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Eleições Venezuela são marcadas por alto índice de comparecimento

postado em 27/09/2010 09:30
Como já é de praxe nos dias de votação na Venezuela ; foram 11 eleições e referendos nos últimos 11 anos ;, a população, em várias cidades, foi acordada com música nas ruas e fogos de artifício, em uma tentativa de estimular o maior número de pessoas a comparecer às urnas. Desta vez, no entanto, a preocupação do governo com o número de eleitores foi maior. Primeiro, para evitar que se repetisse o cenário de 2005, quando apenas 25% dos venezuelanos aptos a votar nas eleições parlamentares exerceram seu direito, em parte devido ao boicote promovido pela oposição. Tal repetição poderia colocar em questão a legitimidade da Assembleia Nacional, que tem apenas 10 anos ; dos quais a metade foi completamente ocupada por governistas. Outra preocupação era evitar, ao máximo, a perda de cadeiras governistas no Parlamento, que terá os 165 assentos renovados para os próximos cinco anos.

Durante todo o dia, o próprio presidente, Hugo Chávez, convocou os venezuelanos a irem votar, com declarações à imprensa e por meio de sua conta na rede de microblogs Twitter. Segundo o presidente, a participação poderia ultrapassar 70% dos mais de 17,5 milhões de eleitores até o fim do dia. ;Já às 9h (10h30 em Brasília), a participação estava no nível das eleições presidenciais de 2006, pelo menos 70%;, disse, reforçando depois o apelo para que continuasse a ;crescer a avalanche; de votos. ;Vamos votar. O que queremos aqui é democracia e participação;, declarou.

Após votar, no Bairro 23 de Janeiro, bastião da esquerda venezuelana em Caracas, acompanhado de duas filhas e de dois netos, Chávez se mostrou otimista em relação a uma vitória dos chavistas nas urnas. ;Esse povo está dando uma lição. Estou certo de que a voz do povo será ouvida.; Ele ainda desafiou a oposição a convocar um referendo para tirá-lo do poder. ;É estranho que alguns analistas digam que estou balançando e sem apoio popular. Então, convoquem um revogatório. Busquem as assinaturas, em vez de esperar que Chávez parta em um raio;, alfinetou.

Mas não foi só o mandatário que passou o dia convocando os venezuelanos a votarem. O candidato oposicionista Enrique Mendoza, que concorre a um posto pelo estado de Miranda, alertou para as consequências de quem não comparecesse às urnas. ;Se você não vota, está perdendo o seu direito de se queixar no futuro. É como se estivesse colocando uma mordaça. Então, convido a todos a comparecer aos centros de votação e se expressar;, disse Mendoza.

Atraso

A votação teve início às 6h locais (7h30 em Brasília), e o fechamento das urnas estava previsto para as 18h (19h30 em Brasília), mas, por conta do atraso de até três horas para abertura de alguns colégios eleitorais, quem estivesse na fila na hora prevista para o encerramento receberia senhas e poderia votar. Segundo a imprensa venezuelana, grandes filas podiam ser vistas durante quase todo o dia em vários locais de votação.

Organizações civis, como a Súmate, receberam 569 denúncias de irregularidades. A maioria foi registrada nos estados de Carabobo e Miranda, e no Distrito Capital, onde fica Caracas.

Até o fechamento desta edição, não havia começado a apuração, e o resultado final pode não ser divulgado hoje. Para o especialista Carlos Pio, da Universidade de Brasília (UnB), apesar de ser inevitável que os chavistas percam espaço na Assembleia ; totalmente dominada por eles até então ;, a alteração no limite dos distritos eleitorais não deverá resultar na perda da maioria. Nem a maior presença da oposição ameaçará a governabilidade de Chávez. ;A verdadeira importância dessas eleições para a oposição é a ocupação de espaços para organizar-se para as eleições presidenciais de 2012;, avalia.


O PALPITE DE CHÁVEZ
Após votar para a formação da nova Assembleia Nacional na Venezuela, o presidente Hugo Chávez se mostrou otimista com o resultado de outra eleição: a presidencial no Brasil, que será realizada no próximo domingo. Segundo ele, o sucessor do colega Luiz Inácio Lula da Silva ;continuará governando pelo mesmo caminho, criando a união sul-americana e a libertação do nosso povo;, e terá 80% de aprovação, ;igualzinho; a Lula. ;A coisa vai bem no Brasil. Há bons ventos por lá e faltam apenas alguns dias; para a eleição, disse Chávez, fazendo referência à vantagem da candidata de Lula ao Planalto, Dilma Rousseff, nas pesquisas de intenção de voto. ;Na América do Sul, se acendem as luzes da esperança, e não vamos permitir que sejam apagadas por mais impérios, por mais ameaças, por mais lacaios que haja em todos os povos;, afirmou o líder venezuelano.

Para saber mais
Um fórum polêmico


Criada há 10 anos pelo governo de Hugo Chávez para substituir o Congresso da República, que respondeu pelo Poder Legislativo nos últimos dois séculos, a Assembleia Nacional se tornou uma das iniciativas do mandatário mais questionadas pela oposição venezuelana. Pela Constituição Bolivariana, de 1999, o espaço bicameral, com Câmara e Senado, se tornou unicameral, e com menos representantes. Enquanto o Congresso tinha espaço para 54 senadores e 207 deputados eleitos, agora são apenas 167 os assentos na Assembleia.

Desde que foi concebida, a Assembleia passou por duas eleições ; em 2000 e em 2005. Na primeira, os governistas ocuparam mais de 100 dos 165 assentos. Os partidos de oposição, representados principalmente pelo Ação Democrática, pelo Projeto Venezuela e pelo democrata-cristão Copei, conquistaram menos de um terço das cadeiras. No pleito seguinte, os três decidiram não concorrer a vagas na Assembleia,sob a alegação de falta de transparência no processo eleitoral. O boicote foi seguido por partidos menores, como o de centro-direita Primeiro Justiça. A abstenção nas urnas, em 2005, ultrapassou os 75%. Como resultado, nos últimos cinco anos, o Legislativo ficou inteiramente nas mãos dos chavistas, que agora veem ameaçado o seu poder total.

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