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China alerta sobre Nobel da Paz para dissidente condenado a 11 anos

Condenado a 11 anos, o escritor Li Xiaobo divide favoritismo com a ativista Sima Samar

postado em 08/10/2010 08:00

A voz contra a censura na China e o fim da ditadura das burcas estão entre as ações mais cotadas para ganhar o Nobel da Paz. O nome do laureado é mantido trancado a sete chaves e só será conhecido pelo público às 11h de hoje em Oslo (6h em Brasília). No entanto, a simples indicação do dissidente e escritor chinês Liu Xiaobo, condenado a 11 anos de prisão pelo crime de subversão, foi o bastante para despertar a ira de Pequim. Xia Liu, mulher do ativista, alertou à agência Reuters que o governo da China fará o possível para impedir a homenagem. ;O Partido Comunista usará todos os métodos para bloquear o prêmio ou qualquer coisa que possa ferir o partido. Eles vão usar dinheiro e poder para fazer com que os outros os apoiem;, adverte.

Condenado a 11 anos, o escritor Li Xiaobo divide favoritismo com a ativista Sima SamarXiaobo foi detido em 8 de dezembro de 2008, após trabalhar na Carta 08, um documento assinado por 303 cidadãos chineses. O texto apelava por uma ampla reforma política, pelo aumento da proteção aos direitos humanos e por uma democracia genuína na China. No último dia 28, o diretor do Instituto Nobel Norueguês, Geir Lundestad, admitiu que o vice-chanceler chinês, Fu Ying, alertou que a concessão do prêmio a Xiaobo colocaria em perigo as relações entre Pequim e Oslo. ;Tal decisão será vista como um ato de inimizade;, advertiu Ying.

Por e-mail, Kristian B. Harpviken, diretor do Instituto de Pesquisa da Paz (Prio, pela sigla em inglês), afirmou ao Correio que não crê no Nobel para Xiaobo. Apesar de considerá-lo um candidato ;sempre forte;, o especialista norueguês aposta que o Comitê Nobel vai priorizar a agenda atual. ;Estou convencido de que o órgão buscará sincronizar o prêmio com questões políticas recentes, para causar impacto. O Nobel para Xiaobo ou outro dissidente teria sido mais razoável em 2008, após os Jogos Olímpicos de Pequim;, admite.

Harpviken acha que o Comitê Nobel escolherá um candidato menos conhecido, a fim de manter seu status de prêmio mais prestigioso do mundo e destoar do ano passado, quando contemplou o presidente norte-americano, Barack Obama. ;Minha candidata principal é a afegã Sima Samar, ativista de direitos das mulheres e chefe da Comissão Independente de Direitos Humanos do Afeganistão;, comentou. ;O segundo favorito é a Voz Democrática de Burma (atual Mianmar), um canal de TV e rádio que se baseia nas informações de repórteres instalados dentro do país e de sucursais no exílio;, aposta.

Outras especulações
As redes de TV norueguesas NRK e TV2 citam o ex-chanceler alemão Helmut Kohl e a União Europeia como possibilidades, ainda que não tenham sido citados nos últimos anos. Caso o Comitê Nobel escolha homenageá-los, o prêmio coincidiria com o 20; aniversário da reunificação da Alemanha.

Eu acho...
Xia Liu mostra a foto do marido, Liu Xiaobo, condenado por ;Um prêmio para Liu Xiaobo seria uma crítica severa ao governo chinês. E lançaria luz sobre a restrição à expressão, à representação política e aos direitos humanos. Espera-se que tal prêmio instigue forte reação de Pequim. Eu estou convencido de que o Comitê Nobel não quer usá-lo para recompensar um candidato por feitos no passado. Creio que priorizará alguém considerado uma promessa para o futuro. Por isso, a chance de Helmut Kohl é mínima. Por razões políticas, duvido da premiação à União Europeia.;
Kristian B. Harpviken, diretor do Instituto de Pesquisa da Paz (Prio)

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