postado em 06/10/2010 08:00
A pedido da Assembleia Nacional, que alegou ;falta de garantias; para retomar as atividades legislativas, o presidente do Equador, Rafael Correa, decidiu prorrogar até sexta-feira o estado de exceção decretado para enfrentar a rebelião de policiais, na última quinta-feira ; a medida expirava ontem. A decisão coincidiu com a divulgação, pela agência de notícias estatal Andes, de uma gravação que teria sido feita na central de rádio da polícia, e na qual se ouvem vozes de supostos agentes instigando o assassinato do presidente da República, então retido pelos revoltosos no Hospital de Polícia. ;Matem Correa para que isto acabe!”, é uma das declarações contidas na gravação de meia hora. ;Matem o presidente!”, insiste outra voz. ;Não deixem esse fdp sair! Até que assine (as exigências da polícia), daqui não sai! Senão, esse babaca sai morto;, diz outra passagem.Falando ao Correio por telefone, de Quito, o ministro da Defesa, Javier Ponce, ressaltou que a intenção de assassinar Correa ficou evidente, e relatou outro episódio, ocorrido quando uma unidade de elite resgatou o chefe de Estado. ;O veículo no qual eles (os amotinados) supunham que o presidente saía (do hospital) sofreu mais de seis disparos, o que demonstra que houve tentativa direta de assassiná-lo;, acusou o ministro. Por outro lado, o jornal El Comercio destacou que uma análise de peritos da promotoria de Pichincha (região de Quito) indicou que não havia marcas de bala no veículo usado por Correa.[SAIBAMAIS]
O presidente revelou ontem que está ;destroçado e deprimido; pela rebelião dos policiais. ;Para mim, isso não foi uma vitória política;, disse em entrevista à rádio colombiana RCN. Apesar da tristeza pelo violento incidente de quinta-feira, o episódio rendeu a Correa um aumento de brusco de popularidade. Uma pesquisa divulgada pela empresa Santiago Pérez (SP), ligada ao governo, demonstrou que o apoio passou de 65% para 75%. A sondagem também revela que 74% dos entrevistados rejeitaram ;os policiais que tomaram o regimento;, contra 19% que os apoiaram. Dos 1.790 entrevistados, a consulta também indicou que 68% acreditam que os militares ;tiveram um bom desempenho; ao entrar no hospital para resgatar o presidente, enquanto 20% criticaram a ação.
Aumento
Protegida pelos militares enquanto durar o estado de exceção, a Assembleia Nacional iniciaria ontem o debate sobre uma polêmica lei de finanças públicas, defendida por Correa como imprescindível para favorecer a recuperação econômica. Por outro lado, uma semana depois de aprovar uma lei para eliminar bônus e gratificações de militares e policiais ; a Lei do Serviço Público foi o estopim da rebelião, que o governo classifica como tentativa de golpe de Estado ;, o governo de Correa anunciou um aumento nos salários de militares e oficiais. Ponce e o ministro do Interior, Gustavo Jalkh, prometeram elevar os vencimentos para majores, capitães e suboficiais. Segundo o jornal El Comercio, os aumentos variarão entre US$ 400 e US$ 500 (cerca de R$ 680 e R$ 850). ;Um capitão, que ganha US$ 1,6 mil, passará a receber US$ 2,1 mil;, destaca o diário.
O ministro equatoriano Javier Ponce destaca seu parecer sobre a situação atual no Equador depois da suposta tentativa de golpe de Estado (em espanhol)
O ministro da Defesa garantiu à reportagem que a medida não foi uma maneira de ceder disfarçadamente às ameaças dos policiais, mas se tratou apenas de ;uma correção; planejada anteriormente. Já o ex-assessor de modernização da polícia, Alfredo Paredes, acredita que o gesto deve atenuar o mal-estar entre o governo e a força pública. Policiais consultados pelo jornal equatoriano garantiram que a corporação já vinha pedindo ao Executivo para respeitar seus benefícios, antes da revolta. ;Estamos seguros de que a luta é o único caminho para fazer esses medíocres (os politicos) nos entenderem;, teria dito uma fonte.