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Protestos contra planos de queimar Corão deixa um morto no Afeganistão

postado em 11/09/2010 08:00
;Mostre o perdão, fale pela justiça e evite o ignorante.; O verso 199 da sura 7 do Corão bem que poderia ser aplicado a uma crise que trouxe à tona o medo, durante o nono aniversário dos ataques de 11 de setembro. As ameaças do pastor norte-americano Terry Jones de queimar 200 exemplares do livro sagrado do islamismo aprofundaram a desconfiança entre cristãos e muçulmanos e provocaram uma onda de protestos violentos em vários países muçulmanos, incluindo Afeganistão, Paquistão, Índia, Indonésia e nos territórios palestinos. No feriado sagrado do Eid Al-Fitr (veja texto ao lado), Saleh bin Humaid ; imã da Grande Mesquita de Meca ; somou-se à voz dos líderes religiosos e dos governantes contra um gesto que pode ter consequências trágicas. ;Defender a queima de exemplares de nosso livro santo é uma forma de terrorismo e uma incitação ao terrorismo;, declarou, ao lado rei saudita, Abdullah bin Abdel Aziz, e do premiê libanês, Saad Hariri. Pela primeira vez, foram registradas mortes em manifestações contra o líder da Dove World Outreach Center, uma pequena igreja de pouco mais de 50 fiéis na cidade de Gainesville, na Flórida.

[SAIBAMAIS]Em Faizabad, no nordeste do Afeganistão, uma multidão atacou a base da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). As forças ocidentais repeliram o protesto e mataram a tiros pelo menos um muçulmano. Aos gritos de ;Morte à América; e ;Longa vida ao Talibã e a Osama bin Laden;, manifestantes tomaram as ruas de Farah (oeste) e em Nangahar (leste). Por telefone, de Cabul, o analista afegão Haroun Mir ; diretor do Centro para Pesquisas e Estudos Políticos do Afeganistão ; fez um alerta sobre a instabilidade do país. ;Se esse pastor cometer o erro de queimar o Corão, a reação no Afeganistão será impressionante;, declarou ao Correio. ;O governo de Hamid Karzai não será capaz de conter a fúria popular e tenho certeza de que a rede Al-Qaeda e o Talibã vão se aproveitar da situação para criar ressentimento entre as tropas ocidentais e o povo;, acrescentou.

Ouça a entrevista com Haroun Mir


Na opinião de Mir, tal cenário minaria a missão dos Estados Unidos no Afeganistão. ;Os soldados seriam alvos de mais ataques suicidas. Mais afegãos gostariam de se explodir em atentados, aumentando a capacidade de recrutamento do Talibã e da Al-Qaeda;, prevê. A 420km ao norte de Cabul, em Mazar-e-Sharif, Sayed Walid Mir temia o pior. ;A queima do Corão causará hostilidade de longa duração entre muçulmanos e cristãos em todo o país e no sul da Ásia;, advertiu o funcionário de uma empresa de telefonia celular, em entrevista pela internet. ;Mesmo os mais perigosos fundamentalistas no mundo islâmico respeitam o cristianismo. Acreditamos que Jesus foi um profeta enviado por Deus para guiar a humanidade ao respeito mútuo;, desabafou.

Líderes

O iraquiano Kawa Karem Sabir, morador de Sulaimanya (noroeste), apelou à reportagem. ;Por favor, diga a eles que não queimem o grande livro sagrado do islã;, pediu. Ele lembrou que o islã e os cristãos cultuam um mesmo Deus. ;Devemos trazer paz ao mundo, por meio das igrejas e das mesquitas;, defendeu. Alguns líderes valeram-se da polêmica criada por Terry Jones para fazer discursos de oposição ao governo norte-americano e a Israel. O presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, qualificou o projeto da igreja da Flórida de ;complô sionista;. ;Este tipo de ação vai acelerar a queda e a aniquilação dos sionistas e de seus protetores, que vão pelo menos caminho do desaparecimento;, declarou. O ex-líder cubano Fidel Castro, que raramente fala sobre religião, acusou o caso Terry Jones de tratar-se de um ;descomunal show midiático;. ;É um caos, coisas próprias de um império que afunda;, comentou.

O fim do Ramadã

Mais de 3 milhões de muçulmanos se reuniram ontem na cidade sagrada de Meca, na Arábia Saudita, durante o feriado de Eid-Al-Fitr. O dia marca o fim do mês de jejum do Ramadã, quando se lembra a revelação do Corão recebida pelo profeta Maomé, no ano 610 d.C. A Grande Mesquita ; ou Al Masjid Al-Haram ; pode comportar até 1 milhão de peregrinos. Após as orações matinais, familiares partilharam juntos do café da manhã, o primeiro desde o início do Ramadã. Na Jordânia, os homens deram a suas mães, irmãs, filhas casadas e crianças a chamada ;idiya; ; uma quantidade em dinheiro. Os Emirados Árabes Unidos celebraram a data com um costume chamado ;Fauala Al-Eid;, que consiste em receber bem as visitas com comida farta, sobremesas típicas e o ;café árabe;.

AL-QAEDA AINDA É AMEAÇA AOS EUA

; Nove anos depois dos atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos, a rede Al-Qaeda representa uma grave ameaça ao país. Segundo um relatório do centro de análise Bipartisan Policy Center;s National Preparedness Group, terroristas que moram em território norte-americano são os principais riscos. ;Cidadãos americanos têm adotado um papel cada vez mais proeminente no planejamento e nas operações, sob a liderança da Al-Qaeda e de grupos similares;, afirma o texto. ;Cada vez mais e mais americanos têm relações com estes grupos;, acrescenta. O dossiê adverte sobre um inimigo invisível. ;Atualmente, os extremistas nos EUA não têm nenhum perfil social, étnico, econômico, educacional ou social;, conclui.

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