postado em 02/10/2010 08:00
;É o anúncio com menos suspense de todos os tempos;, disse o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, antes de confirmar a saída do seu chefe de Gabinete, Rahm Emanuel, e a nomeação de Pete Rouse. A brincadeira se deve ao fato de a renúncia de Emanuel para concorrer à prefeitura de Chicago circular, há várias semanas, pela imprensa americana. Novidade mesmo foi a escolha de Rouse, que já era assessor de Obama na Casa Branca e, segundo o presidente, é um ;solucionador de problemas;. Emanuel é o mais recente alto funcionário a deixar o gabinete, em uma série de saídas que levarão o governo a uma nova fase, já de olho na campanha pela reeleição, em 2012.Obama classificou o momento de seu governo como ;agridoce;, já que ninguém poderia ter sido um chefe de Gabinete melhor que Emanuel. ;É justo dizer que não poderíamos ter conquistado o que conquistamos sem a liderança de Rahm;, disse o presidente, citando a recuperação pós-crise econômica e as novas leis financeiras e de saúde.
Emocionado, o ex-chefe de Gabinete não poupou elogios a Obama, cuja popularidade caiu a patamares críticos. ;Você teve a coragem de tomar as decisões difíceis que interromperam a queda livre e salvaram nosso país de uma segunda Grande Depressão;, afirmou. Emanuel ainda brincou com a própria imagem de enérgico e confrontador ao se comparar com Obama. ;Senhor presidente, eu pensei que fosse durão... Quero agradecer-lhe por ser o líder mais forte que qualquer país poderia pedir durante os tempos mais difíceis que qualquer presidente já enfrentou.;
Obama se referiu ao novo braço direito como um político ;esperto e habilidoso;. ;Há um ditado na Casa Branca que diz ;deixe o Pete resolver;;, comentou. ;Pete é conhecido como um solucionador de problemas, e a boa notícia para ele é que temos muitos problemas a resolver;, completou o presidente, destacando que o assistente assume o posto no início da ;próxima fase do governo;.
Gabinete renovado
A mudança é a quinta em menos de três meses. Primeiro, foi o diretor de Gestão e Orçamento, Peter Orszag, seguido da chefe do Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca, Christina Romer. Há 10 dias, foi a vez de o importante diretor do Conselho Econômico Nacional, Larry Summers, anunciar sua partida para retornar à Universidade de Harvard. O quarto a deixar o posto foi o diretor da Agência sobre a Estabilidade Financeira, do Departamento do Tesouro, Herbert Allison.
Apesar de o chacoalhão na equipe ocorrer antes das eleições legislativas de novembro, é pouco provável que ele tenha um impacto direto nas urnas, para salvar as maiorias democratas no Congresso. Espera-se, contudo, que Obama aproveite a saída para colocar na equipe nomes que possam ajudar o governo a tirar de vez o país da crise em que ainda se encontra, com taxas tão altas de desemprego ; quase um em cada 10 trabalhadores.
Personagem da notícia
Discreto e eficiente
Há casos em que um apelido diz muito sobre o dono, e a máxima vale plenamente para o novo chefe de Gabinete de Barack Obama. Mais do que como colaborador próximo do atual presidente, Pete Rouse é conhecido em Washington como ;o 101; senador;, tal é a sua intimidade com o Congresso. Chefiou a assessoria de congressistas democratas nos últimos 30 anos, inclusive a do próprio Obama, quando desembarcou no Senado federal, em 2004. A parceria com o hoje titular da Casa Branca, porém, vem desde o início da carreira política, em Chicago. Nas últimas duas décadas, Pete Rouse esteve por trás nas decisões cruciais do jovem político.
Aos 64 anos, o novo chefe de Gabinete consolidou a fama de articulador discreto e eficiente, preocupado antes de tudo em não aparecer. Ninguém deve esperar vê-lo nos talk shows que dominam o fim de semana televisivo nos Estados Unidos, ao contrário do que ocorria com Rahm Emanuel. O próprio Obama se refere a Rouse como um homem ;sem ego nenhum;, embora tenha para si o crédito de ;resolver os problemas; do chefe ; desde o Congresso de Illinois, passando pelo Capitólio e agora na própria Casa Branca.
Experimento antiético
Passados mais de 60 anos, os Estados Unidos pediram ontem desculpas oficiais pelos resultados de um experimento no qual os pesquisadores infectaram com sífilis e gonorreia prisioneiros, mulheres e doentes mentais na Guatemala. Em comunicado, a secretária de Estado, Hillary Clinton, e a secretária da Saúde, Kathleen Sebelius, condenaram a pesquisa conduzida entre 1946 e 1948, realizada durante os governos do presidente guatemalteco Juan Bermejo e do norte-americano Harry Truman, destinada a testar a então recém-desenvolvida penicilina.
Os presos eram infectados por prostitutas e depois tratados com o antibiótico. ;O estudo de inoculação da doença transmitida sexualmente conduzida entre 1946 e 1948 na Guatemala foi claramente antiético;, assinalaram as secretárias, que consideraram a experiência inaceitável. O programa americano infectou cerca de 700 pessoas, sem que elas dessem permissão. Na nota, Clinton e Sebelius afirmam estar ;indignadas de que tal investigação inaceitável tenha ocorrido sob o disfarce de (serviço de) saúde pública;.