Agência France-Presse
postado em 05/10/2010 15:24
Roma - A decisão de atribuir o Prêmio Nobel de Medicina ao pai dos bebês de proveta, o britânico Robert Edwards, ainda suscitava críticas do mundo católico nesta terça-feira (5/10), dia seguinte à desaprovação manifestada por uma autoridade do Vaticano."Conceder o prêmio a Edwards é uma decisão populista" que não levou em consideração a dimensão ética, declarou à AFP Luciano Romano, presidente da Associação Ciência e Vida, uma organização católica com sede em Roma.
A assessoria de imprensa do Vaticano divulgou um comunicado da Federação Internacional das Associações Médicas Católicas (FIAMC) que expressa a "decepção" com a atribuição do Nobel ao pai da fecundação in vitro (FIV).
"Embora a FIV tenha trazido felicidade a vários casais que puderam conceber filhos com esta técnica, ela teve um custo enorme. O custo é ter desrespeitado a dignidade da pessoa humana", considera a federação.
Para esses médicos, essa técnica "criou uma cultura na qual (os embriões) são considerados meios úteis para que um fim seja alcançado, mais do que os preciosos seres humanos que eles são".
O jornal da influente conferência dos padres italianos, Avvenire, lamentou "uma oportunidade perdida", criticando o fato de o Comitê Nobel ter "reconhecido o valor de pesquisas sobre técnicas que representam a morte de embriões humanos" e não de pesquisas "menos midiáticas", como as relacionadas às doenças trissômicas.
O Comitê Nobel recompensou o professor Edwards, de 85 anos, "pelo desenvolvimento do tratamento da fecundação humana in vitro (FIV)", permitindo tratar "a esterilidade que afeta uma ampla proporção da Humanidade e mais de 10% dos casais no mundo".
O presidente da Academia Pontifícia para a Vida, Monsenhor Ignacio Carrasco de Paula, também criticou essa decisão nesta terça-feira à noite.
"Sem Edwards não existiriam congeladores em todo o mundo cheios de embriões que, no melhor dos casos, vão ser trasladados para úteros, mas que provavelmente serão abandonados ou morrerão. Desse problema é responsável o recém-premiado com o Nobel", acusou Carrasco de Paula.
O religioso foi designado em junho passado para dirigir a instituição do Vaticano encarregada dos problemas de biomedicina e da defesa da vida.
O Vaticano é um opositor ferrenho da fecundação in vitro, considerada "moralmente ilegal" em razão do "sacrifício de um número muito elevado de embriões", mas aceita desde o fim de 2008 a fecundação assistida.