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Irã suspende e revisa sentença de Sakineh, condenada ao apedrejamento

Ativistas e Itamaraty reagem com cautela

postado em 09/09/2010 08:30

As palavras de Ramin Mehmanparast, porta-voz da chancelaria iraniana, trouxeram alívio momentâneo a ativistas de direitos humanos, mas também preocupação. ;O veredicto sobre o caso extramarital foi paralisado e está sendo revisado;, afirmou, por telefone, à emissora estatal PressTV. Ramin se referia à iraniana Sakineh Mohammadi-Ashtiani (1), uma viúva de 43 anos e mãe de dois filhos, acusada em 2006 de manter ;relação ilícita; com dois homens após a morte do marido, um ano antes. ;A acusação de homicídio está sendo investigada, a fim de que o veredicto final seja divulgado;, acrescentou o porta-voz. Ele considerou o caso ;muito normal; e assegurou que o dossiê ;se parece com muitos outros existentes em outros países;. Também disse que ;defender uma pessoa acusada de assassinato não deveria ser transformado em assunto de direitos humanos;. Vahid Karemzadeh, membro da Comissão de Direitos Humanos islâmica, confirmou que a sentença de morte foi ;suspensa sob ordens do chefe do Judiciário e não será aplicada no momento;.

Em entrevista ao Correio, por telefone, o iraniano Mahmood Amiry-Moghaddam ; porta-voz da organização não governamental Iran Human Rights ; considerou a declaração de Amim ;muito alarmante;. Ele lembra que Sakineh já cumpre uma condenação de 10 anos por cumplicidade no assassinato do próprio marido. ;O veredicto final já foi dado. O regime pode estar pretendendo converter a sentença de apedrejamento para enforcamento;, alertou Mahmood.

Vestida como sentenciada à morte, mulher protesta contra a lapidação de Sakineh, em Paris: indignação mundialO ativista teme que o aparente recuo de Teerã crie uma perspectiva de falso otimismo. ;No momento em que a pressão internacional sobre o caso for aliviada, a vida de Sakineh estará em perigo ainda maior que antes;, advertiu. ;Enquanto a pressão se mantiver intensa, haverá esperança de salvá-la. Mas relaxar a cobrança seria muito perigoso;, acrescentou Mahmood. Sakineh divide a cela com cerca de 40 sentenciadas à morte na prisão de Tabriz, no norte do Irã. Seu advogado, Mohammad Mostafaei, vê a suspensão do apedrejamento como uma ;pequena vitória;. ;Qualquer decisão nova é uma decisão;, admitiu à reportagem, por telefone, de Paris. ;Estamos procurando resolver o maior problema aqui: o fim da lapidação como pena capital;, comenta. Questionado se a suspensão do veredicto pode abrir precedente nesse sentido, Mostafaei demonstra ceticismo. ;No Irã, as coisas não funcionam dessa forma. O que importa lá é a lei (sharia) que está no papel;, reforça o defensor, hoje exilado na Noruega.

Sobrevivente
Entre 1979 e 1981, a escritora Marina Nemat vivenciou o drama de Sakineh. A Justiça iraniana até imputou-lhe uma pena por fuzilamento, em um julgamento à revelia, sem sua presença. Ela escapou da morte para se unir ao coro na luta pelos direitos humanos no Irã. Marina não tem dúvidas de que a mãe de Sajjad, 22 anos, e Farideh, 17, estaria morta, caso Teerã não sofresse tamanha pressão internacional. ;O que Sakineh tem sofrido ; chicotadas, ameaça constante de morte e execuções simuladas ; é um testemunho da crueldade do regime iraniano;, afirma. ;Se decidirem poupar a vida dela, as autoridades dirão ao povo que são misericordiosas. Sakineh jamais poderia ter sido colocada nessa situação horrível;, emenda.

Mahmood Amiry-Moghaddam, ativista iraniano, porta-voz da ONG Iran Human Rights, fala sobre o andamento do caso de Sakineh (em inglês)


Celso Amorim, chanceler brasileiro, comenta suspensão da sentença contra Sakineh Mohammadi-Ashtiani


Mohammad Mostafaei, advogado de Sakineh Mohammadi-Ashtiani, fala sobre suspensão da sentença (em inglês)


A suspensão do veredicto foi confirmada um dia após o Ministério das Relações Exteriores do Irã ter pedido que outros países deixem de interferir no caso Sakineh. Exilada em Londres, a iraniana Maryam Namazie, porta-voz do movimento Solidariedade do Irã, refuta esse apelo. ;Nós não pararemos nossa campanha até que Sakineh esteja livre e com seus filhos amados, e até que as execuções cheguem ao fim em meu país natal;, afirma, por e-mail. Maryam concorda que Sakineh só está viva por causa do clamor público. ;Mas ela não estará segura até que seja libertada e tenha suas sentenças anuladas;, alerta. Apesar de duvidar da proscrição do apedrejamento, a ativista aposta que o repúdio e a atenção mundiais têm tornado a lapidação uma sentença cara demais para o regime iraniano.

A mesma opinião tem os ministros italianos Franco Frattini (das Relações Exteriores) e Mara Carfagna (da Igualdade de Oportunidades). Em nota conjunta, ambos afirmaram que o anúncio de Teerã é ;resultado de uma mobilização internacional de governos e opiniões públicas e de um importante sinal de racionalidade de parte das autoridades iranianas;.

1 - Justiça desmente outros 99 açoites

Vahid Kazemzadeh, membro da Comissão de Direitos Humanos Islâmica, negou ontem que Sakineh Mohammadi-Ashtiani tenha recebido mais 99 chicotadas, após o jornal britânico The Times ter publicado uma foto dela sem o turbante. De acordo com o funcionário do Judiciário iraniano, a própria viúva teria expressado surpresa ao ler notícias sobre o castigo. Kazemzadeh disse que a condenada continua recebendo visitas semanais dos filhos, Sajjad e Farideh. No entanto, Sajjad, de 22 anos, garante não ter contato com a mãe desde 11 de agosto e diz temer que ela seja morta depois do Ramadã ; o mês sagrado muçulmano se encerra nesta semana.

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