postado em 19/10/2010 07:40
No momento em que a Europa acompanha, em alerta, o aumento das ameaças de ataques terroristas ao continente, os líderes de França, Alemanha e Rússia reuniram-se no balneário francês de Deauville para discutir formas de garantir a segurança coletiva. Apesar da meta comum, o presidente russo, Dmitri Medvedev, aparentemente chegou ao encontro com objetivos diferentes dos fixados pelo colega francês, Nicolas Sarkozy, e pela chanceler (chefe de governo) alemã, Angela Merkel. Enquanto os dois querem mais cooperação de Moscou com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Medvedev está mais interessado em delinear os pontos de um novo acordo de segurança europeu, do qual pretende fazer parte.Segundo o Kremlin, o presidente russo quer criar um Comitê de Política Externa e Segurança entre Rússia e União Europeia (UE), que seria um ;espaço democrático de segurança igual e indivisível na região Euroatlântica e da Eurásia;. Ele ainda espera receber uma ;resposta global digna; a suas propostas para um novo acordo de segurança europeu. As diplomacias francesa e alemã, contudo, não têm visto a questão como prioridade. Enquanto um alto funcionário alemão disse ser ;mais importante intensificar a cooperação; entre a UE e Moscou, um francês garantiu que seu governo não vê a proposição russa como ;o objetivo principal;.
Em uma entrevista coletiva antes da chegada de Medvedev, Merkel afirmou que a Rússia é um parceiro estratégico da Europa desde o fim da Guerra Fria. ;Se desenvolvemos a confiança entre nós, poderemos desenvolver juntos essa estratégia para enfrentar as ameaças, pois estamos no mesmo barco;, declarou, destacando que há ;convergências; entre os dois lados na análise das grandes ameaças atuais. No sábado, Merkel já havia afirmado que era hora de a Rússia e a Otan aumentarem a cooperação, já que a Guerra Fria ficou para trás há 20 anos. ;O Pacto de Varsóvia está acabado. A União Soviética é passado. Portanto, os russos são nossos amigos;, reforçou ontem o anfitrião, Sarkozy. A ideia dos dois é mostrar, na reunião que termina hoje, que todos estão do mesmo lado.
O encontro dos três ; que ocorre um mês antes da Cúpula da Otan, em Lisboa, onde será discutida a nova doutrina estratégica do bloco ; não agradou a outros membros da organização. Alguns países do antigo bloco socialista do Leste Europeu não gostaram de ser excluídos do debate, e temem que sua própria segurança não seja considerada nas conversas com Moscou. Em relação a isso, os governos francês e alemão sustentam que a Rússia tem se mostrado ;disposta; a cooperar com o Ocidente, ao assinar o novo tratado de redução de armas nucleares com os Estados Unidos e apoiar as recentes sanções contra o Irã.
Para o presidente da Universidade Americana em Moscou, Edward Lozansky, ;quanto mais cedo a Rússia se tornar parte integrante da estrutura europeia de segurança, melhor para todos, incluindo os Estados Unidos;. Na avaliação de Lozansky, ;é hora de o Ocidente e a Rússia pararem com os jogos políticos que não dão em nada;.
Enquanto os três líderes se reuniam, novos alertas sobre ameaças terroristas soaram na França. O ministro do Interior, Brice Hortefeux, disse que seu governo foi alertado pelos serviços de inteligência da Arábia Saudita sobre uma ameaça ;genuína; da Al-Qaeda ao continente europeu, ;especialmente à França;. ;Não se trata de superestimar ou subestimar a ameaça. Estou indicando, com base nesses elementos, que a ameaça é real;, afirmou Hortefeux a uma rádio francesa.
<--[if gte mso 9]>
Antes de embarcar para a França, o presidente Dmitri Medvedev condecorou com ;as mais altas medalhas do país; os espiões russos expulsos em julho dos EUA. Especula-se que entre os homenageados estejam os 10 enviados a Moscou em troca da libertação de quatro prisioneiros russos acusados de espionagem para o Ocidente. A espiã que ganhou mais destaque na imprensa mundial foi Anna Chapman, ruiva insinuante de 28 anos que tinha nacionalidade britânica graças a um casamento terminado meses antes de desembarcar em Nova York. À época, os jornais russos ironizaram a falta de discrição dos agentes, que trocavam visitas com frequência, falavam inglês com sotaque russo e utilizavam recursos como o código Morse e a ;tinta invisível;.
<--[if gte mso 9]>
Ensaio de parceria
Criada em 1949 para fazer frente justamente à atuação militar do bloco soviético, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) tem ensaiado, desde o fim da Guerra Fria, uma aproximação com os russos. Em 1994, Moscou aderiu ao programa Parceria para a Paz, que abriu a porta para a cooperação com países que não faziam parte da organização. Mas foi em 2002 que a distensão se tornou mais real, com a criação de um Conselho Rússia-Otan, concebido em grande parte para ajudar no combate ao terrorismo e nas ações lideradas pelos Estados Unidos no Afeganistão.
Dois anos depois, Moscou e Otan assinaram um Plano de Ação Conjunta sobre Terrorismo, no qual se comprometem a prevenir, combater e gerenciar as consequências de atos terroristas. Segundo o texto, o conselho deve contribuir de ;maneira ainda mais direta e substancial; à luta contra o terror, com ;metas e medidas pragmáticas;. Apesar das demonstrações de boa vontade dos dois lados, conflitos de interesse em diversos temas nunca permitiram uma total integração entre Rússia e os membros da Otan. Em 2008, por exemplo, a invasão da Geórgia pelos russos expôs as brechas que existem entre as posições da organização ocidental e de Moscou.
Um dos temas mais polêmicos se refere ao projeto do governo de George W. Bush de instalar um sistema antimísseis no Leste Europeu. O Kremlin teme que o escudo se torne uma base de ataque contra seu país. Washington justifica o sistema como uma defesa para toda a Europa ante um possível ataque vindo de países como o Irã.