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Liu Xiaobo, um intelectual preso por suas aspirações democráticas

Agência France-Presse
postado em 08/10/2010 15:26

EQUIM - Liu Xiaobo, que nesta sexta-feira (8/10) foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz 2010, é célebre intelectual e veterano da dissidência chinesa, preso por suas convicções democráticas.

Integrante do movimento democrático de Tiananmen, inimigo declarado do regime comunista, ele tem 54 anos e seu compromisso com a causa se estendeu ao longo de décadas, marcadas por duradouros períodos de detenção.

[SAIBAMAIS]Nas fotografias tiradas durante momentos de liberdade - sempre vigiados -, ele aparece bastante magro, com óculos de armação metálica e cabelo curto.

Em 1989, ao regressar dos Estados Unidos, onde deu aulas na Universidade de Columbia, em Nova York, o professor da Universidade Normal de Pequim, muito crítico em relação aos valores tradicionais chineses sobre a obediência ao poder, participou do movimento democrático da praça de Tiananmen, desencadeado pelos estudantes.

Frente ao endurecimento do regime, iniciou uma greve de fome na célebre esplanada de Pequim, na companhia do cantor Hou Dejian e de outros dois intelectuais, Zhou Duo e Gao Xin.

"Preferimos ter dez diabos que se controlam mutuamente do que um anjo que dispõe do poder absoluto", escreveram em uma declaração pública, na qual também criticam alguns estudantes que esqueceram os ideais democráticos de sua luta.

Na madrugada de 4 de junho, quando o exército tentou dispersar os manifestantes que ocupavam a Praça Celestial, o grupo se ofereceu para fazer a mediação e obter uma retirada pacífica.

Detido depois da violenta repressão ao movimento, o opositor passou um ano e meio na prisão sem jamais ter sido condenado.

O vencedor do Nobel novamente teve problemas com o regime e foi enviado para um campo de "reeducação pelo trabalho" entre 1996 e 1999. Na ocasião, ele reivindicou uma reforma política e a libertação das pessoas ainda presas por participação no movimento de junho de 1989.

Excluído pela Universidade, tornou-se integrante do Centro Independente Pen China, um grupo de escritores. Manteve contato íntimo com o mundo intelectual. Censurado na China, seus livros são publicados em Hong Kong.

Subversão

Por ocasião do 60; aniversário da Declaração dos Direitos Humanos, foi um dos autores da Carta 2008, texto que pede respeito aos Direitos Humanos e à liberdade de expressão e a convocação de eleições num "país livre, democrático e constitucional".

Isso o fez ser condenado, no dia de Natal de 2009, a 11 anos de prisão por "subversão do poder do Estado". A sentença foi confirmada por um tribunal de apelação.

Em uma de suas últimas entrevistas, Liu, casado e sem filhos, assegurou que mantinha a esperança. "Vamos avançar muito lentamente, mas não será fácil conter as demandas de liberdade tanto das pessoas comuns como dos membros do Partido (Comunista)", afirmou Liu.

Segundo Liu Xiaobo, que não nega os avanços na sociedade chinesa desde 1989, o Partido Comunista se verá obrigado a se abrir cada vez mais, sob a pressão da população, cansada das mentiras oficiais. Xiaobo sempre se negou a escrever com pseudônimo.

Mais de 120 universitários, escritores e advogados, majoritariamente chineses, lançaram um apelo na internet para que o Nobel fosse dado a ele. Pequim declarou-se oficialmente contrári ao reconhecimento, ao afirmar que Liu "violou as leis chinesas".

A petição circulou depois de um chamamento neste sentido do ex-presidente tcheco Vaclav Havel e de outros líderes da "revolução de veludo" de 1989.

A Carta 08 se inspirava na Carta 77, manifesto assinado em 1977 por 240 intelectuais, incluindo Havel, pela democratização da Tchecoslováquia comunista.

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