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Presidente do Chile visita mineiros em hospital e comete gafe

postado em 15/10/2010 08:00

;Puro, Chile, es tu cielo azulado, puras brisas te cruzan también, y tu campo de flores bordado es la copia feliz del Edén.; Cerca de 12 horas após entoar com euforia a letra do hino nacional chileno, à boca do túnel de 622m de profundidade da mina de San José, o presidente Sebastián Piñera continuou a capitalizar prestígio político e popularidade por sua atuação no resgate dos 33 soterrados. Às 10h30 desta quinta-feira (14/10), o mandatário visitou o Hospital Regional de Copiapó, a 801km de Santiago. Mais uma vez, abraçou e apertou a mão de cada um dos mineiros. O encontro terminou em uma histórica sessão de fotografias, na qual os sobreviventes de San José esbanjaram bom humor.

Presidente Sebastián Piñera visita os 33 mineiros no hospital e comete gafe. Sobrevivente relata a vida a 622m de profundidadePiñera embarcou no clima dos ilustres pacientes e brincou com os jornalistas, ao revelar os detalhes da reunião. ;Convidamos os 33 mineiros e suas famílias para que, no próximo dia 25, sejam recebidos na casa de todos, que é o (Palácio) La Moneda;, afirmou. Segundo ele, na ocasião será realizada uma partida de futebol entre ;a seleção; dos 33 e a dos funcionários do La Moneda. ;Mas não é apenas uma partida. Fizemos um compromisso. A equipe que ganhar ficará no La Moneda e a que perder voltará para a mina;, acrescentou o presidente, sem se dar conta da gafe.

Durante a entrevista, Piñera também falou sério. Prometeu modificar a legislação trabalhista do Chile e prevenir novas tragédias. ;Ninguém pode garantir que não haja mais acidentes em nosso país. Mas podemos assegurar que nunca mais permitiremos que se trabalhe em condições tão inseguras e tão desumanas como na mina de San José e em muitos outros lugares;, declarou, de acordo com o jornal La Tercera. O chefe de Estado revelou que, nos próximos dias, anunciará um ;novo trato; com os trabalhadores chilenos, priorizando o respeito à vida, a segurança, a dignidade e a saúde;. ;Vamos revisar a legislação trabalhista, modificar muitos procedimentos e padrões;, emendou Piñera. Chegou a usar o termo ;trabalho desumano; ao referir-se à atividade em algumas mineradoras. E confirmou que o custo da operação de resgate flutua entre US$ 10 milhões e US$ 20 milhões. ;O importante é que cada peso valeu a pena;, comentou Piñera.

Ouça as entrevistas com Álvaro Villarroel e Alberto Segovia

O primeiro dia dos chamados ;heróis do Chile; surpreendeu até os médicos. Eles leram jornais chilenos e do exterior ; dos quais foram destaque ; e receberam a visita de familiares. Sem revelar nomes, Jorge Montes, subdiretor do Hospital Regional de Copiapó, afirmou que três dos mineiros receberiam alta ontem mesmo. Um amigo da família confirmou à reportagem que Carlos Barrios Contreras, 27 anos, seria um deles. ;Eles passaram bem à noite, estão felizes e não vemos nenhum problema do ponto de vista psicológico ou médico. (;) Eventualmente, todos podem apresentar um estresse pós-traumático;, observou Montes. De acordo com o especialista, um dos resgatados foi diagnosticado com pneumonia aguda, mas reage ;notavelmente; ao tratamento com antibióticos. Alberto Segovia, irmão do mineiro Darío Segovia, 48 anos, admitiu ao Correio que o paciente em questão é Mario Gómez, 63 anos, o mais velho do grupo.

Inferno
O operário preparava-se para visitar Darío às 19h desta quinta-feira (14/10). ;Meu irmão está superbem. Saiu reclamando de um pouco de dor de dente, mas física e psicologicamente parece muito bem e animado;, relatou. Por ter ficado 17 dias sem poder fazer a higiene bucal, Darío contraiu uma infecção. ;Ele deve ter alta amanhã (hoje). Após receber uma nova dentadura, não terá mais qualquer problema;, comentou Alberto. Questionado sobre as primeiras conversas com o irmão, ele contou: ;Darío disse que foi uma experiência muito feia e que os primeiros dias foram muito duros;. ;Eles tiveram que alimentar-se muito pouco, tomar água contaminada e não puderam beber leite, que estava vencido;, concluiu. Outros dois mineiros ; o boliviano Carlos Mamani e o chileno José Ojeda ; se recuperavam ontem de uma cirurgia dentária.


Ouça entrevista com Alberto Segovia


Também por telefone, Álvaro Villarroel, 28 anos, contou que o irmão Richard, 23, está ;bem de saúde;. ;Ele está fazendo exames protocolares e deve sair do hospital neste sábado. Está bem, animado e gordinho;, comemorou. ;Ele saiu muito emocionado da cápsula Fênix 2, estava ansioso demais para voltar à superfície.; Richard comentou à televisão TVN a solidariedade entre os colegas, presos por 70 dias a 700m de profundidade. ;Se um estava mal, o companheiro ao lado lhe dava a mão;, disse. Ele revelou que todas as decisões no interior da mina eram tomadas por votação e que eles queimavam pneus, na esperança que a fumaça saísse por uma chaminé de ventilação e os ajudasse a serem localizados. ;A comida foi sendo dada em porções curtas, coisa que durasse. A água, da mesma forma;, lembra. Ele destacou ainda que o personagem-chave da mina foi José Henríquez, 54 anos. ;Henríquez, a quem chamam ;o pastor;, foi o homem-chave para nos unir todos os dias;, comentou, referindo-se à profunda fé religiosa do colega.

Claudio Yañez, 34 anos, seria outro mineiro a retornar para casa ontem, segundo a agência de notícias France-Presse. ;Ele está muito bem. Está super, não tem nada, nenhum problema;, disse Cristina Nuñez, que prometeu receber o marido ;com uma comidinha;. A expectativa era de que alguns deles tirassem ainda hoje os óculos especiais e voltassem a assistir à TV.

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