postado em 17/09/2010 08:05
A expulsão de mais de 8 mil ciganos na França, que já alimenta há meses um debate acalorado entre conservadores e organizações de direitos humanos no país, virou ontem, de fato, assunto de todo o bloco europeu. A reunião de cúpula da União Europeia (UE), na Bélgica, foi palco de uma dura discussão entre o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e o da Comissão Europeia (CE), José Manuel Barroso, e o tema acabou dominando o encontro. O estopim foram as declarações feitas dois dias antes pela comissária europeia de Justiça, Viviane Reding, que comparou a atitude da França à perseguição nazista, durante a Segunda Guerra Mundial. Os líderes de Alemanha, Reino Unido e Espanha criticaram Reding, mas fizeram coro com os demais na manifestação de ;respeito; à ação judicial que a CE pretende abrir contra a França.De acordo com o primeiro-ministro búlgaro, Boyko Borisov, o bate-boca entre Barroso e Sarkozy, durante o almoço entre o dirigentes, foi ;muito violento;. O premiê de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, preferiu descrever a discussão como ;viril;. ;Os gritos eram tão fortes que podiam ser ouvidos do outro lado do corredor;, narrou à agência France Presse um diplomata presente. Falando à imprensa após a cúpula, o presidente francês desmentiu a briga e até os ;gritos; com Barroso. ;Se houve alguém que manteve a calma e se absteve de fazer comentários excessivos, esse alguém fui eu. Mas eu disse francamente o que a França pensa (...) e continuaremos trabalhando com Barroso, sem problemas;, afirmou.
Sarkozy não perdeu a oportunidade de dizer aos colegas, em uma das sessões de trabalho, que a CE ;feriu a França;, referindo-se às declarações da comissária. ;Foram profundamente ofensivas, e meu dever como chefe de Estado era defender a França;, disse o presidente. A seu lado, o chefe do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, também criticou a frase da titular europeia da Justiça: ;Espero que isso não volte a ocorrer e que Viviane contenha seu vigor declaratório;. A chanceler (premiê) alemã, Angela Merkel, classificou as declarações de Reding como ;infelizes;, enquanto o primeiro-ministro britânico, David Cameron, se disse ;assustado;.
Barroso não quis comentar a discussão com o presidente francês, mas reforçou a opinião da CE de que a ;discriminação de minorias étnicas é inaceitável; no continente. O órgão pretende abrir uma ação judicial contra o governo francês, sob a acusação de que a expulsão dos ciganos ; em sua maioria romenos e búlgaros ; viola a lei do bloco sobre a livre circulação de cidadãos entre os países-membros. Segundo ela, qualquer cidadão da UE pode se deslocar a um outro Estado apenas portando um cartão de identidade, e tem permissão para residir nesse país por até três meses. Depois desse período, a pessoa deverá comprovar que exerce uma atividade econômica ou estuda e dispor de ;recursos suficientes; e de um seguro de saúde ; para não se tornar um encargo para a assistência social.
No caso dos ciganos, é muito comum que eles se mudem para outro país ao término desse período, mas muitos permanecem ilegalmente ; o que é motivo de críticas intensas por parte da população. Na França, a maioria parece ter aprovado a dura ação de Sarkozy, cuja popularidade cresceu quatro pontos percentuais após a ação contra os ciganos, segundo o instituto Opinionway. Uma enquete feita pelo jornal Le Figaro mostrou que dois terços dos mais de 56 mil votantes acreditam que as críticas da UE a Sarkozy não se justificam.
O ministro francês da Imigração, Eric Besson, e seu colega do Interior, Brice Hortefeux, anunciaram que, só nos últimos dois meses, cerca de 1,7 mil ciganos ;em situação irregular; foram expulsos. No fim de agosto, Besson indicou que 8.313 romenos e búlgaros haviam sido expatriados desde 1; de janeiro.