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EUA pedem desculpas por infectar guatemaltecos com doenças venéreas

Agência France-Presse
postado em 01/10/2010 20:41
Washington - Os Estados Unidos pediram desculpas nesta sexta-feira (1/10) por financiar um estudo nos anos 40 envolvendo centenas de guatemaltecos, que foram infectados com sífilis e gonorréia sem o consentimento.

O estudo, realizado entre 1946 e 1948 na Guatemala, foi "claramente uma falha ética condenável", afirmou a secretária americana de Estado, Hillary Clinton, ao pedir desculpas a "todos os indivíduos que foram afetados por estas práticas repugnantes".

O presidente da Guatemala, Alvaro Colom, qualificou as experiências como "um crime contra a humanidade" e não descartou a possibilidade de denunciar o caso.

"É um crime contra a humanidade que ocorreu naquela época e nosso governo se reserva o direito de denunciá-lo", afirmou o presidente, que foi informado do caso por Hillary Clinton.

Na tarde de hoje, o presidente Barack Obama telefonou a Colom para pedir desculpas e reafirmar o "firme compromisso dos Estados Unidos de assegurar que todos os estudos médicos atuais cumprem com os parâmetros éticos e legais".

A pesquisa em questão envolveu populações vulneráveis, incluindo doentes mentais, que não foram informados do que iria ocorrer.

Os participantes foram incentivados, inclusive, a contaminar outras pessoas com doenças venéreas, e alguns envolvidos que contraíram sífilis não foram tratados.

Francis Collins, atual diretor do Instituto Nacional de Saúde (NIH, em inglês), organismo americano que promoveu o estudo, qualificou o fato com um "atroz exemplo de um obscuro capítulo da história da medicina".

O estudo, jamais publicado, foi descoberto quando a professora Susan Reverby, do Wellesley College, tropeçou com documentos que comentavam os testes com guatemaltecos dirigidos pelo sanitarista americano John Cutler.

A experiência foi financiada pelo NIH e pelo Bureau Sanitário Pan-Americano (hoje Organização Pan-Americana da Saúde), com o objetivo de investigar novas formas de prevenir doenças venéreas.

A OPS lamentou hoje as experiências e ofereceu "cooperar plenamente" para investigar o ocorrido.

Cutler e os colegas pretendiam descobrir se a penicilina, relativamente nova nos anos 40, poderia curar as doenças em questão. Ao menos 1,5 mil pessoas participaram do estudo.

A primeira fase da experiência consistiu em inocular sífilis ou gonorréia em prostitutas, que foram incentivadas a ter relações sexuais sem proteção com soldados e prisioneiros.

Na segunda fase, "quando alguns destes homens estavam contaminados, o enfoque da investigação mudou e passaram a inocular diretamente em soldados, prisioneiros e pacientes de hospitais psiquiátricos".

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