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Após visitar marido, mulher de Xiaobo fica sob prisão domiciliar

Escritor chorou ao saber de prêmio no sábado, por meio de autoridades

postado em 11/10/2010 08:10
Logo depois de visitar o marido, o escritor Liu Xiaobo, na penitenciária de Jinzhou ; a 500km de Pequim ;, a poetisa Liu Xia foi escoltada até seu apartamento, na capital, e colocada em prisão domiciliar. Desde sexta-feira, Xia tentava informar a Liu sobre a conquista do Nobel da Paz. No entanto, o encontro só ocorreu ontem, depois de um acordo com o governo. Já em casa, ela anunciou na página do microblog Twitter que o marido já sabia da premiação antes mesmo do encontro dos dois. Fontes governamentais haviam lhe contado sobre a láurea por volta das 9h de sábado (21h de sexta-feira, em Brasília). Liu teria chorado muito e dedicado o prêmio a todas as vítimas do Massacre da Praça da Paz Celestial, ocorrido em 1989.

A detenção de Liu Xia não foi confirmada por fontes oficiais chinesas. Ela não recebeu acusação formal. Segundo entidades de defesa dos direitos humanos, as autoridades tentam impedir que a poetisa se manifeste sobre o assunto e atraia ainda mais atenção para o caso. Em entrevista ao Correio, Yu Zhang, da organização não governamental Independent Chinese PEN Center, revelou que ela está sendo escoltada continuamente. ;Ela foi isolada em casa. Há uma dúzia de agentes na frente do edifício onde mora. Liu tem permissão para sair, mas apenas acompanhada por policiais;, contou. Por enquanto, existem poucas informações sobre o encontro com Liu. ;Ela não fala muito sobre a reunião, disse apenas que Xiaobo foi informado sobre o prêmio ainda no sábado, e que ele chorava;, relatou. Apesar de ter permissão de utilizar a internet, Liu está proibida de receber amigos e jornalistas. Yu afirmou que policiais destruíram o celular da poetisa.

Irredutível
Para analistas, a situação do casal não deve ser rapidamente resolvida. Para o pesquisador de Centro Brasileiro de Estudos da China, Carlos Pennaforte, Pequim tradicionalmente não cede a pressões internacionais. ;Quanto mais mensagens de condenação da prisão de Liu Xiaobo e de Liu Xia vierem do exterior, mais irredutível o governo chinês deve ficar;, opina. Em março passado, um manifesto de intelectuais de todo o mundo pedia a libertação do dissidente. ;A única atitude do governo foi reforçar o controle, excluindo as notícias referentes a esta questão e ordenando que se montasse um perímetro de segurança em Jinzhou;, explica Dora Martins, pesquisadora da Associação Europeia de Estudos Chineses.

Para os analistas, a libertação do casal só pode ocorrer depois de uma série de negociações. ;O Brasil, inclusive, pode ser um mediador nessa questão. O país e outras nações que a China considera como potências amigas podem dialogar sobre a soltura dos dois. Mas, a curto prazo, nada deve surtir efeito;, afirma Pennaforte. ;Iniciativas como as de Liu Xiaobo e de outros intelectuais chineses têm pouca influência numa possível reforma democrática. A história da China é profícua em movimentos sociais capazes de derrubar dinastias, mas somente quando estes movimentos puderam se estender a todo o país. O governo chinês tem conseguido ;dividir para reinar;. Resta saber até quando;, completa Dora.

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