Mundo

Bélgica entra em crise após mais um fracasso para formação de governo

Agência France-Presse
postado em 18/10/2010 12:29
Bruxelas - A Bélgica voltou a temer nesta segunda-feira (18/10) a possibilidade de uma nova eleição antecipada, que seria de alto risco para o futuro da unidade do país, após mais um fracasso nas negociações entre flamengos e valões francófonos para a formação de um governo.

"Mais do que nunca, há um beco sem saída", adverte o jornal de língua francesa Le Soir, depois que os partidos valões rejeitaram nesse domingo a última proposta de compromisso apresentada pelo líder dos separatistas flamengos, Bart de Wever.

Os três partidos valões, que negociam há quatro meses com quatro partidos flamengos a formação de um Executivo, chamaram de "parciais" e "beirando a provocação" os pedidos de Wever, o último político encarregado pelo rei Alberto II para encontrar uma saída à crise política.

"Acabou a função", sentenciou Wever, antes de afirmar que está "decepcionado" com a rejeição dos valões a proposta, baseada em uma reforma do Estado belga que prevê mais autonomia regional, almejada por Flandres, próspero território do norte, contra a empobrecida Valônia (sul).

Bart de Wever afirmou que a proposta era a última oportunidade para alcançar um compromisso. Ele é uma figura chave das negociações depois que o partido, o N-VA, obteve uma vitória histórica em Flandres nas últimas eleições antecipadas, em 13 de junho.

Na Bélgica, cada comunidade vota nos partidos, que depois têm que formar um governo nacional. Na Valônia, os socialistas francófonos venceram a votação.

Alberto II receberá o líder separatista ainda nesta segunda-feira. A reunião servirá para constatar o fracasso das negociações; o que vai ocorrer posteriormente é uma incógnita.

A convocação de novas eleições é uma possibilidade, mas os belgas duvidam que comparecer às urnas mais uma vez possa aproximar posições entre as duas comunidades.

Para o jornal flamengo De Standaard, é praticamente inevitável a celebração de eleições legislativas, que seriam as terceiras desde 2007, mas a votação apenas vai dificultar ainda mais a solução, destaca a publicação.

"Não acredito que novas eleições resolverão problema, já que, segundo as pesquisas, confirmarão os vencedores da votação anterior", opina o cientista político francófono Jean Benoit Pilet.

De Wever propôs em seu programa de governo que no futuro as regiões concentrassem mais poderes e pudessem arrecadar até 45% dos impostos sobre as pessoas físicas, o que abriria o caminho para uma concorrência entre Flandres e Valônia, o que provocou os temores de perdas para a segunda.

Também previa a cisão da última demarcação bilingue da Bélgica, situada nos arredores de Bruxelas, suprimindo os direitos linguísticos de dezenas de milhares de francófonos na maioria das comunas.

A Bélgica, um jovem país fundado em 1830, está em crise institucional desde meados de 2007. O problema se aprofundou com as divergências cada vez mais irreconciliáveis entre as duas principais comunidades do Estado.

O reino é governado por um Executivo interino, que renunciou em bloco em abril. O primeiro-ministro, o democrata-cristão flamengo Yves Leterme, teve que apresentar o pedido de renúncia três vezes desde 2007.

Além de governar o país, o gabinete demissionário ocupa no atual semestre a presidência rotativa da União Europeia (UE).

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação