postado em 14/09/2010 07:53
Apenas quatro meses depois de ter assumido, o presidente Barack Obama foi ao Egito para selar uma promessa de aproximação com o mundo muçulmano. Em histórico discurso na Universidade do Cairo, ele garantiu que se empenharia, com ;paciência e dedicação;, em alcançar um acordo de paz entre israelenses e palestinos, que previsse um Estado para cada povo. Mas Obama já percebeu que será preciso mais do que paciência e dedicação: será necessário pressionar ambos os lados. Israel, para que concorde em manter suspensas as construções em assentamentos nos territórios ocupados. Sobre os palestinos, para que cessem os ataques, a partir de Gaza, contra território israelense. Contudo, a Casa Branca precisa ter cautela para evitar que alguma das partes desista de conversar ; pelo menos, até as eleições parlamentares de novembro, nos EUA.Apesar de o Oriente Médio não figurar na lista das maiores preocupações dos eleitores, um fracasso nas conversas diretas, recomeçadas no início do mês, em Washington, pode derrubar ainda mais a popularidade do presidente. O impacto seria direto nos democratas, que brigam para manter maioria em ambas as casas do Congresso. Ciente disso, Obama escalou a secretária de Estado, Hillary Clinton, para acompanhar de perto as conversas entre o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, que se encontram novamente hoje, em Sharm El-Sheikh, no Egito.
Para especialistas, o momento para relançar o processo foi oportuno para Obama. A 50 dias das eleições, ele conseguiu um aperto de mãos entre Netanyahu e Abbas, além de promessas de paz dos dois lados. O desafio será mantê-los conversando nesse meio tempo, já que nenhum dos lados parece muito disposto a ceder. No último domingo, o premiê israelense afirmou, mais uma vez, que não pretende manter a moratória sobre as construções em assentamentos a partir do próximo mês ; condição considerada ;vital; pelos palestinos. Obama já começou a pressionar a AP para continuar o diálogo, mesmo com esse cenário, enquanto aperta Israel para mudar de posição. Só que mesmo essa pressão terá de ser cuidadosa, para não irritar a grande parcela do eleitorado judeu que vota com os democratas.
;Obama terá uma difícil escolha. Terá de decidir se aumenta a pressão sobre Israel na questão dos assentamentos, e expõe-se às consequências políticas negativas dentro dos EUA, ou desiste de alcançar um acordo. Porque, se o congelamento dos assentamentos for suspenso (como Netanyahu tem ameaçado), não haverá acordo;, observa Mark Katz, especialista do Middle East Policy Council. Katz afirma, inclusive, que a posição do governo israelense mostra que ele está disposto a uma queda de braço com Obama. ;Se os israelenses suspenderem o congelamento, será porque acreditam que Obama não será capaz de pressioná-los.;
Liderança
Para David Nice, professor da Universidade Estadual de Washington, um fracasso notório nas negociações pesará mais para o presidente fora do que dentro dos Estados Unidos, e poderá até mesmo fragilizar sua posição de líder global.
;Como um presidente que chegou à Casa Branca sem muita experiência política, a imagem pública de Obama poderá receber um impulso, se um acordo der certo. Um acordo bem-sucedido pode também aumentar a sua posição com os líderes europeus a demonstrar alguma habilidade diplomática. Por outro lado, um fracasso poderá suscitar dúvidas sobre sua capacidade de liderança;, avalia.
Katz acredita que o exemplo de governos anteriores, como o de Richard Nixon, podem ser imitados por Obama. ;Nixon e Henry Kissinger (secretário de Estado) foram muito bem-sucedidos em obter acordos limitados. E conseguiram isso porque estavam dispostos a aplicar uma pressão real sobre as várias partes, incluindo Israel.;