grad. Com motivos de sobra para pensar o contrário, ela vê a paz como uma ;necessidade vital;. Assad Hijjah, 29 anos, mora em Ramallah, não muito longe da Muqata, a sede da Autoridade Palestina, na Cisjordânia. Ele conta que já perdeu amigos no conflito. Talvez por isso, demonstre um otimismo comedido demais quando fala sobre a situação no território palestino. Ofer Kalifon, 31 anos, ainda se lembra dos 15 dias nos quais Jerusalém parou, alvejada por uma série de atentados suicidas. Estudante de relações internacionais, fez uma análise criteriosa do quadro político em Israel. Ghassan Abu Mandil, 35 anos, é refugiado e sonha com o dia em que poderá deixar Gaza e retornar à cidade onde a família morava, em Beersheva, sul de Israel.;Sou um refugiado;
Ghassan Abu Mandil estava cansado. Havia chegado dias atrás de uma viagem frustrada ao Egito. A polícia fronteiriça exigiu que ele e sua família retornassem à Cidade de Gaza. Algo que o próprio engenheiro palestino de 35 anos sabia ser inevitável. ;A polícia cobrou US$ 3 mil por nossa entrada no Egito;, contou. Ghassan sente-se um intruso em sua terra. ;Minha família viveu na região rural de Beersheva por 40 anos. Deixamos o local em maio de 1949;, lembra. Um ano depois da criação do Estado israelense. ;Sou um refugiado. Se Israel aceitar que eu retorne à minha cidade, apoio a paz. Antes das negociações na Casa Branca, o premiê Benjamin Netanyahu havia recusado essa possibilidade;, afirma.
Para ele, a paz é ;uma coexistência gentil, na qual todos trabalham, comem e bebem da mesma terra;. Ele duvida que isso se torne realidade antes do próximo século. ;Israel pega nossa água, nossa terra, nossa liberdade. No ano passado, matou 1,5 mil pessoas em minha cidade. Todos perderam amigos ou irmãos;, lamenta. ;Israel tem que permitir nosso retorno para nossa casa e libertar todos os 11,5 mil prisioneiros.;
Momento favorável
;Eu tenho de reconhecer que a atual rodada de negociações (na Casa Branca) ocorre em uma conjuntura que favorece um acordo de paz eventual;, afirma o israelense Ofer Kalifon, 31 anos, morador de Jerusalém. O estudante de relações internacionais acha que os partidos de esquerda não se oporão a um pacto e até ajudariam Netanyahu a permanecer no poder o bastante para alcançar a paz. ;Além disso, temos um presidente americano (Barack Obama) que parece acreditar no processo e tem o desejo de levá-lo adiante;, observa.
Ofer crê que o líder palestino, Mahmud Abbas, deseja impor-se sobre o Hamas. ;Em público, Abbas declara que a paz é do interesse de seu povo;, diz. Apesar desses pontos positivos, o estudante enumera problemas. ;Netanyahu precisa manter uma coalizão de extrema-direita e sua sobrevivência política depende da expansão dos assentamentos judaicos na Cisjordânia;, comenta. Há oito anos, o conflito quase bateu à porta de Ofer. ;Eu era estudante do segundo grau. Tivemos cinco atentados suicidas, dois deles contra ônibus daqui de Jerusalém. Um de meus colegas ficou ferido.;
;Queremos justiça;
Pai de duas crianças, Assad Hijjad, 29 anos, acredita que a paz é algo possível. ;Queremos justiça, queremos um país sob nosso controle, com Jerusalém Oriental como a capital de nossa terra ocupada desde 1967;, afirma o gerente de uma empresa operadora de telecomunicações que mora em Ramallah (Cisjordânia), a 5km da Muqata (sede da Autoridade Palestina). ;Não podemos aceitar um país sem fronteiras, sem nossos lugares sagrados e com assentamentos judaicos;, questiona.
Assad garante que seu povo tem a mente aberta. ;Tudo o que exigimos são os nossos direitos. Há menos de 70 anos, toda a terra (de Israel) era a Palestina;, comenta. De acordo com ele, algumas pessoas se beneficiam do ;status de guerra;. ;Elas temem que, caso a paz ocorra, percam o poder.;
O palestino conta que já perdeu vários amigos no conflito, e cita exemplos. ;Omar Abd Al-Halim foi capturado em Ramallah, em junho de 2007. Os israelenses fizeram uma pergunta, ele não respondeu e levou mais de 20 tiros. Rashad Muhanna voltava da Jordânia quando foi baleado no rosto, em um posto de controle militar;, relata.
;É necessidade vital;
Aos 81 anos, Shoshana Netzer acha que o medo não ajuda em nada. Ela vive em Ashkelon, a 20km da Faixa de Gaza. Nos últimos anos, a cidade foi alvo de foguetes lançados pelo movimento fundamentalista islâmico Hamas. ;Meu medo não é por nossa segurança imediata, mas pelo futuro dos filhos e netos de ambos os lados do conflito;, comenta. ;Uma situação que não se resolve pode piorar a qualquer momento.; Durante 20 anos, Shoshana morou em um kibbutz (comunidade rural) a 10km de Gaza. Lá, casou-se, deu à luz três filhos e aprendeu a manter relações amigáveis com os vizinhos palestinos.
A experiência convenceu-a de que a paz ;é uma necessidade vital;. Para alcançá-la, essa avó israelense defende que os líderes palestinos aceitem Israel como uma nação judaica. ;Trata-se simplesmente de reconhecer e aceitar a existência do Estado de Israel;, observa. Ela também acredita que Israel e a Autoridade Palestina precisam admitir a necessidade de compromissos difíceis e dolorosos, que implicam a renúncia de posições maximalistas. ;A paz é necessária, mas ela não vai acontecer amanhã.;