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Militares americanos que mataram por esporte no Afeganistão são examinados

Os expedientes de cinco soldados americanos acusados de matar civis por diversão e, em alguns casos, de ter desmembrado os corpos e conservado os ossos usados em fotografias, começam a ser examinados nesta segunda-feira pelo Exército americano.

As audiências preliminares, que devem durar várias semanas na base de Lewis-McChord, no estado de Washington, devem determinar se há elementos suficientes para realizar um processo num tribunal militar.

O assunto é potencialmente explosivo para o exército americano, que se esforça para ganhar a confiança da população afegã, em particular na província de Kandahar - reduto dos talibãs -, reduto dos talibãs -, onde os fatos teriam ocorrido há vários meses.

A audiência desta segunda-feira (27/9) trata do caso do soldado Jeremy Morlock, de 22 anos e originário de Wasilla (Alasca). É um dos cinco militares acusados de assassinatos com premeditação de três afegãos entre janeiro e maio passados, enquanto outros sete são acusados de obstruir uma investigação do caso.

Os soldados serviam em uma base da província de Kandahar (sul do Afeganistão) e faziam parte da 5a. brigada de combate Stryker da segunda divisão de infantaria americana.

Morlock e outros soldados também são acusados de ter surrado um de seus companheiros, para obstruir uma investigação sobre o consumo de haxixe dentro do grupo.

Segundo o expediente da parte acusadora, Morlock "ameaçou matá-lo se mencionasse o uso de haxixe e mostrou dedos extraídos de um cadáver".

Funcionários informaram em maio à AFP que o soldado que havia denunciado os fatos a sua hierarquia foi severamente surrado, quase até a morte.

Os motivos e detalhes em torno dos assassinatos continuam muito imprecisos e as autoridades militares são alvo de acusações segundo as quais estas teriam sido advertidas por tais atrocidades, mas que demoraram a reagir.

O pai de Adam Winfield, um dos acusados de assassinato, declarou à imprensa americana que seu filho chegou a alertar, através do Facebook, que sua unidade havia matado um civil afegão sem qualquer motivo e pretendiam reincidir. O pai, Christopher Winfield, também afirmou ter avisado as autoridades militares e um parlamentar da Flórida a respeito.

As autoridades acusam outro soldado, Michael Gagnon, de ter conservado o crânio de um cadáver; e acusam um terceiro, Corey Moore, de ter esfaqueado um dos corpos e vários militares de tirar fotos de suas vítimas.

As acusações não foram provadas, mas são graves, declarou o porta-voz do Pentágono, Geoff Morrell. No dia 19 passado, o jornal The Washington Post divulgou documentos do exército e entrevistas com pessoas envolvidas neste caso.

A publicação informou que a brincadeira macabra dos soldados teria começado no último inverno, quando um afegão se aproximou de um soldado na localidade de La Mohammed Kalay.

À medida que o homem se aproximava, o soldado criou tumulto para dar a impressão que estava sob ataque. Seus companheiros abriram fogo e mataram o afegão.

De acordo com o Post, o ataque não provocado aconteceu em 15 de janeiro passado e foi o início de uma série de fatos parecidos, que constituem uma das piores acusações já feitas contra os soldados americanos desde a invasão do país em 2001.

Segundo a publicação, as mortes em questão teriam sido cometidas puramente por esporte por parte de soldados alcoolizados e drogados. Os soldados envolvidos negam todas as acusações, acrescenta o jornal.