Agência France-Presse
postado em 24/09/2010 10:54
A oposição ao presidente venezuelano Hugo Chávez enfrenta com otimismo as eleições legislativas do próximo domingo, confiante num retorno ao Parlamento após cinco anos de ausência para equilibrar forças, em um país polarizado pela política.Agrupados em torno da Mesa da Unidade Democrática, cerca de 30 organizações políticas conseguiram construir, com sérias dificuldades, um discurso e uma lista únicos para lançar seus candidatos a este pleito, que tanto governo quanto oposição consideram crucial.
A coalizão está convencida de que, depois de 11 anos de governo de Chávez, os venezuelanos estão decepcionados com as altas taxas de criminalidade, com a recessão econômica e com a vida política protagonizada por setores irreconciliáveis.
Por isso, a aposta da oposição unida é conseguir entre 60 e 70 dos 165 assentos parlamentares para fortalecer a democracia e construir uma Assembleia Nacional mais diversificada, que funcione efetivamente como órgão de controle do Poder Executivo. As pesquisas indicam que este objetivo pode ser conquistado no próximo domingo.
"É preciso ganhar no 26 de setembro, primeiro porque nas ruas já se sente que somos maioria, mas também porque é uma obrigação recuperar a pátria, reencaminhá-la pela Constituição e a legalidade", declarou à AFP Delsa Solórzano, líder da oposição.
"Uma nova era vai começar. Seremos maioria, que legislará para as pessoas, que controlará e obterá um equilíbrio entre os poderes do Estado", insistiu.
[SAIBAMAIS]A oposição está ausente da vida parlamentar desde 2005, quando decidiu boicotar as eleições legislativas alegando falta de garantias. O pleito, no entanto, não foi anulado, e a coalizão do governo se transformou praticamente no único ator atuante no Assembleia Nacional venezuelana.
Hoje, o bloco reconhece que a decisão foi um erro.
Desde 2005, assistem impotentes a um Parlamento que concedeu a Chávez poderes excepcionais para legislar e aprovou leis para fortalecer o chamado "socialismo do século XXI".
Cinco anos depois, o discurso da oposição é de unidade, e suas bandeiras são o combate à pobreza, à corrupção e à crescente violência, que apenas em 2009 contabilizou 19.000 vidas, segundo estatísticas oficiais.
A oposição também acusa Chávez de ter partido o país em dois.
Estas eleições "trazem a possibilidade de estabelecer uma visão diferente da que controla atualmente o destino do país. Estamos vivindo em duas Venezuelas: a simpática ao governo, que goza de benefícios, e a que é constrangida, perseguida, marginalizada", disse à AFP Enrique Mendoza, veterano político social-cristão.
"Aqui não se trata de tirar Chávez do (palácio presidencial de) Miraflores, e sim de tirar Chávez do coração das pessoas. Embora sejamos minoritários, temos que conquistá-los com uma visão distinta", comentou o candidato Julio Borges, do partido Primero Justicia.
Chávez, no entanto, continua contando com grande apoio popular, e disputará em 2012 um terceiro mandato presidencial, sem que a oposição tenha neste momento a perspectiva de apresentar um candidato de peso para combatê-lo.