Agência France-Presse
postado em 24/09/2010 10:48
Mais de 17 milhões de venezuelanos vão eleger um novo Parlamento no domingo, em uma votação que foi transformada por Hugo Chávez numa espécie de plebiscito sobre seu projeto político, onze anos depois de chegar ao poder."Temos a obrigação de ganhar as eleições. Nunca mais perderemos", afirmou o chefe de Estado na semana passada.
Para o governo, o objetivo é conseguir dois terços do total de 165 cadeiras em jogo, o que abrirá o caminho para seguir adiante com a chamada revolução bolivariana, o projeto político lançado por Chávez.
"Trata-se de ganhar e depois aprofundar a revolução socialista, acelerar a transição política e social da Venezuela, enterrar o velho modelo e construir o novo", acrescentou o chefe de Estado.
[SAIBAMAIS]Desde 2005, a Assembleia Nacional venezuelana (Parlamento unicameral) está totalmente dominada pela situação, já que a oposição, em uma vã tentativa de boicotar as últimas eleições, decidiu não participar nelas.
Por isso, o encontro com as urnas marcado para este 26 de setembro será para os oposicionistas de Chávez o momento chave para recuperar um espaço perdido e de criar um verdadeira debate legislativo na Venezuela.
"Tenho a esperança de que o processo imposto vai ser revertido. Nas ruas, o povo diz que já não acredita neste governo", declarou à AFP, Juan José Molina, deputado pelo Partido Podemos (dissidente do chavismo) e aspirante à reeleição.
Segundo as pesquisas, as intenções de voto mostram um empate entre o chavismo e a oposição, ou uma leve vantagem para os candidatos do PSUV.
"Cada dia são mais venezuelanos que rejeitam um comunismo à cubana. Queremos um país onde impere a inclusão, o respeito e a democracia e neste 26 de setembro demonstraremos isso ", declarou María Corina Machado, candidata opositora.
Segundo Jesse Chacón, diretor-geral do instituto de pesquisas GIS XXI, ligada ao governo, a situação prevê obter entre 50,6% e 54,6% dos votos, o que lhe dariam 110 deputados sobre 165, graças ao sistema proporcional em vigor.
Consciente do desafio, o governo, começando por Chávez, se concentra nessas eleições. A propaganda oficial inunda as ruas, vários ministros estão dedicados exclusivamente à campanha e o Executivo incrementou a presença policial assim como a concessão de recursos e créditos.
"Se eles vencerem, acabarão com tudo e tirarão Chávez da presidência, mas se nós ganharmos, os enterraremos para sempre ", assegurou Aristóbulo Istúriz, chefe do comando de campanha do PSUV.
Para o analista político Aexander Luzardo, nesta campanha Chávez substituiu seus candidatos e se converteu no "presidente deputado".
"O debate se empobrece. Não são discutidos a gestão da Assembleia ou as propostas dos parlamentares, pois tudo se centra na figura de Chávez", explicou.
Mas a popularidade do presidente, que continua sendo forte, mostrou nos últimos tempos que não é invulnerável aos principais problemas do país, começando pela violência e inflação recorde.
"Existe um desgaste, uma crise de governabilidade, o Executivo é acusado de ineficiência em inúmeros temas. Por isso, Chávez tenta concentrar a liderança, criar uma relação direta entre ele e o povo ", explicou Luzardo.
Para Chávez, estas eleições serão, além disso, um ensaio das presidenciais de 2012, nas quais aspira um terceiro mandato.
"Os ventos anunciam os furacões de 2012, quando iremos às eleições presidenciais outras vez para os próximos seis anos ", avisou o presidente.
A participação nas legislativas deve ser maior que nas votações passadas devido à motivação do eleitorado, segundo a organização Olho Eleitoral.
"A sociedade quer expressar-se eleitoralmente. As pessoas sentem agora a necessidade de Assembleia", concorda Luzardo.