postado em 27/09/2010 09:35
O anúncio da saída do experiente diretor do Conselho Econômico Nacional, Lawrence Summers, representa a mais recente perda do núcleo estratégico do governo de Barack Obama. Em menos de três meses, foram quatro os que pediram para sair ; e também é dada como certa a troca do chefe de gabinete, Rahm Emanuel, que pretende concorrer a prefeito de Chicago ;, todos alegando motivos pessoais. Apesar de não serem incomuns mudanças no gabinete presidencial no meio do mandato, a debandada às vésperas das eleições parlamentares, e com a economia ainda em lenta recuperação, é vista por muitos como uma consequência natural do baixo desempenho da equipe e até como uma alternativa do próprio governo para salvar seus dois últimos anos, garantindo chances de reeleição em 2012.Até agora, as mudanças se concentraram na equipe econômica: o diretor de Gestão e Orçamento, Peter Orszag, e a chefe do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca, Christina Romer, já deixaram o núcleo de Obama. O diretor de estabilidade financeira do Departamento do Tesouro, Herbert Allison, também anunciou que sairá em breve. Da equipe que formava a ;tropa de choque; da economia, restou apenas o secretário do Tesouro, Timothy Geithner ; cujo cargo já vem sendo pedido pelos republicanos há algum tempo e que pode não resistir a uma tomada do Congresso pela oposição.
;As mudanças são uma tentativa de ajuste, já que a Casa Branca está com a popularidade bastante baixa, sendo atacada por todos os lados ; por republicanos e democratas;, afirma a especialista Cristina Pecequilo, da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Para ela, é preciso considerar ainda o próprio desgaste de alguns desses nomes, após dois anos de atuação considerada insatisfatória. ;O Summers é um que veio com uma expectativa extremamente elevada de trazer de volta os bons anos da era (Bill) Clinton (na qual foi secretário do Tesouro), mas, no fim, não conseguiu chegar nem perto disso;, observa.
Julian Zelizer, professor da Universidade de Princeton, defende, por sua vez, que é bastante comum, na política americana, que as pessoas comecem a deixar o governo após dois anos de mandato. ;O que torna a história maior é que isso envolve grande parte dos mais altos nomes da equipe econômica, bem como um dos principais estrategistas políticos (Emanuel). O agrupamento das partidas na equipe de política econômica é sinal de que os dirigentes atuais estão cansados e que há interesse na Casa Branca para novas direções;, avalia.
O cientista político David Nice, da Washington State University, acredita que, apesar de comum, neste caso a rotatividade na equipe econômica também ;reflete os problemas econômicos; enfrentados atualmente no país. ;A média dos indicados é permanecer apenas cerca de 18 meses, já que as tensões em seus trabalhos tendem a ser muito elevadas. E, agora, as demandas são enormes.; Para Frank Baumgartner, cientista político da Universidade da Carolina do Norte, no entanto, as saídas, até agora, são simplesmente justificadas pelos motivos pessoais apresentados por cada um. ;Summers e Romer completaram seu período de dois anos fora da universidade, então precisavam retornar. Emanuel quer concorrer à prefeitura de Chicago, o que é legítimo;, destaca. ;Isso não quer dizer, contudo, que o governo vá bem. São só duas coisas diferentes;, completa.
Oportunidade
Independentemente das razões que motivaram as saídas, os especialistas ouvidos pelo Correio concordam em um ponto: esse é um momento de mudança que não pode ser dispensado por Obama. ;Deve haver agora mais ênfase em ideias criativas e não convencionais para que a economia entre nos eixos;, afirma Nice. Ele sugere, por exemplo, que Obama busque um ou mais assessores republicanos para contribuir com novas ideias, garantir uma ;ponte; com a oposição no Congresso e melhorar seu relacionamento com Wall Street.
Apesar de considerar que o timing das alterações não foi o melhor para Obama ; a um mês das eleições que vão mudar a composição de mais de dois terços do Capitólio ;, Pecequilo acredita que o presidente precisa assumir agora os riscos de mudanças significativas. ;O Clinton só mudou esse tipo de nome-chave depois que perdeu a eleição parlamentar para os republicanos. Acho que Obama deveria ter esperado até novembro;, destaca, considerando que as alterações são, de fato, resultado de uma decisão da Casa Branca. ;Mas agora é preciso colocar um nome forte, quebata de frente com alguns pilares democratas e republicanos, já que a situação é grave e eles não conseguem sair da crise;, ressalta.
Deve haver agora mais ênfase em ideias criativas e não convencionais para que a economia entre nos eixos;
David Nice, cientista político da Washington State University.
Debandada geral
Em pouco mais de dois meses, quatro importantes nomes da equipe de Obama anunciaram sua saída da Casa Branca. Outros estão cotados para deixar altos postos nos próximos meses. Veja a movimentação na equipe democrata:
Peter Orszag, diretor de Gestão e Orçamento
; Foi o primeiro alto funcionário da Casa Branca a deixar o posto na gestão Obama, em julho deste ano. Orszag, que participou da confecção do plano de estímulo econômico de US$ 787 bilhões aprovado em 2009, sempre disse que não permaneceria no posto por mais de dois anos. Ele renunciou antes de começar a ser discutido o orçamento de 2011. Logo após sua saída, Jacob Lew foi nomeado por Obama para o posto, mas ainda não assumiu.
Christina Romer, chefe do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca
; Menos de um mês após a saída de Orszag, Christina alegou motivos pessoais para deixar a equipe de Obama. Ela voltou a dar aulas na Universidade da Califórnia, mas assegurou que contribuirá no painel não governamental criado para encontrar soluções para a crise econômica. No seu lugar, assumiu o economista Austan Goolsbee.
Larry Summers, diretor do Conselho Econômico Nacional
; Secretário do Tesouro durante o governo de Bill Clinton, Summers era considerado o nome ;experiente; à frente da política econômica de Obama. Ele mesmo anunciou sua saída na última terça-feira, mas concordou em continuar trabalhando como membro do Painel de Conselheiros Econômicos da Presidência. Summers voltará a lecionar em Harvard, onde foi presidente, de 2001 a 2006. Para o seu lugar, estão cotados basicamente empresários, como David Cote, presidente da Honeywell International, Richard Parsons, presidente do Citigroup, e Anne Mulcahy, a ex-presidente executiva da Xerox Corporations.
Herbert Allison, diretor da Agência sobre a Estabilidade Financeira, no Departamento do Tesouro
; O alto funcionário anunciou, na última quarta-feira, sua renúncia por meio de uma mensagem eletrônica, alegando razões pessoais. Ele era responsável por supervisionar e coordenar o plano de estímulo econômico.
Rahm Emanuel, chefe de gabinete
; Já é dada como certa a saída de Emanuel para concorrer à prefeitura de Chicago, e, apesar de as primárias para a nomeação do candidato democrata a prefeito estarem previstas para fevereiro, ele deverá sair do posto ainda em outubro. Entre os nomes cotados para substituí-lo, está o do número dois do Conselho de Segurança Nacional, Tom Donilon.
# Possíveis saídas
David Axelrod, principal assessor político de Obama
; De acordo com a rede CBS, Axelrod deixará o posto em Washington para começar a trabalhar na campanha para a reeleição de Obama, em 2012. No seu lugar, assumiria o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs. Axelrod foi o estrategista da campanha de Obama à Presidência, em 2008.
Timothy Geithner, secretário do Tesouro
; Para alguns, com a saída de tantas peças-chave da Casa Branca, Geithner passaria a ser o nome forte do governo. Outros especulam que ele também será substituído em breve, abrindo espaço para uma renovação completa na equipe econômica de Obama. O líder da minoria republicana na Câmara, John Boehner, já pediu a cabeça de Geithner e a de Summers.