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No discurso, chanceler volta a pedir a reforma do Conselho de Segurança

postado em 24/09/2010 08:00
Celso Amorim na tribuna da Assembleia Geral: O chanceler brasileiro, Celso Amorim, aproveitou o último discurso do governo Lula na abertura do debate principal da Assembleia Geral das Nações Unidas para exaltar o desempenho da ;diplomacia independente e sem subserviências; do Brasil nos últimos oito anos. Às vésperas da eleição presidencial, suas declarações mostraram a conduta que o atual governo espera do próximo presidente em relação a temas como a reforma do Conselho de Segurança, a economia global, o desarmamento nuclear e o Irã. Aos líderes presentes no encontro ; entre eles, o norte-americano, Barack Obama, e o iraniano, Mahmud Ahmadinejad ;, Amorim reclamou que as ;potências tradicionais relutam em compartilhar o poder;. O ministro das Relações Exteriores lembrou que o Brasil, ao conseguir do Irã a assinatura do Acordo de Teerã, fez o que se espera de um membro do Conselho de Segurança.

Seguindo a linha das críticas feitas ao Conselho três dias antes, Amorim disse não ser possível continuar com ;métodos de trabalho pouco transparentes, que permitem aos membros permanentes discutirem, a portas fechadas, assuntos que interessam a toda a humanidade;. De acordo com ele, as nações mais ricas já entenderam que não podem abrir mão da ajuda dos países pobres e emergentes em questões econômicas e ambientais. ;Mas, quando se trata de assuntos da guerra e da paz, as potências tradicionais relutam em compartilhar o poder;, denunciou.

Ele garantiu que o Brasil tem insistido com o Irã para que mantenha uma postura ;flexível e aberta; às negociações ; o que, segundo Amorim, deveria ser feito por todos os envolvidos. ;O mundo não pode se permitir o risco de um novo conflito como o do Iraque;, afirmou. E, comparando a tensão crescente entre os EUA e o Irã com o período que antecedeu a invasão americana no Iraque, justificada pela busca a armas de destruição em massa, o chanceler alertou para os riscos da ;fé cega em relatórios de inteligência, feitos sob medida para justificar objetivos políticos;. O tom foi mantido na reunião de cúpula do Conselho realizada à tarde, na qual Amorim falou novamente sobre a necessidade de uma reforma que inclua mais membros permanentes.

Sermão
Em outros temas separados para o discurso, o chanceler também criticou a atuação das potências. Ao discursar sobre a economia global e a Rodada de Doha, disse que os países desenvolvidos não têm demonstrado o compromisso necessário com a estabilidade financeira global. Já em relação ao posicionamento sobre as mudanças climáticas, declarou que representantes do ;mundo rico; têm se ;escondido uns atrás dos outros;. Para completar as linhas-mestras que deverão continuar a reger a atuação externa do Brasil, Amorim condenou, mais uma vez, o ;golpe de Estado; em Honduras, o bloqueio a Cuba e à Faixa de Gaza, e as construções em assentamentos nos territórios ocupados por palestinos.

Aproveitando a oportunidade, o representante de Lula destacou às 191 nações presentes que as ;políticas públicas firmes e transparentes reduziram as desigualdades de renda, de acesso e de oportunidades; no Brasil. Segundo ele, o fato de o país manter um mercado interno forte preservou-o dos piores efeitos da crise mundial.

Ainda ontem, Amorim reuniu-se, de última hora, com o presidente turco, Abdullah Gul, um dia depois de ter se encontrado com Ahmadinejad. O tema da conversa triangular seria uma atualização da proposta de troca de combustível nuclear assinada em 17 de maio, já que as potências ocidentais consideram que as quantidades de urânio negociadas devem ser revistas, ante o aumento no estoque de Teerã desde outubro.

Leia a íntegra do discurso do chanceler Celso Amorim.

Superpotência em 20 anos

Na sua edição de outubro, a revista publicada pelo Chatham House, tradicional instituto britânico sobre relações internacionais, traz um apanhado sobre como a era Lula colocou o Brasil ;no caminho para se tornar uma superpotência nos próximos 20 anos;, e os desafios que ficam para o seu sucessor. Segundo a publicação, o Brasil gosta de se colocar como ;pacificador;, usando aptidões naturais para a conciliação e até mesmo o ;jeitinho; brasileiro nas suas relações exteriores.

;A recém-descoberta estabilidade política e econômica deu ao Brasil, até então um tímido ator no cenário internacional, a confiança de desempenhar um papel ativo, não só na América Latina, mas também em lugares como o Irã e o Oriente Médio;, destaca o artigo da revista mensal The world today. A publicação afirma que, na América Latina, onde as relações ainda têm sido ;ideologicamente orientadas;, Lula introduziu uma maneira pragmática de negociar com governos de esquerda e de direita. (IF)


Ahmadinejad afugenta delegações

Como em anos anteriores, o discurso do presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, na Assembleia Geral da ONU causou revolta entre as delegações, que deixaram o local após o líder sugerir que Washington seria responsável pelos ataques de 11 de setembro. De acordo com Ahmadinejad, certos setores no governo americano orquestraram o atentado ;para reverter a queda na economia e no controle sobre o Oriente Médio, e para salvar o regime sionista;. Horas antes, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse a Teerã que a ;porta da diplomacia; continuava aberta.

;(O atentado) foi realizado por um grupo terrorista, mas com o apoio do governo americano, que tirou vantagem da situação;, disse Ahmadinejad. As declarações provocaram a imediata saída do plenário das delegações dos EUA, do Reino Unido e da União Europeia. ;Em vez de representar as aspirações e a boa vontade do povo iraniano, Ahmadinejad decidiu novamente tagarelar sobre teorias vis de complô e usar palavras antissemitas que são detestáveis e delirantes;, destacou Mark Kornblau, porta-voz da delegação americana na ONU. Do lado de fora do prédio das Nações Unidas, grupos defensores dos direitos humanos protestaram contra a presença de Ahmadinejad no encontro.

Horas antes, Obama disse que os EUA estão abertos a Teerã, mas apenas para o ;verdadeiro diálogo;. ;Deixe-me ser claro mais uma vez: os Estados Unidos e a comunidade internacional estão em busca de uma solução para suas diferenças com o Irã, e a porta permanece aberta à diplomacia se o Irã optar por ela;, disse, destacando que Teerã deve demonstrar um comprometimento ;claro e crível;, confirmando a intenção pacífica de seu programa nuclear.

Oriente Médio
O presidente americano lançou um apelo à comunidade internacional, pedindo apoio a seu esforço pela paz no Oriente Médio e alertando que muito sangue será derramado na região, a menos que israelenses e palestinos cheguem a um acordo dentro de um ano. ;Nós podemos dizer que, desta vez, será diferente ; que desta vez nós não vamos deixar que o terror, as turbulências, as (diferentes) posições ou a politicagem mesquinha fiquem no caminho;, declarou.

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