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Em Cuba, Fariñas recebe o Prêmio Sakharov como um apelo à liberdade

Agência France-Presse
postado em 21/10/2010 13:47

SANTA CLARA - Muito magro e ainda mostrando dificuldade para andar, devido às sequelas de 23 greves de fome, o opositor cubano Guillermo Fariñas dedicou o Prêmio Sakharov, que lhe foi concedido nesta quinta-feira pelo Parlamento Europeu, aos "lutadores pela democracia" em Cuba.

[SAIBAMAIS]"O parlamento europeu está enviando mensagem aos governantes cubanos de que já é hora de vigorar a democracia e a liberdade de consciência e expressão em Cuba", disse o dissidente, em sua casa na cidade de Santa Clara, localizada 270 km a leste de Havana.

Sentado em frente ao andador de metal, de pijama e sem camisa, o homem de 48 anos não parava desde cedo de atender o telefone, depois que uma chamada de Estrasburgo anunciou a concessão do Prêmio Sakharov 2010 de liberdade de consciência.

"Não é um prêmio a Guillermo Fariñas, mas a todo o povo cubano que há 50 anos luta para sair da ditadura; nós, os opositores pacíficos dentro de Cuba, somos o rosto mais visível", assim como os presos políticos e o exílio", acrescentou Fariñas.

Sua mãe, Alicia Hernández, uma enfermeira aposentada de 75 anos, defensora da revolução, e uma irmã acompanhavam-no na casa modesta no momento do anúncio de que era o terceiro opositor cubano a receber o Sakharov.

Opositores de Santa Clara chegavam em pequenos grupos para saudá-lo. No entanto, os vizinhos, alheios ao que ocorria, mergulhavam em seus afazeres e os que levavam crianças à escola apressavam o passo. "Não sei de nada", disse um transeunte, identificado como Juan Carlos Díaz.

Natural de Santa Clara, cidade que ficou ao lado de Ernesto Che Guevara numa batalha decisiva para a vitória de Fidel Castro, em 1 de janeiro de 1959, Fariñas fez parte das Tropas Especiais. Na década de 80, realizou missão militar em Angola. Ele se distanciou do Governo em 1989, quando se opôs ao fuzilamento do general Arnaldo Ochoa, acusado de narcotráfico.

Fariñas é o terceiro Prêmio Sakharov concedido à oposição cubana, depois de Oswaldo Payá em 2002 e das Damas de Branco, esposas de presos políticos, em 2005. O governo não as autorizou a viajar para receber a homenagem, em dezembro.

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