Mundo

Talibãs prometem realizar atentados no dia das eleições no Afeganistão

Agência France-Presse
postado em 16/09/2010 10:30
Os afegãos comparecerão às urnas no sábado (18/9) para eleger os deputados, um ano depois da eleição presidencial marcada por acusações de fraude e que terminou na reeleição de Hamid Karzai, apesar das ameaças de atentados dos talibãs.

A futura composição da Assembleia, no entanto, não implicará mudanças substanciais em um país onde o presidente concentra o poder e só consegue manter-se pela presença dos quase 150.000 soldados das forças internacionais, mais de dois terços americanos.

Mais de 2.500 candidatos disputam as 249 cadeiras na Wolesi Jirga, a Câmara Baixa do Parlamento, nas segundas eleições legislativas por voto universal desde a queda do regime talibã, no fim de 2001. Do total, 68 vagas são reservadas às mulheres.

Mais de 10,5 milhões de eleitores estão registrados, mas segundo estimativas 15% dos locais de votação não abrirão as portas por falta segurança em áreas de intensa atividade insurgente.

Os talibãs voltaram a defender nesta quinta-feira o boicote das eleições e convocaram os afegãos a aderir à guerra santa e à resistência contra os invasores estrangeiros. Também ameaçara executar atentados. "Convocamos nossa nação muçulmana a boicotar este processo, para destruir todas as manobras dos estrangeiros e expulsar os invasores de nosso país, mantendo a guerra santa e a resistência islâmica", afirma o comando talibã em um comunicado recebido pela AFP.

"Uma eleição organizada sob a ocupação dos americanos serve apenas aos interesses dos invasores e prolonga a tragédia que nosso país vive", completa a nota.

"Todas as estradas que levam aos locais de votação serão atacadas, e as forças de segurança e as pessoas que trabalham na organização das eleições serão nossos alvos prioritários", declarou Zabihullah Mujahid, porta-voz do movimento talibã.

Os extremistas organizaram uma campanha de intimidação dos candidatos durante o processo eleitoral.

Pelo menos três candidatos foram assassinados e dezenas de ataques foram executados, sem mencionar a violência diária que aumentou nos últimos três anos.

Os civis são as principais vítimas do conflito, enquanto as forças internacionais já registraram mais de 500 mortos desde o início do ano, contra 521 em todo 2009.

O panorama da violência não mudou, apesar do envio nos últimos meses de 30.000 soldados adicionais por Washington. "As eleições não serão perfeitas, mas tenho certeza que serão melhores que as do ano passado", disse Staffan de Mistura, representante especial da ONU no Afeganistão.

O juiz sul-africano Johann Kriegler, um dos membros estrangeiros da Comissão de Queixas Eleitorais (ECC), já advertiu que a votação será marcada por fraudes.

A poucos dias das eleições, 3.000 títulos eleitorais falsos, produzidos no Paquistão, foram apreendidos na província de Ghazni. Para tentar evitar fraudes, os eleitores terão que marcar o dedo com tinta indelével.

No total, 270.000 observadores afegãos e estrangeiros vão supervisionar a votação, enquanto a segurança ficará a cargo de 400.000 soldados do país e internacionais.

Os resultados oficiais definitivos devem ser divulgados apenas no dia 31 de outubro.

A Assembleia afegã reúne um conjunto variado de políticos, de antigos senhores da guerra da resistência à URSS e seus ex-adversários comunistas, passando por tecnocratas formados no Ocidente e personalidades da sociedade civil.

Apesar de ser considerada uma instituição sem muitos poderes, que apenas registraria as decisões do Executivo, a Assembleia vetou em várias ocasiões nos últimos meses os ministros propostos pelo presidente Karzai.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação