postado em 19/10/2010 07:45
O governo de Barack Obama alega ter em mãos uma "lista significativa" de empresas chinesas que estariam ignorando o último pacote de sanções aprovado em junho contra o Irã pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Um funcionário graduado, falando reservadamente ao jornal The Washington Post, revelou que a preocupação se concentra sobre o fornecimento de material e tecnologias sensíveis para uso em programas militares, em especial no desenvolvimento de mísseis capazes de carregar ogivas atômicas. Embora ressalve que Washington não acredita que as operações sejam autorizadas pelo regime de Pequim, a reportagem diz que o tema está sendo tratado com discrição, mas nem por isso sem rigor."Meu governo vai investigar essas questões levantadas pela parte americana", disse ao Post o porta-voz da embaixada chinesa em Washington, Wang Baodong. Segundo o jornal, o tema teria sido tratado no mês passado, em Pequim, por uma delegação chefiada pelo assessor especial do Departamento de Estado dos EUA para assuntos de não proliferação, Robert Einhorn. A preocupação frequentou também audiências recentes no Congresso, onde o embaixador chinês, Xie Feng, foi advertido das consequências disso para as relações bilaterais. "Disseram a ele que, se quisesse ver democratas e republicanos unidos, o assunto seriam justamente as transações entre a China e o Irã", revelou ao Post um participante da sessão.
Desde a aprovação da quarta rodada de sanções da ONU contra o regime islâmico, com o voto unânime dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança - entre eles a China -, o governo Obama se empenha em construir uma frente internacional contra o programa nuclear americano. Washington ganhou a adesão da União Europeia (UE) a um pacote unilateral, previsto como opcional pela resolução do conselho, que inibe negócios com Teerã e proíbe transações com uma série de instituições financeiras acusadas de servir clandestinamente ao projeto da bomba atômica. Os EUA decidiram punir empresas de terceiros países que invistam mais de US$ 20 milhões no setor energético iraniano, e com isso forçou a gigante japonesa Inpex a deixar o país.
"A China, atualmente, é o único país com uma indústria de petróleo e gás de grande porte que ainda se dispõe a fazer negócios com o Irã", disse ao Post o ato funcionário que falou sobre a missão de Einhorn em Pequim. "Todos os demais já saíram, eles (os iranianos) ficaram sozinhos." De acordo com a reportagem, os serviços de inteligência dos EUA teriam detectado que empresas e bancos chineses teriam continuado a fornecer tecnologias, material e equipamentos de possível uso em programas militares, mesmo depois da última rodada de sanções.
De toda maneira, até aqui, Washington procura equilibrar-se entre a pressão necessária sobre Pequim e os cuidados para manter a cooperação em outros assuntos delicados, como a subvalorização da moeda chinesa e a instabilidade na Coreia do Norte, cuja ditadura comunista detém armas nucleares. "China vem avançando no estabelecimento de um controle sobre suas exportações, mas uma coisa é um sistema que parece bom nos manuais, e outra é o sistema funcionar realmente na hora de ser colocado em prática", diz o alto funcionário ouvido pelo Post.
EM BUSCA DE APOIO
O primeiro-ministro iraquiano, Nuri Al-Maliki, foi a Teerã buscar apoio das mais altas autoridades do regime islâmico para a coalizão que tenta montar para se manter à frente do governo, embora seu partido não tenha sido o vencedor das eleições de maio. Al-Maliki foi recebido pelo presidente Mahmud Ahmadinejad e pelo líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei (à direita na foto). O Irã tem grande influência entre os iraquianos da comunidade xiita, majoritários em ambos os países.