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Parentes seguem o penoso resgate dos mineiros presos a 700m da superfície

postado em 22/09/2010 08:00
Copiapó, cidade de 130 mil habitantes encravada no deserto de Atacama (norte do Chile), se agarra à fé e à paciência para enfrentar um dos piores dramas de sua história. A 45km dali, um grupo de 33 homens também se prende a uma espera sem fim, na mina de ouro e cobre San José. Já se passaram 49 dias desde que o teto cedeu, deixando os operários presos a 700m de profundidade. Se entre os soterrados o clima é de apreensão, os familiares experimentam uma esperança contaminada pelo medo. Antenor Barrios e a mulher se fixaram no Acampamento Esperanza, montado dentro da mina, à espera de notícias do filho, Carlos Barrios Contreras, de 27 anos. ;Minha família está bem unida, graças a Deus. Estamos aguardando o resgate;, afirma ao Correio, por telefone. Questionado se sempre teve certeza de que Carlos sobreviveria, o pai foi enfático: ;Sim, completamente, desde o primeiro minuto tive fé e confiança de que tudo sairia bem;.


A justificativa para tanto otimismo está em um momento em especial. Antenor conta que, no dia do acidente, o filho quase foi coberto pela terra. ;O túnel tem formato de caracol e 9km de extensão. Quando a terra cedeu, meu garoto estava a apenas 300m do local atingido;, explica. Perto dele, outras duas famílias da comunidade Tierra Amarilla, a 15km de Copiapó, também esperam. Antenor conta que conversou com Carlos no último domingo. ;Ele disse estar bem, pediu que eu tenha paciência e que não me preocupe com ele;, relata. Mas o pai se considera o principal prejudicado nesse drama. ;É o único filho que eu tenho. É como se tivessem arrancado alguma coisa de mim. Está difícil assimilar isso todos os dias;, confidencia, com a voz embargada.

Lorenzo Galleguillos, irmão de Jorge Galleguillos, um dos 33 mineiros soterrados na mina San José, no Chile (em espanhol)


Ouça entrevista com Antenor Barrios, pai de Carlos Barrios Contreras, um dos 33 mineiros soterrados na mina San José, no Chile (em espanhol)


Perguntado se alguma vez chegou a perder a esperança, Antenor, é direto. ;Sim, sim, por várias ocasiões. Mas temos uma força muito boa, que são os companheiros da comunidade. Eles também trabalham no resgate;, explica. O pai de Carlos recebe muitas das informações sobre a situação dos 33 mineiros pelos amigos. ;Sabemos das coisas antes mesmo que as autoridades;, afirma. Após Carlos ser resgatado, ele deseja que o rapaz arrume outro emprego. ;Temos uma comuna em Terra Amarilla e quero que ele se dedique a isso, que saia da mina;, acrescenta. Antenor espera que isso ocorra entre 10 e 15 de outubro, embora ontem autoridades tenham mantido a previsão para novembro.

Resistência

Os 33 mineiros resistem bravamente a uma das condições mais penosas que o ser humano é capaz de suportar. Antenor diz que o governo do Chile monitora diariamente as condições de saúde deles. ;Todos estão bem. Apenas aqueles com mais de 50 anos apresentam problemas normais para a idade, como diabetes, hipertensão e depressão;, revela. Também por telefone, Lorenzo Galleguillos, irmão de Jorge, de 56 anos, disse ao Correio que uma das perfuradoras chegou a 630m de profundidade e começou, no domingo, a ampliar o diâmetro do duto. Ele garante que Jorge e seus colegas estão bem. ;Os mineiros sabem que a máquina está perfurando o buraco e que o resgate é uma questão de tempo;, comenta.

Ele e o irmão se falaram no domingo. ;Jorge contou que estava bem e perguntou sobre nossa família. Disse que tem alimentação e roupas novas sempre;, relata Lorenzo. Ele acredita que os 17 primeiros dias depois do acidente foram mais angustiantes, porque até então não houvera qualquer contato com os soterrados. Agora, a família Galleguillos escreve e envia cartas para Jorge todos os dias. Nesses papéis, o mineiro consegue se apegar ao mundo externo e sobreviver.

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