Agência France-Presse
postado em 03/10/2010 12:29
HAVANA - O governo de Cuba inicia na segunda-feira um processo de seis meses para demitir 500 mil trabalhadores excedentes do Estado, o que deve gerar muitas dificuldades na transferência dos desempregados para um incipiente setor privado."A cessação trabalhista de muitos será um processo de readaptação que terá uma dificuldade especial", afirmou o cardeal Jaime Ortega, que admitiu as preocupações, além de um "pouco de expectativa". No entanto, o religioso também considerou que as mudanças do governo são "positivas".
Para tentar acalmar as inquietações, o jornal oficial Granma admitiu que alguns núcleos familiares podem ser afetados durante a aplicação da medida, mas destacou que ao lado deles "estará a revolução humanista, avaliando e propondo soluções, de acordo com as possibilidades reais".
O governo de Raúl Castro acredita que a eliminação de pouco mais de um milhão de empregos - 500.000 deles entre outubro e março de 2011 - dos 4,2 milhões existentes em empresas e instituições estatais, dará maior produtividade e eficiência à economia, o que no futuro pode aumentar os salários.
Segundo o governo ditatorial, 465 mil dos demitidos serão absorvidos pelo setor não estatal. Licenças serão concedidas para pequenos negócios, que passarão a pagar impostos.
Para promover também as médias empresas, não apenas as pequenas, o governo também autorizou a livre contratação de trabalhadores - antes permitida apenas aos familiares -, que também será taxada.
As medidas foram recebidas por muitos cubanos como opção de emprego e a chance de melhorar de vida, já que o Estado paga 20 dólares de salário mensal, mas outros estão pessimistas com o peso do pagamento de tributos e a falta de acesso ao crédito, que ainda está sendo avaliado pelo Banco Central.
Para tentar reduzir as inquietações, milhares de assembleias foram celebradas na última semana na ilha: os Comitês de Defesa da Revolução (CDR) e a Central dos Trabalhadores de Cuba (CTC, única) tentaram explicar a necessidade da medida.
Os demitidos receberão um mês de salário como compensação e aqueles que não conseguirem entrar no setor privado 60%, segundo o tempo de serviço, com um teto de até cinco meses para aqueles com mais de 30 anos de trabalho.