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Chávez colhe resultados de gestão autoritária e crise econômica

postado em 28/09/2010 07:26
Brasília ; O resultado preliminar das eleições de domingo (26/9) na Venezuela mostra que a diminuição da força política do presidente venezuelano, Hugo Chávez, na Assembleia Nacional é gerada por vários fatores, segundo especialistas. Pelos primeiros resultados, os chavistas obtiveram 95 e não 110 cadeiras, como planejavam, do total de 165 assentos. Para os especialistas, Chávez colheu o desgaste e o descontentamento de uma gestão autoritária, assim como sofre os efeitos da crise econômica, elementos que devem influenciar nas eleições presidenciais de 2012.

Os professores Daniel Aarão Reis, de história contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF), e Carlos Eduardo Vidigal, de estudos e pesquisas de história da América da Universidade de Brasília (UnB), analisam que a Venezuela, a partir destas eleições, entra em nova etapa política. ;Certamente o resultado destas eleições surtirá efeitos em 2012. O presidente Chávez terá de negociar com a oposição ou seguir para uma posição de autoritarismo total, como o fechamento do Parlamento, por exemplo;, disse Vidigal.

Aarão Reis e Vidigal lembram que, em 2005, a oposição boicotou as eleições parlamentares, permitindo que Chávez governasse sem adversários na Assembleia Nacional. Mas, no domingo (26), a oposição mudou de estilo e partiiu para o embate obtendo, em um primeiro momento, 61 cadeiras no Parlamento. Com isso, o governo será obrigado a negociar, na tentativa de alinhavar acordos para aprovar os projetos de seu interesse.

;Nas eleições passadas, elas [as forças de oposição] tinham cometido o brutal erro de se abster, de pregar o abstencionismo. O resultado foi desastroso porque o Congresso ficou inteiramente nas mãos dos partidários de Chávez;, observou Aarão Reis. ;[Mas tudo isso muda muito para a população], um Congresso plural vai tornar a democracia venezuelana mais animada, mais viva, mais rica do ponto de vista político.;

Na campanha contra Chávez e em favor oposição há as dificuldades econômicas na Venezuela. O desabastecimento é uma das principais queixas da população, que reclama da falta de produtos básicos, como leite e manteiga, em algumas regiões. Além disso, existe a previsão de inflação de 30%. Paralelamente, o governo ainda tenta conter as ameaças de um novo apagão energético no país.

;Podemos ter um período de instabilidade política na Venezuela. Tudo depende de como o presidente Chávez vai conduzir esse processo;, afirmou Vidigal. ;O resultado das eleições muda os rumos da oposição e também influencia nas atitudes [futuras] do presidente da República;, disse ele.

Mas em favor de Chávez há o fato de a oposição não ter um nome forte para fazer frente ao presidente, nem apresentar ideias concretas que se coloquem como uma antítese à proposta chavista. Apesar desse quadro, a expectativa é que o cenário político para 2012, quando ocorrem as eleições presidenciais na Venezuela, seja diferente do atual.

;Sem dúvida, Chávez terá agora mais dificuldades;, concluiu Aarão Reis. ;Uma oposição ativa congressual provocará fricções constantes e, tendencialmente, mais desgaste. Entretanto, o fato de o presidente [Chávez] conservar grande popularidade e mais a máquina pública são dois trunfos para 2012. Outro é a ausência até agora, nas oposições, de um político de estatura nacional que possa enfrentá-lo.;

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