Agência France-Presse
postado em 22/09/2010 16:43
O governo do presidente americano, Barack Obama, foi alvo de violentas lutas internas ao elaborar a nova estratégia para o Afeganistão em 2009, segundo reporta o célebre jornalista Bob Woodward em um livro cujos trechos foram publicados pela imprensa nesta quarta-feira (22/9).Nesta obra, que será lançada na segunda-feira sob o título "Obama;s Wars" ("as guerras de Obama"), o autor descreve as divergências que apareceram no centro da equipe de segurança nacional da Casa Branca enquanto Obama buscava uma solução ao conflito afegão, e afirma que essas diferenças ainda persistem.
Woodward, 67 anos, tornou-se célebre por ter desencadeado em 1972 o escândalo do Watergate, que derivou na demissão do então presidente Richard Nixon.
Golpes baixos, contratempos, insultos... o livro recria a agitada atmosfera nas altas esferas do governo, por exemplo, quando o vice-presidente, Joe Biden, partidário de que se reduzisse a presença das tropas no Afeganistão, fez declarações pouco felizes sobre o enviado especial dos Estados Unidos ao país islâmico, Richard Holbrooke: "é o bastardo mais arrogante que eu conheço".
Segundo Woodward, que teve acesso direto ao presidente e a outros funcionários, Obama, considerando que não teria o apoio da opinião pública por mais "de dois anos" sobre o tema afegão, opôs-se a qualquer compromisso no longo prazo.
"Devemos centrar tudo o que fizermos em saber como chegaremos ao ponto no qual poderemos reduzir nossa presença" no Afeganistão, explicou o presidente, segundo um trecho do livro publicado no Washington Post, jornal para o qual Woodward trabalhou.
"É necessário que este plano determine como vamos sair do Afeganistão", completou o presidente, citado no livro.
Obama revelou em dezembro sua nova estratégia, prevendo aumentar as tropas americanas em 30.000 soldados, antes de iniciar a retirada prevista para o verão do Hemisfério Norte de 2011.
O presidente rejeitou a petição do Pentágono de um reforço de 40.000 efetivos, escreveu Woodward, relatando as reuniões de Obama com o secretário de Defesa, Robert Gates, e a chefe da diplomacia, Hillary Clinton.
"Não quero que isso dure dez anos. Não quero me comprometer em longo prazo na construção de um país. Não quero gastar 1 bilhão de dólares", declarou o presidente aos dois funcionários em outubro de 2009.
O New York Times, por sua vez, notou que a data limite de julho de 2011 foi fixada em função de considerações de política doméstica.
"Não posso deixar que esta guerra se perpetue e não posso perder todo o partido democrata", disse Obama ao senador republicano Lindsey Graham, segundo um trecho do livro citado pelo jornal.
O New York Times informa que o tema afegão tirou Obama do sério, quando era pressionado em todas as partes para elaborar a nova estratégia.
"Chega disso", teria explodido, quando o exército pedia a ele pela enésima vez que aumentasse as tropas no Afeganistão.