Mundo

Istambul contrasta o novo e o antigo com construções históricas imponentes

postado em 08/09/2010 10:03
Felipe Campbell - Especial para o Correio

O novo e o antigo andam juntos na Turquia. O país, ansioso por entrar na União Europeia, vive hoje um constante processo de modernização e, ao mesmo tempo, o desafio de preservar a cultura e a religião muçulmana sem se fechar para os tempos atuais. Istambul, a Constantinopla dos livros de história, é também o ponto de encontro dos continentes europeu e asiático. Na parte europeia, estão as grandes atrações turísticas da cidade: palácios, mesquitas e diversos tipos de construções seculares ; e, muitas vezes, milenares. Com paisagens dignas de lenda, transporte público de ponta (VLT), restaurantes refinados, mercados de rua agitados e sons de orações entoados por todos os cantos, a Istambul europeia está mais do que preparada para receber turistas que adoram história, boa comida e vistas espetaculares ; como as que se observam na esquina sudeste da Europa, banhada pelo Mar de Mármara e pelo Estreito de Bósforo, por onde navegaram incontáveis imperadores e sultões.

Velho, não! Antigo;

Sim, é um clichê do tamanho do Mar Negro dizer isso, mas vamos lá: em Istambul, a fusão de culturas fica evidente em cada esquina, ruela, parque, restaurante ou templo religioso. Incrustada entre os continentes europeu e asiático, a antiga Constantinopla convive não só com essa mistura, mas também com água por todos os lados. Se não tem exatamente praias deslumbrantes em seu centro, Istambul permite ao visitante passear pelo Estreito de Bósforo em barcos de onde dá para acompanhar o trabalho de pescadores, ver o tempo passar e ainda curtir o visual desta localidade que tem muita história para contar.

Palácio de Topkapi, cuja construção foi iniciada em 1459: cenário para as histórias mais excêntricas do império otomanoTudo em Istambul é velho. Não o ;velho; de acabado, estragado, mas o de antigo, respeitável. Imponente. Onde mais você se depara com um obelisco marcando o local onde funcionava o hipódromo há uns 1.400 anos? Um pouquinho ali para frente, você vê uma fila enorme para entrar numa espécie de fossa pública secular. A aglomeração parece estranha, mas se justifica. O pessoal quer é conhecer a Cisterna da Basílica, construída pelo imperador Justiniano em 532 d.C. e que um dia canalizava a água do Mar Negro por mais de 20km de aquedutos. Muito bom para aliviar o calor em tempos de verão a 35;C. Há disputa também para observar a estátua da Medusa de Lado ; e ninguém sabe explicar ao certo o porquê de ela ter sido construída de cabeça para baixo.

Tudo isso fica na região do Sultanahmet, o bairro mais histórico (e por isso, disparado, o mais turístico) de Istambul. Lá estão as atrações mais visitadas da cidade: a Mesquita Azul (que de azul, externamente, não tem nada), a Santa Sofia (ou Aya Sofia) e o Palácio de Topkapi. Para visitar de forma decente os três locais, o turista precisa de pelo menos dois dias.

Restauração
A Santa Sofia foi construída por Justiniano (o mesmo da cisterna) no século VI (logo ali, né?). Atualmente, o local passa por obras de restauração, o que pode tornar a visita meio decepcionante. Mas lá dentro dá para ter uma ideia do que eram a arquitetura e os valores religiosos de tempos muito distantes: painéis, capelas, bustos, quadros e fontes contam um pouco da história turca. O ingresso custa 10 novas liras(1) turcas (uma lira turca vale cerca de R$ 1,15).

Talvez até mais interessantes do que o próprio interior da Santa Sofia são os arredores. Logo à frente está o Parque de Sultanahmet, com fontes e canteiros de flores lindos. Do local é possível fazer fotos maravilhosas tanto da Santa Sofia quanto da Mesquita Azul, que fica no lado oposto, mais ao sul. É, sem dúvida, um choque cultural bem forte para quem está acostumado a visitar apenas catedrais e castelos ocidentais.

Para entrar na Mesquita Azul, outro cartão-postal de Istambul, é preciso tirar os sapatos e usar calças compridas. Mulheres devem cobrir o rosto com um manto. Nos meses de junho a setembro, o pico da alta temporada, algumas áreas da mesquita são restritas aos fiéis. Uma vez dentro do templo, atente para as janelas de vidro e para os azulejos, que criam efeitos de luz bem curiosos. (FC)

1 - Fase final
Como ainda está na etapa final de negociação para entrar na União Europeia, a Turquia não tem o euro como moeda oficial. No país, um euro vale mais ou menos 1,93 liras. Apesar disso, alguns hotéis e restaurantes, em especial na região do Sultanahmet, aceitam-no tranquilamente.

Do agrado dos sultões

Um pouco mais atrás da Santa Sofia, está o Palácio de Topkapi, construção iniciada por Mehmet(1) após a tomada de Constantinopla (1453). Desde então, várias histórias de sultões, monarcas e governantes excêntricos tiveram como cenário o Topkapi. Foi aqui que, em 1574, Selim, o Ébrio, morreu afogado depois de ter bebido muito champanhe. Também nesse lugar, Ibrahim, o Louco, perdeu a sanidade mental ao ficar quatro anos trancado em uma jaula ; antes de morrer, em 1648.

O Palácio de Topkapi é dividido em quatro grandes áreas(2). Além de fontes, esculturas, jardins exóticos, haréns e salas recheadas de tesouros (como a espada e o manto do profeta Maomé) e armas, o local oferece algumas das mais belas vistas de Istambul, tanto do lado europeu quanto do asiático. Isso porque o prédio foi erguido às margens do encontro das águas do Mar de Marmara e do Estreito do Bósforo.

Istambul tem dezenas, centenas, talvez milhares de mesquitas. A maioria delas tem uma arquitetura deslumbrante e uma aura de viagem no tempo. Ainda mais quando você olha para os lados e vê mulheres vestidas com véus muçulmanos. A sensação de deslocamento é maior ainda ; algo que você demora a se acostumar ; quando se começa a ouvir os cantos religiosos por toda a cidade.

É uma sensação muito estranha para ocidentais desavisados: torres compridas, com caixas de som em seu topo, entoam, a cada hora, um canto bem alto. Após alguns segundos, a torre se silencia e outra torre, a algumas centenas de metros dali, começa outro canto, que para por um tempo até que outra comece o rito de novo. Dessa forma, de qualquer ponto dessa área de Istambul, você ouve as pregações, mesmo que esteja longe de uma mesquita. (FC)

1 - Séculos de boa vida
O sultão Mehmet construiu a primeira fundação do Palácio de Topkapi em 1459, poucos anos após a tomada de Constantinopla pelos otomanos (1453), e viveu neste local até a morte, em 1481. Seus sucessores viveram nababescamente por aqui até o século 19, quando se mudaram para outros palácios, mais próximos ao Estreito de Bósforo. Mahmut II (1808 a 1839) foi o último sultão a viver no Topkapi.

2 - Tinha até padaria
Em seus tempos áureos, o palácio chegou a abrigar 4 mil pessoas e tinha, dentro de suas instalações, padarias, hospitais e mesquitas. O Topkapi está no centro histórico de Istambul, decretado Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Unesco em 1985.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação