Agência France-Presse
postado em 25/09/2010 11:29
Caracas - A crescente violência que vive a Venezuela virou um dos principais temas da campanha para as eleições legislativas deste domingo, e obrigou o governo de Hugo Chávez a abordar uma questão que ele geralmente evita, sob acusações de incompetência por parte da oposição.
"Há sete anos a insegurança é um dos principais problemas do país, mas agora nós a vivemos tão cruelmente e ela afeta tantas pessoas que o governo se viu obrigado a abordar o tema em função das eleições", afirma o sociólogo Ángel Oropeza à AFP.
[SAIBAMAIS]"Apesar de o presidente Chávez preferir não discutir sobre insegurança, agora teve que fazê-lo porque a campanha da oposição teve impacto ao tratar de um problema concreto que afeta tanta gente", prosseguiu.
Os venezuelanos, que no próximo domingo vão às urnas renovar a Assembleia Nacional (dominada pelo governo), consideram a violência o principal problema do país, segundo as pesquisas.
Chávez, que se transformou na principal figura da campanha, abordou recentemente o assunto, mas negou "que a Venezuela seja um dos países mais inseguros do mundo".
"A delinquência é um tema difícil. Não deixaremos de atacar o problema e toda sua integralidade", afirmou o chefe de Estado, que geralmente evita falar de insegurança em seus discurso e cujo governo não difunde dados sobre a violência há anos.
Uma semana antes do início da campanha, dados oficiais vazados à imprensa apontaram que houve mais de 19.000 assassinatos em 2009 na Venezuela, o que a transforma no país mais violento da região.
Aproveitando a conjuntura, a oposição iniciou sua campanha com uma manifestação em Caracas para enfatizar a necessidade de segurança no país.
"A insegurança mata nossos filhos todos os dias. Além disso, é acompanhada por uma gargalhada do governo", denunciou Adicea Castillo, da Frente Nacional de Mulheres.
Para o sociólogo Ignacio Ávalos, "a divulgação das cifras do próprio governo fez com que o presidente se desse conta que o tema da violência é muito importante e não responde às políticas sociais do governo".
"De maneira muito hábil, o governo começou a tocar no tema, já que não podia evitá-lo", explicou.
No Parlamento, os deputados governistas aceleraram a discussão de uma lei sobre desarmamento e, além disso, foi incrementada a presença policial em lugares mais críticos, como estações de metrô e alguns bairros de Caracas.
Mas para o criminologista Marcos Tarre, as respostas oficias não terão efeito sobre os problemas estruturais que geram a violência.
"Por exemplo, não implantam um controle da polícia ou um sistema de atenção às vítimas'.
Estas legislativas são cruciais porque marcarão a volta ao Parlamento da oposição, que decidiu não participar nas eleições de 2005. Para Chávez é importante obter ao menos dois terços dos deputados para continuar com seu projeto político da "Revolução Bolivariana".
Por isso Ávalos acha que nem oposição nem governo estão pensando seriamente em soluções para a insegurança.
"Quando um tema como este é falado em meio a eleições tão importantes, o tratamento que se dá a ele acaba não sendo real nem científico", concluiu.