postado em 04/10/2010 08:00
A menos de um mês das eleições parlamentares nos Estados Unidos, os dois principais partidos vivenciam crises internas cujo resultado mais nocivo se mostrará nas urnas. Os democratas ; de longe os mais ameaçados pelo pleito do próximo dia 2 ; estão divididos no apoio ao cada vez mais impopular Barack Obama. O presidente, por sua vez, criticou a ;letargia; dos integrantes e eleitores do partido, em entrevista divulgada na última semana. Do lado oposto, a ameaça é a radicalização caracterizada pelo Tea Party, a ala mais à direita dos republicanos. Apesar de ter levantado o apoio da adormecida base ultraconsevadora, sua ascensão tem provocado fissuras no partido, o que pode comprometer o desempenho republicano na corrida presidencial de 2012.O impacto mais imediato das duas situações será na formação do próximo Congresso, que atualmente conta com maioria democrata nas duas casas. Pesquisas compiladas pelo site Real Clear Politics mostram que os governistas certamente perderão o controle da Câmara, e seu domínio no Senado também está bastante ameaçado. Na primeira, os democratas têm hoje 253 cadeiras, contra 178 dos republicanos. A expectativa é de que, a partir de novembro, pelo menos 207 assentos fiquem com a oposição, contra 190 dos aliados de Obama. No Senado, a vantagem de 59 a 41 para os democratas pode ser revertida pelos opositores, cuja previsão de assentos já chega a 46 entre 100.
;Há uma evidente lacuna este ano entre o entusiasmo republicano e o desânimo democrata para votar. Se os democratas quiserem evitar uma grande surra em novembro, eles precisam obter mais democratas dispostos a votar e ajudar nas campanhas;, afirma o especialista David Nice, da Washington State University. Para ele, os governistas devem tentar mobilizar os eleitores, neste último mês, para depois tentar trazer os independentes para o lado democrata.
As declarações do presidente à revista Rolling Stone, divulgada na última semana, já foram uma tentativa de motivar seus apoiadores. Segundo Obama, é preciso que os democratas abandonem a ;letargia; em que se encontram. ;A possibilidade de sofrermos com a falta de entusiasmo na base democrata, e que as pessoas estão de braços cruzados, reclamando, é completamente irresponsável. (...) Se você é sério, esta é a hora de mostrar (a seriedade);, disse o chefe de Estado.
O cientista político Mark Katz, da George Mason University, crê que a ;chacoalhada; pode surtir algum efeito positivo. ;Agora, Obama não precisa falar mais sobre como os candidatos democratas devem se focar sobre os êxitos do governo, e não apenas criticá-lo;, opina Katz. Segundo ele, considerando a crítica esmagadora já oriunda dos republicanos, em especial do Tea Party, é desnecessário enfrentar uma oposição dentro do próprio partido.
Para muitos, contudo, a bronca de Obama não foi bem-vista e pode causar mais divisões internas. ;Obama falou aos eleitores como se fosse seu chefe, seu padre ou pai. Mas ele não é nenhum desses. Ele é o seu empregado;, afirmou o colunista do New York Post John Podhorest. Ele lembrou ainda o caso do candidato republicano à Presidência Bod Dole que, em 2006, mandou os eleitores ;acordarem;, e perdeu a disputa para Bill Cllinton dias depois.
Risco republicano
Apesar da ameaça que pesa sobre os democratas no Congresso com o pleito de novembro, Nice acredita que os riscos, a longo prazo, são maiores para os republicanos. ;O Tea Party tem trabalhado para colocar o partido ainda mais à direita do que já é. Além disso, as tensões entre os republicanos moderados e os membros da facção são bastante elevadas em alguns lugares ; Alasca, Flórida e Delaware, por exemplo;, destaca. O especialista considera desastroso que um partido passe a ter companheiros que não se apoiam ; ;ou, pior, que concorram contra o candidato do seu próprio partido como independentes;.
Katz concorda que os republicanos devem temer mais o ;racha; interno. ;No Partido Republicano, os fundamentalistas religiosos ultraconservadores tornaram-se tão poderosos que os republicanos devem frequentemente recorrer a eles para conseguir a nomeação;, observa. ;Mas isso fará com que eles possam ter problemas na eleição presidencial, porque a maioria os verá como radicais.;
A possibilidade de sofrermos com a falta de entusiasmo na base democrata, e que as pessoas estão de braços cruzados, reclamando, é completamente irresponsável;
Barack Obama, presidente dos EUA, em entrevista à revista Rolling Stones
Para saber mais
A hora do chá
O termo Tea Party não é novo na política americana ; data de 1773, quando um grupo de colonos americanos de Boston resolveu questionar várias decisões da monarquia britânica, entre elas a tentativa de monopolizar a importação de chá. Recente é sua retomada pela base ultraconservadora do Partido Republicano, que, desde o ano passado, adotou o termo e a agenda de questionamentos ao governo para se tornar o principal movimento de oposição à gestão Obama.
A ascensão dos políticos ligados ao Tea Party nos últimos meses mostrou que o reforço oferecido ao Partido Republicano pela reação conservadora será o ponto-chave das eleições de 2010. Desde janeiro, pelo menos 18 nomes ligados ao Tea Party conseguiram vitórias em disputas contra democratas ou mesmo nas primárias das eleições para o Congresso, contra republicanos mais moderados. Uma das conquistas mais comentadas foi a da polêmica candidata ao Senado por Delaware, Christine O;Donnell, que derrotou o veterano deputado republicano Mike Castle nas primárias.
O principal destaque do Tea Party, contudo, é a ex-governadora do Alasca e ex-candidata à vice pelo chapa de John McCain, Sarah Palin. Colocada como a grande promessa dos ultraconservadores para 2012, Palin tem apoiado, para o Congresso, os muitas vezes desconhecidos candidatos que estão mais à direita do espectro republicano. E, ao assumir o papel de madrinha do Tea Party, Palin se beneficiará, nos próximos dois anos, da vitória conseguida pelos conservadores no Congresso americano. (IF)
Governistas em perigo
Tanto nas eleições para o Congresso, quanto para os governos estaduais, as previsões não são nem um pouco animadoras para os democratas. As derrotas no pleito de outubro podem determinar o início do fracasso de Obama em 2012.
; Câmara dos Deputados
435 assentos no total, todos estão em jogo nestas eleições
; Situação atual
253
Democratas
178
Republicanos
; Previsão
190
Democratas
207
Republicanos
38
Indecisos
; Senado
100 assentos no total, dos quais apenas 37 serão disputados
; Situação atual
59
Democratas
41
Republicanos
; Previsão
48
Democratas
46
Republicanos
6
Indecisos
; Governos estaduais
Das 50 unidades da Federação, 38 estarão em disputa
; Situação hoje
26
Democratas
23
Republicanos
1
Independente
; Previsão
15
Democratas
27
Republicanos
8
Indecisos