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Extremistas islâmicos planejavam atacar três países simultaneamente

Alvos eram Londres e as principais cidades da Alemanha e da França. Suspeito preso em Cabul confessa o complô, avalizado por Osama bin Laden, às autoridades norte-americanas

postado em 30/09/2010 09:27
Policial armado mantém vigília diante da Downing Street, sede do governo britânicoA ameaça começou a ser rastreada duas semanas atrás, depois que o suspeito de terrorismo Ahmed Sidiqi resolveu abrir a boca e contou às autoridades de inteligência dos Estados Unidos tudo o que sabia. Osama bin Laden, líder da rede Al-Qaeda, teria dado o aval para uma operação de jihad (guerra santa) simultânea e devastadora na Europa. Sidiqi revelou que comandos de militantes islâmicos espalhariam a morte e o medo em Londres e nas principais cidades da França e da Alemanha (leia o quadro nesta página). Com base nas informações do preso, o serviço secreto norte-americano interceptou os mentores da conspiração.

A rede de TV Sky News divulgou que o plano atingira um estado ;avançado, mas não iminente;. ;O complô era embrionário;, admitiu à agência Associated Press uma autoridade britânica, sob a condição de anonimato. ;Esse (plano) nos preocupou mais que os outros das últimas semanas ; e ainda está ativo.; A descoberta coincidiu com duas ameaças de bomba contra a Torre Eiffel neste mês e com a intensificação de ataques aéreos não tripulados dos Estados Unidos no Paquistão. No último sábado, bombardeios realizados por aviões espiões Predator mataram Sheikh Fateh Al-Masri, líder da Al-Qaeda no Afeganistão e no Paquistão, e alguns dos ideólogos da conspiração.

De acordo com Magnus Ranstorp, especialista em terrorismo do Colégio de Defesa Nacional Sueca, o complô está ligado diretamente ao núcleo da Al-Qaeda no Waziristão do Norte. A região montanhosa, situada no noroeste do Paquistão, serviria de guarida a Bin Laden e a centenas de extremistas. ;A organização tem estado sob pressão para produzir um ataque, já que o último ocorrera em Londres, em 7 de julho de 2005;, afirma o analista, em entrevista por e-mail.

O planejamento do atentado ilustraria a complexidade do perigo enfrentado pela Europa. Ranstorp lembra que diferentes países do Velho Continente mantêm preocupações em relação aos radicais muçulmanos. ;A França é ameaçada pela Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQIM), baseada no norte da África, após proibir as burcas; e a Alemanha tem um problema especial com 200 indivíduos que viajaram para campos de treinamento terrorista na fronteira afegã-paquistanesa ; 80 deles receberam instruções de grupos filiados à rede Al-Qaeda no Waziristão do Norte;, alerta.

Arena de batalha
Segundo ele, Berlim também seria alvo em potencial por ter cedido soldados para a Força Internacional de Assistência à Segurança (Isaf), baseada no Afeganistão. Por sua vez, o serviço secreto britânico MI-5 tem alertado sobre o risco representado pela facção somali Al-Shaabab, presente no Reino Unido. Ranstorp crê que a Europa sempre será uma arena de batalha para o terrorismo internacional. ;O continente fornece alvos fáceis e pode dividir a sociedade, levando-a à polarização.;

O britânico MJ Gohel, expert em terrorismo pela Asia Pacific Foundation (em Londres), explica que a preocupação é que um grupo de extremistas lance ataques simultâneos em várias cidades de diferentes países, usando apenas granadas e metralhadoras. De acordo com ele, após o atentado em Mumbai, a inteligência ocidental obteve acesso a dados de computadores apreendidos de um grupo islâmico paquistanês, nos quais apareciam listados alvos em potencial.

;O Reino Unido e os EUA fizeram repetidos apelos aos militares paquistaneses para que desmantelassem os campos de treinamento, por meio de ofensivas terrestres. Mas o Exército de Islamabad fracassou;, explica Gohel. Ante a inércio do governo do presidente Asif Ali Zardari, os Estados Unidos dobraram os ataques com aviões não tripulados. ;A morte de Sheikh Fateh e de suspeitos de envolvimento no complô reduzirá a ameaça. Mas o perigo não se esvaiu;, advertiu. No início do mês, Qari Hussain Mehsud, líder da facção Tehrik-i-Taliban Pakistani (TTP, o Talibã paquistanês), avisou: ;Nós lançaremos ataques na América e na Europa muito em breve;.

Memória
O pesadelo de Mumbai


Em 2008, 10 terroristas do Paquistão chegaram a Mumbai por meio de botes e lançaram múltiplos ataques à capital comercial da Índia. Comandos de atiradores invadiram dois hotéis cinco estrelas ; o Taj Mahal e o Trident-Oberoi ;, uma estação ferroviária e o centro judaico Nariman House. A intenção dos extremistas islâmicos era assassinar o maior número possível de civis ocidentais, judeus e indianos.

O massacre durou 60 horas, mobilizou a atenção da mídia internacional durante três dias e terminou com a morte de 166 pessoas, após explosões de granadas e disparos de armas de fogo. Os ataques ocorreram entre 26 e 28 de novembro de 2008. Apenas um militante islâmico foi capturado vivo. Ajmal Kasab revelou que o grupo integrava a facção Lashkar-e-Tayiba.

De acordo com investigadores, os extremistas partiram de Karachi, a principal cidade portuária do Paquistão, e sequestraram um barco pesqueiro indiano no Mar da Arábia, matando seus quatro tripulantes. O capitão, único sobrevivente, foi forçado a navegar até Mumbai, onde acabou assassinado. Entre os mortos nos atentados, estavam 28 estrangeiros procedentes de 10 países.

O governo do estado de Maharashtra anunciou uma compensação financeira de US$ 10 mil às famílias de cada uma das vítimas. Os atentados ficaram conhecidos como o 26/11 da Índia e uma comissão de investigadores concluiu que a ação estava acima de qualquer força militar. No entanto, as autoridades acusaram a polícia de Mumbai de falta de liderança. A ofensiva danificou as relações já estremecidas entre Índia e Paquistão e levou o governo paquistanês a mover tropas para a fronteira.

Objetivo principal: matar

Saiba detalhes do plano terrorista descoberto pelos serviços de inteligência da Alemanha

O informante
Ahmed Sidiqi foi preso em Cabul, em julho, e transferido para a custódia dos Estados Unidos. Ele e outros extremistas muçulmanos alemães viajaram de Hamburgo para a fronteira entre Afeganistão e Paquistão, em 2009, e se alistaram ao Movimento Islâmico do Uzbequistão, aliado à Al-Qaeda

Alvos do provável ataque
Os terroristas escolheriam alvos econômicos de Londres e das maiores cidades da França e da Alemanha. Os pontos atingidos seriam, preferencialmente, instituições financeiras, como bancos e bolsas de valores

Modus operandi
Os atentados seriam simultâneos e realizados por comandos terroristas, que utilizariam armas de fogo e ;explosões espetaculares;. A conspiração teria sido descoberta no início de setembro. Imediatamente, o Exército dos Estados Unidos começou a ajudar os aliados europeus a rastrear os mentores, no Paquistão

Passaportes ocidentais
Oficiais de inteligência indicam que há interesse da rede Al-Qaeda em usar militantes com passaportes ocidentais em um ataque. Os extremistas seriam europeus e, provavelmente, africanos, paquistaneses, turcos, uzbeques e tadjiques

Aval de Osama bin Laden
De acordo com a rede de TV CNN, o líder da rede terrorista Al-Qaeda, Osama bin Laden, respaldou pessoalmente o plano

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