Agência France-Presse
postado em 20/09/2010 17:56
A trégua que um jornal mexicano pediu domingo a narcotraficantes após o assassinato de um de seus fotógrafos evidencia o alto nível de intimidação exercido pelos cartéis das drogas sobre a imprensa mexicana, submetida a uma lei de silêncio ou morte, segundo organismos internacionais.No domingo, enquanto era sepultado o fotógrafo do El Diario de Juárez, Luis Carlos Santiago, de 21 anos, assassinado na quinta-feira por pistoleiros, esse diário publicou um editorial dirigido aos "senhores das diferentes organizações que disputam o domínio de Ciudad Juárez".
Pelo menos dez jornalistas foram assassinados este ano no México, enquanto outros dez foram considerados desaparecidos ou sequestrados, e este ano foram registrados atentados com explosivos contra pelo menos quatro sedes de canais de televisão.
No editorial intitulado "O que querem de nós?", El Diario de Juárez reconhece os narcotraficantes como "as autoridades de fato nesta cidade", a mais atingida pela luta contra o narcotráfico e epicentro de uma guerra entre dois cartéis que já teve mais de 2.000 homicídios este ano.
"Como trabalhadores da informação queremos que nos expliquem o que querem de nós, o que querem que publiquemos ou deixemos de publicar, para saber a que nos atermos", acrescentou o editorialista do jornal.
O editorial do diário de Ciudad de Juárez teve grande repercussão na imprensa mexicana nesta segunda-feira.
El Universal ressaltou que o texto é "um dupla reivindicação para as autoridades e os criminosos" diante do sentimento de abandono que domina grandes regiões. Os jornais Reforma e La Jornada, reproduziram os principais trechos do editorial do periódico de Ciudad Juárez.
O editorial "evidencia o nível de intimidação que existe contra a imprensa, que é uma constante nos meios locais" mexicanos e também "a grave falta de resposta por parte do governo", disse à AFP Ricardo González, da organização internacional de defesa da liberdade de imprensa Artículo 19.
A organização Comitê para a Proteção de Jornalistas, com sede em Nova York (CPJ, siglas em inglês), que ressaltou há duas semanas em um informe que a imprensa mexicana está submetida a um "silêncio ou morte" pelo narcotráfico, pediu ao governo medidas para proteger os jornalistas.
Segundo o CPJ, pelo menos 22 jornalistas foram assassinados e sete desapareceram desde que o presidente Felipe Calderón assumiu o poder e em dezembro de 2006 lançou uma ofensiva contra o narcotráfico -que incluiu a mobilização do Exército- na qual morreram 28.000 pessoas.
Ciudad Juárez se tornou palco de uma disputa entre os cartéis de Juárez e Sinaloa, que no ano passado deixou 2.660 mortos e mais de 2.000 este ano.
O pronunciamento do El Diario de Juárez "é uma expressão extrema, dramática e penosa e faz parte das diversas demonstrações de falência do Estado de Direito em muitas partes do país", ressaltou o congressista Carlos Rico, do opositor Partido Revolucionário Institucional (PRI).
Em uma primeira reação oficial, a Secretaria de Governação (Ministério do Interior) lembrou que trabalha em um plano para a proteção dos jornalistas ameaçados, como havia solicitado em agosto uma missão de relatores sobre liberdade de expressão enviada pela ONU e pela OEA.
Mas essas medidas chegam tarde, consideraram dirigentes políticos. "O jornalista assassinado tinha que ter recebido proteção especial", disse Yolanda Valencia, congressista da ala governista que preside uma comissão de acompanhamento dos ataques contra jornalistas e meios de comunicação.