Agência France-Presse
postado em 21/10/2010 15:33
Varsóvia - A Igreja Católica polonesa trava uma luta contra a fertilização in vitro e ameaça com a "exclusão" dos deputados favoráveis à legalização, coincidindo com um debate no Parlamento nesta sexta-feira (22/10) de vários projetos de lei sobre bioética.Os deputados favoráveis à fertilização in (FIV) "ficam automaticamente fora da comunidade da Igreja", declarou em entrevista ao arcebispo Henryk Hoser, médico de formação e encarregado dos temas bioéticos no episcopado. "A concepção de uma criança deveria acontecer de forma natural", insistiu.
Em carta divulgada nessa segunda-feira aos líderes do país, os bispos denunciaram a prática por ser "a irmã mais nova da eugenia", uma técnica dedicada à melhoria das características genéticas dos humanos, usada sobretudo pelos nazistas.
"Comparar os médicos que praticam este método com os nazistas é um atentado contra a memória do Holocausto", rebateu o professor Slawomir Wolczynski, da Academia de Medicina de Bialystok (leste), primeiro centro a introduzir a fertilização in vitro na Polônia.
No passado, bispos poloneses já haviam comparado a FIV a "uma espécie de aborto refinado", uma vez que o método "leva à morte de vários embriões" em cada tentativa.
Em função da carta enviada ao presidente, ao premier e aos deputados, o porta-voz do governo, Pawel Gras, denunciou nessa terça-feira a "chantagem" da Igreja. "A Igreja tem o direito de opinar, mas nunca pensei que o faria de forma tão drástica", disse.
O líder do partido esquerdista SLD (oposição), Grzegorz Napieralski, acusou a Igreja de fazer o que puder para "bloquear" o trabalho legislativa.
O presidente liberal Bronislaw Komorowski, católico e pai de cinco filhos, pediu "um compromisso razoável", que respeite a sensibilidade cristã e a "de todos os numerosos casais que, com frequência de forma desesperada, buscam uma saída para ter um filho".
O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, disse nessa quarta-feira desejar que "os políticos, visto que são eleitos pelos cidadãos, respondam a estes últimos e não perante a hierarquia da Igreja".
Tusk se declarou favorável a um projeto de lei do partido liberal PO, que autoriza a FIV com o congelamento de embriões, contra outro projeto da formação que não a prevê e faz com que o método perca eficácia.
A Igreja considera o segundo projeto menos "nocivo" porque proíbe armazenar e, consequentemente, selecionar e destruir embriões que, segundo o Vaticano, são um ser humano desde a concepção.
O principal partido de oposição Direito e Justiça (PiS), de Jaroslaw Kaczynski, se opõe taxativamente à FIV e alguns dos deputados mais ultraconservadores querem, inclusive, que se puna com pena de prisão.
A esquerda propõe que a segurança social se encarregue da FIV, como acontece em vários países europeus.
Hoje em dia, o custo médio de uma fecundação in vitro chega a oito mil zlotys (dois mil euros), ou seja, mais de dois salários médios, e corre a cargo do casal.