Quito - A rebelião policial no Equador na quinta-feira, motivada por uma lei que limita os benefícios dos oficiais, deixou quatro mortos e o país em suspense, em um dia no qual o presidente Rafael Correa foi resgatado por militares do hospital onde estava sitiado.
De acordo com os dados divulgados no primeiro boletim oficial sobre os confrontos, quatro pessoas morreram e 193 ficaram feridas.
Correa trabalhava normalmente, seguindo a agenda oficial, depois de ter sido resgatado na noite dessa quinta-feira em uma operação militar que deixou dois mortos e 37 feridos durante uma intensa troca de tiros com policiais rebeldes.
O ministro do Interior, Gustavo Jalkh, disse à imprensa que a Polícia retomava as atividades. "Isto é o que deve ser feito e conseguir com esse trabalho uma reconciliação com a sociedade e com o país como se deve", afirmou.
Entretanto, o demissionário comandante da Polícia, general Freddy Martínez, afirmou que a instituição está em "relativa calma", ressaltando que a quinta-feira "foi um dia lamentável, crítico, caótico, porque a segurança do presidente estava em jogo".
Correa, que trabalhava na Casa de Governo cercada por militares, chamou o levante de "golpe de Estado" e recebeu o respaldo unânime da comunidade internacional, incluindo a ONU e a OEA, além dos Estados Unidos e de vários governos da América Latina.
A União de Nações Sul-Americanas (Unasul) condenou a rebelião em uma reunião de cúpula de urgência em Buenos Aires e destacou, na declaração final, "a necessidade de que os responsáveis pela tentativa de golpe sejam julgados e condenados".
A reunião também decidiu que os chanceleres da Unasul viajariam nesta sexta-feira (1/10) a Quito para expressar apoio a Correa. Os ministros chegarão a Quito nesta tarde, assim como o secretário da OEA, José Miguel Insulza.
Os ministros virão "mostrar a unidade da América do Sul e sua posição contra qualquer tipo de golpe de Estado nos países da região", informou o vice-chanceler equatoriano, Kintto Lucas.
"O caminho do golpismo que começou em Honduras não terminou. O objetivo disto é atacar os governos progressistas e a democracia na América Latina", declarou o chanceler argentino Héctor Timerman antes de embarcar.
Já o presidente da UE, o belga Herman Van Rompuy, disse ficou tranquilo ao "ver que a calma e a ordem institucional no Equador foram restabelecidas".
A rebelião dos policiais teve início na manhã de quinta-feira com a tomada de vários quartéis em Quito, Guayaquil e Cuenca, como protesto contra uma lei que corta alguns benefícios financeiros de oficiais, além de outros funcionários públicos.
O presidente compareceu a um dos quartéis em Quito para deixar claro que não cederia às pressões. "Senhores, se querem matar o presidente, aqui está, matem-no se tiverem vontade, matem-no sem têm poder, matem-no se têm valor ao invés de ficarem na multidão covardemente escondidos", afirmou Correa.
Os rebelados atacaram o presidente e a comitiva na saída do quartel com bombas de gás lacrimogêneo, e Correa teve que ser levado de maca para um hospital policial próximo, onde foi cercado pelos agentes.
Correa anunciou a demissão dos policiais que aderiram à tentativa de golpe e repetiu que não revogará a lei que motivou a revolta.
Ele apontou Lucio Gutierrez, ex-presidente derrubado em 2005, como um dos responsáveis pela "tentativa de golpe de Estado efetuada pela oposição e por alguns setores das Forças Armadas e da Polícia".
Colômbia e Peru reabriram nesta sexta-feira as fronteiras com o Equador, que tinham sido fechadas durante a revolta. No caso colombiano, a medida respondeu a "uma rechaço a uma situação que não pode acontecer nem no Equador nem em qualquer país", disse a chanceler María Angela Holguín.