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"Não sou santo", diz Mandela em novo livro

Agência France-Presse
postado em 10/10/2010 12:19
JOHANNESBURGO - Uma nova compilação de documentos e registros pessoais de Nelson Mandela revela a dor que ele sentia na prisão por estar longe da família. Os textos refereM-se às quase três décadas em que foi mantido prisioneiro pelo regime do apartheid.

Trechos de Conversas comigo mesmo, que será lançado na próxima terça-feira, foram publicados em jornais sul-africanos e britânicos neste domingo. Na obra, Mandela aborda todo tipo de assunto, dos perigos da corrupção no poder à profunda tristeza que sentiu pela morte do filho.

São décadas de cartas, diários e gravações pessoais, reunidas e organizadas por sua fundação em um projeto cuja principal meta é mostrar o homem por trás do ícone global.

Aos 92 anos, o homem que recebeu o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços contra o regime segragacionista sul-africano diz que não quer ser lembrado como um santo acima do bem e do mal.

"Uma coisa que me preocupava profudamente na prisão era a imagem falsa que eu inadvertidamente projetei para o mundo. Era ser considerado um santo", revela um trecho do livro, publicado no Sunday Times sul-africano.

"Nunca fui um santo, mesmo se baseado na definição terrena de um santo como um pecador que continua tentando", acrescenta.

Libertado em 1990, Mandela liderou as negociações com o governo que culminaram em sua eleição como o primeiro presidente negro da história do país, em 1994. Ele deixou o poder em 1999, depois de um mandato na presidência. Retirado da vida pública desde 2004, aparece pouco e aparenta fragilidade física.

O livro convida o leitor a uma reflexão mais ampla sobre sua vida, ao mesmo tempo em que foca no enorme sacrifício pessoal cobrado por sua devoção à luta pelo fim do apartheid. "Quando jovem, eu reunia todas as fraquezas, erros e indiscrições de um garoto do interior, cuja visão e experiência eram influenciados principalmente por eventos na região onde cresci e os colégios onde estudei", escreve Mandela.

Em cartas escritas na prisão para a família, Mandela dizia sentir-se impotente por não poder ajudar a mulher, Winnie, e os filhos. Quando Winnie também foi presa, em 1969, ele escreveu para as filhas Zeni e Zindi, na época com 9 e 10 anos: "agora, mamãe e papai estão na prisão. Pode ser que passem meses ou mesmo anos até que vocês a vejam de novo. Talvez vocês vivam como órfãs, sem a casa e os pais, sem o amor natural, o carinho e a proteção que mamãe dava a vocês".

Mandela não deve comentar sobre o livro. Sua última aparição pública foi em julho, durante a final da Copa do Mundo da África do Sul, em Johanesburgo.

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