As palavras de Ramin Mehmanparast, porta-voz da chancelaria iraniana, trouxeram alívio momentâneo a ativistas de direitos humanos, mas também preocupação. ;O veredicto sobre o caso extramarital foi paralisado e está sendo revisado;, afirmou, por telefone, à emissora estatal PressTV. Ramin se referia à iraniana Sakineh Mohammadi-Ashtiani (1), uma viúva de 43 anos e mãe de dois filhos, acusada em 2006 de manter ;relação ilícita; com dois homens após a morte do marido, um ano antes. ;A acusação de homicídio está sendo investigada, a fim de que o veredicto final seja divulgado;, acrescentou o porta-voz. Ele considerou o caso ;muito normal; e assegurou que o dossiê ;se parece com muitos outros existentes em outros países;. Também disse que ;defender uma pessoa acusada de assassinato não deveria ser transformado em assunto de direitos humanos;. Vahid Karemzadeh, membro da Comissão de Direitos Humanos islâmica, confirmou que a sentença de morte foi ;suspensa sob ordens do chefe do Judiciário e não será aplicada no momento;.
Em entrevista ao Correio, por telefone, o iraniano Mahmood Amiry-Moghaddam ; porta-voz da organização não governamental Iran Human Rights ; considerou a declaração de Amim ;muito alarmante;. Ele lembra que Sakineh já cumpre uma condenação de 10 anos por cumplicidade no assassinato do próprio marido. ;O veredicto final já foi dado. O regime pode estar pretendendo converter a sentença de apedrejamento para enforcamento;, alertou Mahmood.
O ativista teme que o aparente recuo de Teerã crie uma perspectiva de falso otimismo. ;No momento em que a pressão internacional sobre o caso for aliviada, a vida de Sakineh estará em perigo ainda maior que antes;, advertiu. ;Enquanto a pressão se mantiver intensa, haverá esperança de salvá-la. Mas relaxar a cobrança seria muito perigoso;, acrescentou Mahmood. Sakineh divide a cela com cerca de 40 sentenciadas à morte na prisão de Tabriz, no norte do Irã. Seu advogado, Mohammad Mostafaei, vê a suspensão do apedrejamento como uma ;pequena vitória;. ;Qualquer decisão nova é uma decisão;, admitiu à reportagem, por telefone, de Paris. ;Estamos procurando resolver o maior problema aqui: o fim da lapidação como pena capital;, comenta. Questionado se a suspensão do veredicto pode abrir precedente nesse sentido, Mostafaei demonstra ceticismo. ;No Irã, as coisas não funcionam dessa forma. O que importa lá é a lei (sharia) que está no papel;, reforça o defensor, hoje exilado na Noruega.
Sobrevivente
Entre 1979 e 1981, a escritora Marina Nemat vivenciou o drama de Sakineh. A Justiça iraniana até imputou-lhe uma pena por fuzilamento, em um julgamento à revelia, sem sua presença. Ela escapou da morte para se unir ao coro na luta pelos direitos humanos no Irã. Marina não tem dúvidas de que a mãe de Sajjad, 22 anos, e Farideh, 17, estaria morta, caso Teerã não sofresse tamanha pressão internacional. ;O que Sakineh tem sofrido ; chicotadas, ameaça constante de morte e execuções simuladas ; é um testemunho da crueldade do regime iraniano;, afirma. ;Se decidirem poupar a vida dela, as autoridades dirão ao povo que são misericordiosas. Sakineh jamais poderia ter sido colocada nessa situação horrível;, emenda.
Mahmood Amiry-Moghaddam, ativista iraniano, porta-voz da ONG Iran Human Rights, fala sobre o andamento do caso de Sakineh (em inglês)