Mundo

Com GPS em bota de Mono Jojoy, Colômbia mata número dois das Farc

Guerrilheiro que entregou o artefato ganhará R$ 4,6 milhões como recompensa

postado em 25/09/2010 08:00 / atualizado em 22/09/2020 10:50

Sete toneladas de explosivos foram lançadas na madrugada de quarta-feira sobre o bunker de Jorge Briceño Suárez, o ;Mono Jojoy;. Mas o destino do comandante militar das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) começou a ser selado com uma traição. De acordo com a rádio colombiana RCN, a inteligência colombiana interceptou uma comunicação da guerrilha, na qual os rebeldes falavam sobre a necessidade de Jojoy obter sapatos ;especiais;. O rebelde sofria de diabetes e a doença lhe agravara as bolhas dos pés. Um de seus homens de confiança recebeu das autoridades colombianas as botas com um dispositivo GPS ; localizador via satélite ; escondido. Luis Eladio Pérez, senador colombiano e refém das Farc entre 2001 e 2008, fala sobre a morte do guerrilheiro Mono Jojoy (em espanhol). Depois disso, o Exército passou a monitorar os movimentos de Jojoy e a conhecer detalhes preciosos sobre sua rotina. ;Foi uma operação cirúrgica, porque não objetivou desmantelar o acampamento, mas atingir seu objetivo. Sabíamos que ele tinha o costume de se levantar entre 1h (23h em Brasília) e 4h (2h em Brasília) para consultar documentos. Decidimos atacar às 2h;, contou o ministro da Defesa, Rodrigo Rivera, em entrevista à emissora de rádio La W. ;Jojoy foi entregue por sua própria gente;, confirmou. O GPS passou a transmitir sinais por vários dias, mas os indícios de movimento foram percebidos na última segunda-feira, quando o vice-líder das Farc caminhou até o acampamento onde seria morto dois dias depois. O jornal El Tiempo divulgou que ;vários guerrilheiros; ajudaram a repassar aos militares as coordenadas exatas do bunker de Jojoy e, por isso, receberão parte da recompensa de 5 bilhões de pesos colombianos (R$ 4,6 milhões). O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, autorizou a Operação Sodoma no último dia 16. Somente na madrugada da última quarta-feira, 72 aeronaves lançaram mais de 30 bombas inteligentes de 226kg cada sobre o acampamento situado na área de selva conhecida como La Macarena, no departamento (estado) de Meta. Três ondas de bombardeios expulsaram Jojoy de seu refúgio, um abrigo de 300m2 ligado a uma complexa cadeia de túneis. Quase 24 horas depois dos bombardeios, 400 dos melhores combatentes das forças especiais do Exército, da Marinha e da polícia desceram de rapel, a partir de helicópteros, e minaram focos de resistência. Carlos Nasi Lignarolo, cientista político da Universidad de Los Andes, fala sobre a morte de Mono Jojoy, guerrilheiro das Farc (em espanhol). O corpo de Jojoy tem um grande ferimento na parte da frente, entre outras lesões, e está coberto de lodo. Em um dos pulsos, foi encontrado um ;luxuosíssimo; relógio de marca Rolex. ;Já temos a confirmação das impressões digitais. Está 100% confirmado de que se trata de Mono Jojoy;, assegurou Rivera, que ontem fez questão de cumprimentar pessoalmente os soldados que participaram da Operação Sodoma, em La Macarena. Até o fechamento dessa edição, os médicos legistas ainda não haviam determinado se o guerrilheiro morreu em razão de disparos de arma de fogo ou dos bombardeios. Além de Jojoy, sete corpos foram levados ao Instituto de Medicina Legal de Bogotá ; cinco homens e duas mulheres. Segundo o jornal El Tiempo, o comandante vestia uma calça verde-oliva e um poncho branco e preto. Seu rosto estava inflamado e a calvície era mais evidente. Sucesso Por e-mail, Vicente Torrijos, professor de ciência política e relações internacionais da Universidad del Rosario (em Bogotá), admitiu ao Correio que o uso de cooperantes e de recompensas é um ingrediente que melhor explica o êxito da política de segurança do presidente Juan Manuel Santos. ;Os guerrilheiros rasos preferem voltar à democracia e serem premiados, antes de se verem a ponto de perder a vida frente à contundente iniciativa militar do Estado ou de seguirem lutando por uma causa revolucionária impopular e sem rumo certo;, comenta. Torrijos crê que as Farc (1) continuarão sendo um ;grupo terrorista importante;. ;Sua estrutura organizacional está muito desgastada. O Estado dispõe de um aparato estratégico muito refinado e a população rechaça radicalmente o uso da violência como método político;, lembra. O especialista atribui a sobrevivência da guerrilha ao apoio de poucos governos simpatizantes. ;Um bom número de líderes se refugia atualmente na Venezuela, no Equador e na Nicarágua;, acrescenta. Para Carlos Nasi Lignarolo, diretor de pós-graduação do Departamento de Ciência Política da Universidad de Los Andes, a traição sofrida por Jojoy não pode ser vista em um contexto generalizado de deserção ou cooptação na guerrilha. ;O governo alega que as Farc estão completamente desmoronadas por dentro. Provavelmente, a morte dele foi influenciada também, em boa medida, pelo aparato tecnológico de espionagem das forças de segurança;, admite. Ele diz ser prematuro inferir como as Farc reagirão e lembra que o grupo propôs um diálogo com Santos, cerca de 10 dias antes da Operação Sodoma. 1 - Rendição descartada No primeiro pronunciamento após a morte de Mono Jojoy, as Farc afirmaram que continuam ;reclamando uma oportunidade para a paz, não para a rendição;. ;O único caminho é a solução política e pacífica para o conflito social e armado interno, e nela somos e seremos fator determinante;, afirma nota divulgada pela Resistencia, revista oficial das Farc.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação