postado em 01/10/2010 09:35
Cerca de 50 integrantes brasileiros do Movimento dos Sem Terra (MST) aguardavam nesta quinta-feira (30/9) a reabertura do aeroporto de Quito e a normalização das atividades no Equador. Entre os dias 8 e 16 de outubro, está prevista a realização do V Congresso da Coordenadoria Latino-Americana de Organizações do Campo (Cloc), que pretende reunir camponeses e autoridades de todo o continente para discutir soberania alimentar e questões agrárias. ;O congresso teria início na semana que vem. Dentro desse clima de instabilidade, a gente não sabe como vai ficar. Essas situações não se resolvem rapidamente;, disse Cristiane Passos, assessora da Comissão Pastoral da Terra (CPT), órgão da Igreja Católica que atua com os movimentos agrários. Segundo a assessora, cinco membros da organização brasileira já estão em Quito e outros dois estariam ainda no Peru, à espera da reabertura do aeroporto, anunciada no início da noite de ontem. Cristiane explica que as organizações camponesas no Equador apoiam o governo Correa, mas ;cobram mais iniciativas;.
Na noite de ontem, policiais amotinados no Exército do Equador entraram em confronto com tropas do Exército que resgataram o presidente Rafael Correa do hospital de Quito onde os rebelados o mantinham cercado, em uma crise que o governo classificou como tentativa de golpe de Estado por parte da oposição direitista e de ;setores; das Forças Armadas. De volta ao palácio, o presidente confirmou a morte de um policial no tiroteio. Horas antes, ele dissera que os rebelados o mantinham como ;refém;, reafirmara a decisão de só negociar com após o fim da sublevação e proclamara que só deixaria o local ;como presidente ou como cadáver;. Correa colocou o Equador em estado de exceção para enfrentar a crise, iniciada de manhã com o motim de policiais contra a perda de benefício. Segundo o ministro de Segurança Interna e Externa, Miguel Carvajal, os protestos tinham deixado mais um morto durante o dia. De acordo com outras autoridades, cerca de 50 pessoas teriam sido atendidas com ferimentos nos hospitais de Quito.
Aprovada pelo presidente na quarta-feira, a nova Lei do Serviço Público elimina bônus e gratificações, e motivou os policiais a tomarem quartéis na capital e nas principais cidades, como Guayaquil e Cuenca. Os amotinados atacaram o presidente com bombas de gás lacrimogêneo quando, por volta das 10h, Correa compareceu ao principal quartel de Quito para dialogar. ;É um golpe liderado pela oposição e por certos setores das Forças Armadas e da polícia;, acusou, falando à TV local. ;Senhores: se querem matar o presidente, aqui estou: matem-me, se tiverem vontade, matem-me, se tiverem valor, em vez de esconder-se na multidão;, disse depois, exaltado, falando diretamente aos rebelados.
O Aeroporto Internacional de Quito, ocupado por militares da Força Aérea, estava fechado até o início da noite. O chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas, Ernesto González, ressaltou que a instituição está com o presidente. ;Estamos em um estado de direito, estamos subordinados à máxima autoridade, o presidente da República;, disse.
Correa teve de usar máscara para suportar o gás lacrimogêneo e foi levado ao Hospital da Polícia. Depois, anunciou que estava ;pensando seriamente; em optar pela ;morte cruzada; ; mecanismo constitucional que o permite dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições gerais antecipadas. ;Vemos que alguns setores da direita estão se unindo a um grupo das Forças Armadas. É um pretexto para tentar tomar o poder. A Assembleia e alguns servidores públicos também se uniram à polícia. Correa tentou discutir o assunto, mas eles não quiseram nem negociar;, relatou ao Correio Cristiane Passos, assessora da Comissão Pastoral da Terra (CPT, órgão da Igreja brasileira), que está em Quito para organizar um congresso.
A possibilidade de dissolver o Legislativo já tinha sido cogitada na noite de quarta-feira ; antes do motim da polícia ;, durante reunião com a ministra de Política, Doris Solís, para enfrentar resistências aos vetos presidenciais a alguns itens da Lei de Serviço Público. ;A morte cruzada é uma das possibilidades. Estamos em um projeto de mudança e precisamos construir leis de consenso;, disse Solís, que lamentou a ;inconsequência; da oposição, apoiada por um setor governista. Segundo a Constituição, a ;morte cruzada; só pode ser usada uma vez nos três primeiros anos de mandato, quando o presidente julgar que a Assembleia Nacional tenha exacerbado suas funções constitucionais ; ou em situação de ;grave crise política e comoção interna;.
Apelo
Em meio à tensão que marcou todo o dia, o presidente do Banco Central, Diego Borja, pediu à população que mantivesse a tranquilidade e não retirasse dinheiro dos bancos, pois, sem a segurança policial, poderiam ser alvo de criminosos. ;O pior que pode acontecer neste momento é entrar em pânico, tirar dinheiro e colocar-se em risco de assalto;, ponderou Borja.