Agência France-Presse
postado em 20/10/2010 12:29
PARIS - Cada vez mais, as mulheres são vítimas da violência sexual, incluindo o estupro, que é usado como arma de guerra e como meio para resolver conflitos em alguns países. A informação consta em relatório da ONU, publicado nesta quarta-feira (20/10)."As mulheres raramente fazem a guerra, mas com muita frequência sofrem as piores consequências delas. A violência sexual, incluindo o estupro, constitui uma arma de guerra repugnante e cada vez mais utilizada", denunciou o Fundo das Nações Unidas para as Populações (UNFPA), em seu informe anual sobre as populações.
O relatório destaca que o "balanço imediato (dessas violências) vai além das vítimas diretas, rompendo famílias impiedosamente e fragmentando as sociedades por gerações".
A publicação do informe coincide com o 10; aniversário, no dia 30 de outubro, da adoção da resolução 1325 do Conselho de Segurança da ONU, que impunha o fim da violência sexual contra mulheres e meninas durante os conflitos armados.
No leste da República Democrática do Congo (RDC), mais de 15 mil mulheres e meninas foram estupradas em 2009, tanto por insurgentes quanto pelas tropas do governo, segundo Roger Meece, representante da ONU no país.
A diretora executiva do UNFPA, Thoraya Ahmed Obaid, indicou que, embora os conflitos e catástrofes agravem as desigualdades entre homens e mulheres, "a reconstrução apresenta uma oportunidade única, de corrigir as desigualdades, de garantir uma proteção jurídica igual ou de criar o espaço necessário para uma mudança positiva".
O relatório 2010 é baseado nos relatos de pessoas afetadas pelos conflitos, além do número de vítimas de um desastre mundial ou de uma catástrofe natural na Bósnia Herzegovina, no Haiti, Iraque, na Jordânia, Libéria, Uganda e nos Territórios palestinos.
Quinze anos depois do fim da guerra na Bósnia, "muitas mulheres estupradas durante o conflito ainda estão traumatizadas. Por temerem que a violência que sofreram venha a público, elas são incapazes de funcionar em sociedade", exemplifica o documento.
"Para as mulheres afetadas pela guerra, uma justiça adiada é pior que uma justiça negada: é um terror permanente", afirmou Margot Wallstrom, representante do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, sobre a violência sexual nos conflitos. "A primeira das prioridades é lutar contra o círculo vicioso da impunidade", finalizou.