Agência France-Presse
postado em 16/09/2010 13:46
Quarenta anos depois, o Oriente Médio recorda neste período o traumático ;Setembro Negro;, como ficaram conhecidos os violentos enfrentamentos entre combatentes palestinos e o exército jordaniano, em um contexto de muitas tensões e preocupação com o futuro do processo de paz.Naquele fim de verão de 1970, os combates do ;Setembro Negro; deixaram entre 2.000 e 3.000 mortos, segundo números da Jordânia e dos palestinos, respectivamente.
O conflito teve origem na guerra árabe-israelense de junho de 1967, com a aparição dos fedayins, os combatentes palestinos, cuja missão era lutar contra Israel.
Depois da ocupação da Cisjordânia pelos israelenses, o líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Yasser Arafat, reuniu cerca de 40.000 fedayins em bases da vizinha Jordânia. Esta presença palestina se tornaria, em breve, um Estado dentro do Estado.
No dia 6 de setembro de 1970, três aviões comerciais foram sequestrados pelos militantes da Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP). Dois deles pousaram em Azrak, no leste da Jordânia. Três dias depois, um quarto avião foi sequestrado com 56 reféns britânicos e israelo-americanos.
O rei Hussein, então, é obrigado a agir: em 17 de setembro, deus ordens a seu exército para expulsar os fedayins.
Depois de 10 dias de enfrentamentos, um acordo de cessar-fogo é assinado. Os fedayins conseguem autorização para permanecer na Jordânia, mas os combates não cessariam de fato até julho de 1971. O primeiro-ministro jordaniano Wasfi Tall expulsa a resistência palestina, pagando depois com a própria vida: no fim de 1971, foi assassinado no Cairo pelo comando ;Setembro Negro;.
Quarenta anos depois, a Jordânia diz não se arrepender. Metade dos 6,2 milhões de habitantes do país é de origem palestina.
"O enfrentamento não apenas era inevitável, mas necessário (...). Se não tivéssemos agido assim, isso teria servido aos interesses de Israel na criação de um Estado palestino na Jordânia", explicou à AFP Adnan Abu Audeh, ex-ministro de origem palestina.
O ;Setembro Negro; deixou "profundas feridas, pois sangue das duas partes foi derramado", estimou o analista palestino Hani Al-Masri. Mas, apesar disso, "as relações jordano-palestinas são boas", acrescentou.
Oficialmente, a história já teve um ponto final.
Nos anos 80, Yaser Arafat e o rei Hussein se reconciliaram, mas sua relação foi marcada pela desconfiança até o fim.
Desde sua chegada ao poder, em 1999, Abdullah II apontou o papel de "apoio" da Jordânia aos direitos palestinos, e defendeu uma solução que inclua os dois Estados, israelense e palestino.
Para Hani Al-Masri, "a Jordânia se tornou o principal apoio do povo palestino".