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Diários Clarín e La Nación sofrem ataque da presidenta Cristina Kirchner

postado em 23/09/2010 08:15
Cristina Kirchner ao lado do marido, Néstor Kirchner: novo relatório liga jornais à ditaduraOs dois principais jornais da Argentina ; Clarín e La Nación; denunciaram mais uma ofensiva da presidenta, Cristina Kirchner, contra a imprensa. O governo apresentou anteontem ao Juizado Criminal Federal de La Plata um relatório que documenta ;a apropriação ilícita; da Papel Prensa. A empresa produz 75% do papel usado para imprimir os dois diários. Cristina acusa o Clarín e o La Nación de terem comprado a empresa de papel por meios ilícitos e de tortura, durante a ditadura militar de 1976-1983. O documento possui quase 200 páginas e foi apresentado ao tribunal pela Secretaria de Direitos Humanos. A denúncia coube ao secretário de Direitos Humanos, Eduardo Duhalde, para quem o Poder Executivo entende ;que os fatos desta querela constituem graves delitos previstos pelo direito penal internacional e configuram violações aos direitos humanos;.

O governo pediu ao Juizado para exigir o depoimento do presidente e diretor executivo do Clarín, Hector Magnetto, assim como a dona do mesmo jornal, Ernestina Herrera de Noble, e o proprietário do La Nación, Bartolomé Luis Mitre. O texto também pede o testemunho do ex-ditador Jorge Rafael Videla e de outros militares. ;Nós suspeitamos que estas pessoas estão envolvidas na compra ilegal da Papel Prensa, então pedimos para que testemunhem;, explicou Florencia Stero, porta-voz do governo. ;O tribunal pode chamá-los para testemunhar e, se decidir que eles estiveram envolvidos, pode mandar prendê-los;, completou Stero.

Por outro lado, os donos do Clarín e do La Nación acusam o governo de Cristina de pressioná-los por serem independentes e críticos, a um ano das eleições presidenciais. ;Nós sofremos de tudo: difamação, ameaças, espionagem, denúncias públicas. Imagino que eles perceberam que, se o objetivo for nos domesticar, não será fácil;, disse Magnetto ao Financial Times. Em entrevista ao Correio, no mês passado, o diretor-geral do Clarín, Ricardo Kirschbaum, destacou que o governo submete a mídia a uma pressão política e econômica. ;Eles continuam com esse revisionismo histórico sobre a forma como se comprou a Papel Prensa durante a ditadura militar, e fazem uma interpretação de fatos que não ocorreram, com testemunhas falsas;, afirmou Kirschbaum.

Lei
Na Câmara do Deputados continua sob estudo um projeto de lei do Executivo para declarar de interesse público a produção, a venda e a distribuição de papel para jornal. Os congressistas estão realizando audiências públicas sobre o tema e, na próxima semana, inicia-se o debate político. O ministro de Economia, Amado Boudou, defendeu a iniciativa na terça-feira, em Tucumán (norte do país), durante um fórum público para discutir o projeto de lei. Segundo ele, os sócios do Clarín e do La Nación se mostram como ;vítimas, quando na verdade (Papel Prensa) foi uma ferramenta para construir o monopólio;.

O grupo Clarín possui 49% das ações da Papel Prensa ; fundada em 1972 ;, o Estado argentino é dono de 27,46% e o La Nación, de 22,49%. A produção de 170 mil toneladas de insumo abastece 130 meios gráficos. Cristina afirma que os jornais pequenos pagam hoje US$ 650 pela tonelada de papel, enquanto o Clarín e o La Nación desembolsam US$ 500.

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